Alemanha reconhece genocídio armênio e cria risco de abalar relação com a Turquia
O reconhecimento do parlamento da Alemanha ao genocídio armênio tem um profundo significado simbólico e deve abalar a relação do país com a Turquia. De forma quase unânime, os deputados do Bundestag aprovaram um texto que considera o massacre de 1915 um genocídio e assume a responsabilidade da Alemanha no ataque, já que o país era aliado do então Império Otomano na Primeira Guerra Mundial.
O professor de relações internacionais da Facamp, James Onnig, afirma que o reconhecimento é uma vitória dos direitos humanos e da justiça: “É muito importante do ponto de vista pela luta dos direitos humanos e pela justiça, já que a Alemanha foi copartícipe de um processo genocida e que isso acabou gerando um impacto enorme na vida de milhões de pessoas. Se o país que está afirmando que participou indevidamente pede desculpa, o país que perpetrou deve fazer o mesmo”. Onnig, que faz parte da comunidade armênia no Brasil, lembra que a Alemanha está repetindo o gesto de revisitar o seu passado e admitir os erros.
Na visão do professor de relações internacionais, o genocídio armênio precisa ser reconhecido pelos governos e divulgado no mundo inteiro: “Todas as nações precisam revisitar as suas injustiças, revisitar o seu passado mais próximo e entender quando há exclusão, opressão, escravidão, e no caso, genocídio, que também possam ter tido impacto nas vidas deles. É uma historia tão triste, uma tragédia tão difícil de falar que algumas gerações, durante anos, lutavam pelo reconhecimento, mas como eram poucos filmes, poucas obras literárias que falavam sobre o assunto, esse tema foi se esquecendo”.
A luta pelo reconhecimento do genocídio se intensificou nos anos 60. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, garantiu em sua campanha fazer esse gesto, mas nunca cumpriu a promessa. Assumir o que aconteceu gera danos com a Turquia, que já reagiu à decisão feita pelo parlamento alemão.
O presidente turco, Recep Erdogan, chamou o embaixador do país em Berlim para consultas, e o porta-voz de seu partido, o AKP, disse que a aprovação danifica seriamente a relação entre as duas nações. A chanceler alemã, Angela Merkel, não quis entrar na polêmica, mas lembrou da forte ligação entre Turquia e Alemanha, onde moram mais de 3 milhões de cidadãos com raízes turcas.
Reportagem: Victor LaRegina
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