Banheiro neutro é o tipo de ideia que um estuprador defenderia em um debate
O progressismo, na ânsia afobada de ser totalmente permissiva com a cultura transgênero, colocou as mulheres sob arapucas perigosíssimas
Como há muito venho dizendo, talvez as maiores vítimas do progressismo e de suas teses são as mulheres. E veja, hoje, nem tratarei das questões mais filosóficas e culturais dessa temática, não estou falando do feminismo radical, que, no final do dia, coloca as mulheres em lares sem maridos que as guardem, sem filhos que as amem, em suma, que nega a elas famílias que lhes deem razão moral, existencial e espiritual de vida; muito menos tratarei da aporia da igualização de garantias asseguradas entre mulheres e homens biológicos, que, após dizerem que se sentem como mulheres, passam a receber todos os direitos que as mulheres lutaram séculos para alcançar. Venho antes falar da pitoresca e, ainda, para mim, surreal tese de que um homem, após afirmar ser uma mulher, poder adentrar livremente um banheiro feminino. Há uns 10 ou 15 anos isso ainda soaria bizarro na maioria das sociedades modernas ocidentais, porém, como a mente humana sempre foi volátil a idiotices ideológicas, moldando o absurdo à normalidade tal como de manhã misturamos um suco instantâneo na água, não é de assustar que na Inglaterra um homem que supostamente se sente como mulher possa dividir um banheiro público com mulheres biologicamente verificadas.
Aliás, cá entre nós, poucas tragédias são mais anunciadas do que aceitar passivamente que homens entrem em banheiros femininos. Não foi à toa que a civilização, há milênios, decidiu que separar esses espaços entre os sexos masculino e feminino era uma estratégia eficaz e segura para as mulheres. Não é preciso também ser nenhum teórico da conspiração para deduzir o que pode ocorrer disso quando homens precisam apenas estar munidos de uma frase para entrar nesses espaços femininos: “Me sinto mulher”. Pois bem, essa semana a imprensa britânica tornou público a condenação de Ian Bullock, de 39 anos, após ele abusar sexualmente de uma mulher no banheiro de uma estação de trem da Birmingham New Street. Segundo o detetive do caso, Ian Wright, o abusador teria dito que se sentia como uma mulher ‒ inclusive trajava roupas femininas na ocasião do crime ‒ a fim de entrar em banheiros femininos da estação e abusar sexualmente de mulheres. Após o estupro, a vítima denunciou o criminoso aos policiais da própria estação, que logo efetuaram a prisão. O caso ocorreu em março de 2022, porém, só foi tornado público agora.
Notícias como essa tendem a cada vez mais se avolumarem nos jornais mundiais ‒ caso não haja nenhum abafamento seletivo e ideológico, é claro… alguém duvida de que isso seja possível? ‒, e isso não se trata de uma mera visão pessimista da contemporaneidade, quiçá até mesmo mórbida com relação ao futuro, se trata puramente de lógica. Se um abusador encontra uma brecha social para atacar mulheres, e essa brecha não passa de uma frase mágica (“me sinto como mulher”), tudo se torna mais fácil para o criminoso e mais difícil à polícia. Se é verdade que homens asquerosos atacam e agem até mesmo em situações em que suas ações são fortemente restringidas ‒ seja pela moral social ou pela vigilância das autoridades ‒, por que ele não seria impelido a atuar se a sociedade lhe dá os meios, retóricas e espaços seguros para que ele aja? Aliás, o banheiro neutro me parece ser o tipo de ideia que um estuprador acharia sensacional e defenderia veementemente em um debate político ou universitário, tal como no conto popular o lobo se engajava em convencer a chapeuzinho vermelho de que se tratava antes de sua “transvózinha”.
O progressismo, na ânsia afobada de ser totalmente permissiva com a cultura transgênero, colocou as mulheres sob arapucas perigosíssimas. Uma tese político-filosófica que facilita abusadores usarem o mesmo banheiro que nossas filhas, irmãs e esposas não pode ser uma ideia que defenda o bem-estar feminino… novamente, isso é pura lógica. Eu consigo perfeitamente imaginar um desfecho alternativo para o caso de abuso acima relatado: um dos seguranças da estação Birmingham New Street, antevendo o perigo que haveria em deixar Ian Bullock entrar no banheiro feminino ‒ ainda que trajado como mulher ‒, impediu o homem de utilizar a toalete e, por isso, foi imediatamente acusado de preconceito pelo abusador e, após pressão nas redes sociais, perdeu o seu emprego, foi processado e, sem demora, escorraçado publicamente pela mídia e políticos do país, tornando assim uma espécie de exemplo de erro machista moderno que a Europa progressista e politicamente correta deveria extirpar do seu meio.
Alguns diriam, “mas esse prévio julgamento é errado, não havia como o segurança prever tal abuso”. Exato, é justamente por isso que transgêneros não deveriam usar banheiros femininos. A segurança de uma vítima em potencial vale muito mais que uma lacrada social ou os aplausos da União Europeia e seus burocratas desconstruídos. A generalização, como o impedimento geral de que homens usem banheiros femininos, é uma defesa útil em uma sociedade, assim como o pessimismo e o ceticismo ‒ tipicamente ingleses, diga-se de passagem ‒, tem o poder incrível de equilibrar ideias afoitas e completamente danosas de ideologias que ignoram a realidade e propõem sandices bizarras como sendo soluções morais inadiáveis. Banheiro neutro, ou a relativização dos sexos, é uma dessas bizarrices que normalizamos e que, sem demora, já começamos a colher suas consequências.
Mas é claro, talvez essa moça abusada tenha sido uma espécie de mal necessário à pauta dos banheiros neutros, aqueles “ovos” que os revolucionários à esquerda sempre insistiram ser necessário quebrar para que a causa vença ao final. Percebam que visivelmente não há nenhum movimento de revolta com relação a esse estupro, esse não será um daqueles casos que passarão nos projetores da USP em alguma aula de desconstrução masculina, esse caso não vai figurar em nenhuma matéria sensacionalista da grande mídia, Bonner não tocará nesse caso com os seus já comuns olhos marejados, pois, apesar de trágico, esse abuso tem um propósito maior na esteira ideológica da pauta progressista, é melhor ficar quieto nessa questão. Usemos então o caso do Daniel Alves ‒ diria um ideólogo engajado ‒, um “hétero” que abusou de uma mulher em um banheiro de balada; aqui sim temos um caso maravilhoso para lacrar, para pedir mudanças de leis e até mesmo para engajar um vídeo no reels. Como diria George Orwell em A Revolução dos Bichos, “alguns são mais iguais que os outros”; o “todes”, meus caros, suplantou “todas” em plena luz do dia a fim de defender a cultura transgênero, uma salva de palmas para o progressismo.
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