Vídeo revela que Machado decidiu pôr Temer no rolo, mas sem acusá-lo. E momentos que embrulham o estômago

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 17/06/2016 12h21
Reprodução Ex-presidente da Transpetro Sergio Machado durante delação premiada - REP

É… Sérgio Machado parece mesmo disposto a causar. Ele resolveu rebater a fala do presidente Michel Temer, segundo o qual jamais existiu a conversa em que teria pedido dinheiro ilegal para o então presidente da Transpetro. Mas peço que vocês fiquem atentos.

Machado emitiu uma nota em que se lê:
“3) Naquele mesmo mês, estive na Base Aérea de Brasília com Michel Temer, que embarcava para São Paulo. Nos reunimos numa sala reservada;
4) Na conversa, o vice-presidente Michel Temer solicitou doação para a campanha eleitoral de Chalita;
5) O vice-presidente e todos os políticos citados sabiam que a solicitação seria repassada a um fornecedor da Transpetro, através de minha influência direta. Não fosse isso, ele teria procurado diretamente a empresa doadora”.

Observem que, em nenhum momento, ele deixa claro que o então vice estivesse pedindo dinheiro irregular. Ele presume que o outro soubesse — na hipótese, claro!, de que aquela conversa tenha existido, o que Temer nega.

Se o agora presidente quisesse acusar Machado de calúnia — isto é, de lhe ter imputado um ato criminoso —, não conseguiria. Digamos que a conversa tenha existido e que Temer tivesse dito ao suposto interlocutor: “Veja se você consegue uma doação para o Chalita”… Quem sugere que Temer sabia da origem ilícita é o próprio Machado. Mas nem isso é claro!

Calma que há mais.

O vídeo com o depoimento de Machado ao Ministério Público está disponível. No trecho abaixo, entre 8min51s e 12min13s, ele trata de seu suposto encontro com Temer. Peço que vejam.

Transcrevo um trecho. A partir de 9min43s, diz Sérgio Machado sobre Temer:
“Ele [Temer] chegando lá, eu falei com ele, ele falou da dificuldade que ele estava tendo em São Paulo acerca da campanha do Chalita, EU DISSE QUE PODIA AJUDÁ-LO EM UM MILHÃO E QUINHENTOS, MAS QUE DEPOIS EU INFORMARIA A ELE A EMPRESA. Telefonei depois a ele informando que essa doação seria feita pelo Diretório Nacional, através da empresa Queiroz Galvão”.

É evidente que se trata de um depoimento rigidamente orientado. Reitero: ainda que a conversa tivesse existido, na delação, na nota e no vídeo, Machado não diz que Temer sabia da origem ilícita da doação. E por que faz isso? Ora, porque se livra de um processo.

Qualquer advogado sabe que o que vai acima não dá em absolutamente nada, de lado nenhum. Nem há como acusar o presidente de coisa nenhuma, nem este pode acionar Machado na Justiça.

Quando e se a Operação Lava-Jato terminar, será preciso que as melhores cabeças do direito pensem numa, vamos dizer assim, chacoalhada ética nessa coisa toda.

Trecho complicado
Abaixo, há outro vídeo. Entre 5min17s e 10min32s, o interlocutor de Machado, do Ministério Público Federal, leva o depoente a declarar que o órgão não teve nenhuma responsabilidade nas gravações. Assistam ao vídeo: às vezes, o procurador complementa as frases em que o criminoso confesso tartamudeia.

Segundo Machado, ele optou pela delação no dia 16 de dezembro do ano passado, um dia depois da operação de busca e apreensão em sua casa. Mas ele só fez as gravações em fevereiro e março…

E por que optou pelas gravações e pela delação? Ora, transcrevo as palavras dele, se vocês tiverem estômago:
“Eu achava que era importante naquele momento, que o Brasil passava por aquelas mudanças, como da minha vida (???), eu poderia ter tranquilidade, eu podia retomar a minha vida, eu poderia voltar a sonhar, sair daquele momento que a gente vivia, que eu sou político há muito tempo, eu tinha valores que eram aceitos, mas que não estão certos e precisavam ser corrigidos. E eu queria definitivamente começar um novo momento da minha vida”…

A síntese é a seguinte
O Ministério Público quer se livrar da eventual suspeita de que captura bandidos e os instrui a sair por aí gravando todo mundo, o que não constitui um dos modos mais ortodoxos de produzir provas. E Machado quer nos convencer de que teve um surto ético e agora quer consertar o Brasil. Num outro trecho, ele chega até a sugerir uma reforma política.

Machado virou um homem bom, tá, pessoal? Mas decidiu isso só no dia seguinte à busca e apreensão. Não tivesse havido, talvez ele continuasse a assaltar os cofres públicos por mais tempo. Mas, agora, o cara que meteu a própria família numa verdadeira organização criminosa está disposto a se regenerar.

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