‘Fim da prisão em 2ª instância foi a maior paulada que a Lava Jato sofreu’, diz Thaméa Danelon

  • Por Jovem Pan
  • 24/12/2019 17h30
Rovena Rosa/Agência Brasil

A procuradora da República Thaméa Danelon afirmou nesta terça-feira (24) em entrevista ao programa 3 em 1, da Jovem Pan, que o fim da possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, decidido pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) em outubro, foi “a maior paulada que a Lava Jato sofreu”.

Para ela, era justamente essa possibilidade que fazia com que réus ou investigados no âmbito da Operação Lava Jato firmassem acordos de colaboração premiada.

“O que faz com que o corrupto e o empresário desonesto não seja estimulado a praticar crimes é a punição. Existe corrupção em todo lugar do mundo e os índices em outros países são aceitáveis porque a Justiça funciona. Nos Estados Unidos ou na França, por exemplo, a pessoa condenada por qualquer crime passível de prisão vai imediatamente presa.”

No entendimento da procuradora, o fim da prisão em segunda instância tem reflexos nos acordos de delação ou leniência para as empresas envolvidas nas investigações.

“Um fato determinante que impulsiona o réu colaborar é a possibilidade de ser preso e cumprir pena. Agora, dificilmente vai ser preso. A realidade é que a ação, quando chega no Supremo, demora de 10 a 20 anos [para ser julgada]. Quem é que vai querer colaborar agora? Esse, no meu ponto de vista, foi a maior paulada que a Lava Jato sofreu.”

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Críticas ao Supremo

O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, afirmou recentemente que a Operação Lava Jato teria “destruído empresas” provocando prejuízos devido às investigações. Para Thaméa, no entanto, o que destruiu as empresas foi a própria corrupção a qual se submetiam.

“Reitero meu respeito ao STF, mas foi uma fala completamente infeliz e desarrazoada, não é operação policial que quebra empresas, são as práticas de crimes e a corrupção desenfreada. Com todo respeito, gostaria que ele dissesse os motivos. A culpa foi da Lava Jato? E o prejuízo financeiro causado aos cofres públicos? Um exemplo é a refinaria de Abreu e Lima. Começou a ser construída em 2005 e teria um custo de R$ 2 bilhões de dólares, mas, no final, foi para R$ 18 bilhões de dólares e ainda não esta pronta”, afirmou.

Thaméa ainda declarou que há “inimigos da Operação Lava Jato” dentro das instituições. “A Lava Jato, embora tenha muitos inimigos no Supremo e no Congresso, continua seguindo e quebrando recordes. É lamentável um ministro do STF se referir à maior da operação de combate à corrupção da humanidade dessa forma.”

Ao abordar as críticas que a operação eventualmente sofre, a procuradora também comentou as falas do ministro do Supremo Gilmar Mendes.

“Quando falei de inimigos, com todo respeito, não tenho nada pessoal contra Gilmar Mendes, mas não me parece que ele seja amigo da Lava Jato. Então é lamentável e desarrazoado que um ministro se dirija a procuradores da República e membros do Ministério Público com essas palavras de baixo calão, chamando-os de ‘gentalha’, ‘membros de organização criminosa’. Em que mundo vivemos? Isso não acontece em nenhum país sério no mundo.”

A procuradora também afirmou que o ministro da Justiça, Sergio Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato em Curitiba, atuou como “um dos melhores juízes” que já conheceu. “Moro é um juiz de vanguarda, ele foi o primeiro juiz a celebrar acordos de delação premiada”, disse.

E avaliou de forma positiva a atuação de Moro diante da pasta da Justiça, do governo Jair Bolsonaro. “Na minha opinião pessoal, foi bom ele ter aceito esse convite para poder ampliar sua atuação no combate à corrupção numa esfera muito maior. Ele foi para o governo para tentar trabalhar em grande escala.”

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