Carne vencida, cabeça de porco e papelão: entenda as fraudes descobertas pela maior ação da história da PF

  • Por Jovem Pan
  • 18/03/2017 09h59
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BRA07. RÍO DE JANEIRO (BRASIL), 17/03/2017.- Una mujer compra carne hoy, viernes 17 de marzo de 2017, en Río de Janeiro (Brasil). La Policía Federal brasileña desarticuló hoy una gigantesca red criminal, que involucraba a varias de las mayores productoras de carnes del país y que sobornaba a fiscales sanitarios para poder vender carne adulterada, no apta para el consumo y hasta vencida, informaron fuentes oficiales. EFE/Marcelo Sayão EFE/Marcelo Sayão Mulher compra carne no Rio de Janeiro EFE

Propina paga a fiscais do Ministério da Agricultura para afrouxar a fiscalização em frigoríficos abasteceu campanha do PMDB e do PP. A venda de alimentos vencidos e até com substâncias cancerígenas estarrece o país e envolve mais de 70 empresas do setor no Brasil.

Na maior ação da história da Polícia Federal, foram cumpridos 38 mandados de prisão em um esquema que tinha participação no Ministério da Agricultura. A operação Carne Fraca mira a BRF, controladora da Sadia e da Perdigão, e a JBS, que detém Friboi, Seara e Swift.

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A investigação durou dois anos e começou com a denúncia de um agente e de um empresário de Curitiba, que constatou a piora na qualidade da carne. Segundo investigação em seis estados e no Distrito Federal, fiscais recebiam dinheiro para emitir certificação; pelo menos, 20 pessoas foram presas.

As companhias são acusadas de alterar embalagens, maquiar o cheiro de produtos fora da validade até com substâncias químicas cancerígenas.

Em conversa gravada, o dono do frigorífico Larissa, no Paraná, Paulo Rogério Sposito, preso nesta sexta, manda o funcionário usar produtos vencidos há 3 meses:

Funcionário: seu Paulo.
Paulo Sposito: oi.
Funcionário: achamos umas paletas 127, que estão vencidas desde fevereiro. Manda embora ou deixa na produção pra eles usar?
Paulo Sposito: deixa na produção pra eles usar.

Segundo a denúncia, a Peccin, de Curitiba, comprou notas fiscais falsas de produtos com o selo de inspeção para justificar a compra de carne estragada. A empresa, que produz derivados de frango, porco e embutidos, usava quantidades acima do permitido de produto químico para maquiar carne podre.

Em conversa gravada, Idair e Nair Piccin, sócios do frigorífico, falam em utilizar carne de cabeça de porco na linguiça, o que é proibido. Idair pede que sejam comprados dois mil quilos dessa carne.

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No relatório, a Polícia Federal cita uma conversa entre o gerente de produção da BRF em Carambeí, no Paraná, Luiz Fossati, e um funcionário. A PF revela que eles falam em colocar papelão junto com a carne moída, descrita no diálogo como CMS:

Funcionário: o problema é colocar papelão lá dentro do cms também né. Tem mais essa ainda. Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora se eu não consegui em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar.
Luiz Fossati: ai tu pesa tudo que nós vamos dar perda. Não vamos pagar rendimentos isso.

A BRF divulgou nota sobre o uso do papelão alegando que o funcionário se referia às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. Quando diz “dentro do CMS”, se refere à área onde é armazenado.

A PF aponta que as interceptações telefônicas ajudaram a identificar irregularidades em cargas de carne, frango e embutidos de porco e aves. O delegado da Polícia Federal, Maurício Moscardi Grillo, explica que os agentes públicos eram cuidadosos ao falar sobre dinheiro. “Apenas um desses fiscais possui várias franquias da Subway no interior do Estado”, conta.

Lado político

De acordo com Maurício Moscardi Grillo, até a carne exportada está sob suspeita e uma perícia comprovou a adulteração em merenda escolar. O delegado acrescenta que parte do dinheiro arrecadado com a propina era destinada a políticos do Partido Progressista e do PMDB.

“Notou-se que gavia um repasse dessa propina que era destinada a campanhas políticas. Não dá para se denominar se era político “A”, “B” ou “C”, mas isso denota-se dos áudios”

O delegado Maurício Moscardi acrescenta que as fraudes tinham o apoio de servidores do Ministério da Agricultura no Paraná, Goiás e Minas Gerais.

O auditor da Receita Federal, Roberto Leonel, explica que foi comprovado o enriquecimento ilícito de envolvidos, além de “outras formas de lavagem de dinheiro que estamos apurando”.

O ministro da Agricultura demonstrou receio com a imagem do país no exterior após a deflagração da Operação Carne Fraca. Em entrevista à Jovem Pan, Blairo Maggi disse que o Brasil será o mais transparente possível com os importadores.

A pasta da Agricultura confirma que 21 frigoríficos estão sob suspeita e serão investigados e que afastou 33 funcionários sob suspeita. O Brasil é o segundo maior produtor de carne do mundo, só perde para os Estados Unidos e é o maior exportador mundial de carne bovina.

Em nota, a BRF disse que colabora “para os esclarecimento dos fatos” e que cumpre normas de produção e comercialização.

A JBS também nega as irregularidades e repudia qualquer tipo de adulteração.

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