Acredite, a inelegibilidade de Bolsonaro é seu maior trunfo político desde 2018

Conservadores terão a chance de contar com força política agregadora de Jair sem precisar se fechar nele, podendo apostar como líder em uma figura mais amena e com valores parecidos com o do ex-presidente

  • Por Pedro Henrique Alves
  • 01/07/2023 08h00
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WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO O ex-presidente Jair Bolsonaro acompanha o governador Tarcísio de Freitas em solenidade de formatura de oficiais da Polícia Militar de São Paulo O ex-presidente Jair Bolsonaro acompanha o governador Tarcísio de Freitas em solenidade de formatura de oficiais da Polícia Militar de São Paulo

Acompanhei com curiosidade o julgamento que tornou Bolsonaro inelegível pelos próximos oito anos. Este caso esteticamente parece um julgamento político, tem motivações claramente políticas, agentes que nem sequer se dignificam mais a esconder seus partidos e intenções politiqueiras, mas, obviamente, para manter minha liberdade intacta ‒ Monark, ora pro nobis ‒, não irei dizer aqui que este julgamento pareceu os dos tribunais revolucionários de outrora. Não falarei também dos absurdos óbvios que rondam todo esse espetáculo pateta, desde o fato de Lula, após ter sido condenado por diversas instâncias, ter sido liberto pelo tribunal que praticamente ele montou sozinho, e agora, por outro tribunal que também ele montou com suas indicações, ter eliminado na canetada, sob argumentos tão toscos que soam infantis, seu principal oponente político. O que importa é performar com ares de isenção, fingir que ministros políticos são imparciais e justos, o famoso “chantilly no cocô”, “maquiagem de defunto”.

Que fique registrado, todavia, para o nosso Ministério da Verdade, a minha inabalável e fiel crença nas instituições brasileiras, principalmente nos sacrossantos, impolutos, alvejados, epifânicos e totalmente imparciais Supremo Tribunal Federal e TSE, e, sem dúvidas ainda, em seus angélicos e puros ministros. Amém. Mas vamos falar de algo que ‒ acredito, em nome de Jesus ‒ não ser motivo de prisões e cancelamentos nas redes sociais: creio ser um erro grotesco da esquerda comemorar a inelegibilidade de Bolsonaro, pois Jair é um indivíduo que angariou a fidelidade e confiança de uma enorme parte da sociedade brasileira, mas que tinha também um indiscutível caráter repelente. Muitos, do tradicionalismo ao comunismo, o odiavam e o execravam de várias maneiras e por diversos porquês; com sua inelegibilidade, todavia, os conservadores terão a chance de contar com sua força política agregadora sem precisar se fechar completamente nele, podendo apostar como líder em uma figura mais amena, com características mais brandas, inteligência política mais aguçada, porém, mantendo ainda convicções e valores parecidos com o do ex-presidente. 

Isto é, o TSE, por fim, poderá ter feito o que muitos dos conservadores mais cuidadosos e analistas perceberam ser o grande mal da direita brasileira, a desunião completa em torno de um plano geral de política, além de uma falta de senso de prioridade. Nomes como Tarcísio de Freitas e Zema podem livremente surgir agora sem se chocarem com a figura imponente de Bolsonaro. O TSE, tirando Bolsonaro do jogo, deixou o caminho livre para um estadista conservador mais carismático e com senso de união política; aquilo que Bolsonaro mostrava ser uma falha grotesca em sua administração, poderá ser consertado e usado como carro-chefe do candidato que ele apoiará agora. Como chamar Zema de fascista, afinal? Como fazer acreditar que Tarcísio ameaça a democracia de alguma forma? Bolsonaro era infinitamente melhor para Lula do que Zema ou Tarcísio, pois emulava todo o medo que a narrativa petista vendia nas esquinas com olhos chorosos e punhos cerrados. Todavia, com Tarcísio ‒ minha aposta como substituto direto de Jair ‒, a propaganda do partido de Lula simplesmente não cola.

Assim sendo, eu sinceramente enxergo nisso uma das melhores oportunidades para a direita brasileira após o tombo das últimas eleições. Se Bolsonaro for inteligente, este momento lhe será mais precioso do que seria até mesmo um segundo mandato. Um estadista conservador, por princípio, entende que mais do que um mandato é preciso perspicácia, influência popular e política, além de coragem para tornar possível suas ideias de mundo; entender que as realizações de projetos e absorção social de valores, por vezes, vêm por meio de influências e não de mandatos é a característica dos grandes. Muitos bons estadistas viram seus projetos, ideias e valores sendo realizados por aqueles que eles adotaram como afilhados, e não por suas próprias mãos.

Se eu fosse Bolsonaro, após a decisão proferida, ligaria para o líder do partido, para seus assessores políticos, deputados e senadores aliados, os reuniria numa sala e diria: “Pois bem, meus amigos, agora, sim, podemos começar. Mãos à obra”. Se egos forem vencidos, e restarem ao menos dez conservadores influentes neste país, com capacidade de se sentarem à mesa e discutirem projetos e estratégias em torno de um líder carismático, inteligente e corajoso, a esquerda poderá ter tomado nesta última sexta, 30, sua dose fatal de cicuta. Não se trata de um otimismo bobo, afinal, não seria a primeira vez que o autoritarismo esquerdista, na ânsia de cravar nas costas do inimigo o punhal jurídico, acertou em cheio o próprio peito.

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