Crack se alastra pelo País e combate à droga divide especialistas
O Brasil ainda não encontrou uma forma efetiva de combater a o crack, que avança em uma velocidade endêmica pelo país. E se 98% dos municípios convivem com o problema, o que varia de lugar para lugar é o tamanho e algumas peculiaridades.
Em São Paulo, a maior metrópole brasileira, os usuários desalojados das imediações da Luz e da Estação Júlio Prestes formariam, seguramente, um bairro na capital. A maioria é negra e vem de uma família pobre.
Na região de Ribeirão Preto, no interior do Estado, o consumo da pedra é feito nos canaviais, por trabalhadores com enxada na mão. Nas cidades fronteiriças, outra característica. E o mesmo problema: “muitos chamados ‘burros de carga’, que estão transportando, também estão consumindo (droga)”.
O presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski, chama a atenção para outro dado do Observatório do Crack, levantamento produzido pela entidade. Foi identificado alto índice de dependentes nas regiões mais remotas.
O presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais ressalta que é irrisório o resultado alcançado com as atuais políticas públicas no combate ao vício. Pernambuco e São Paulo, segundo Cristiano Maronna, apresentaram melhoras pontuais.
O criminalista, que classifica a ação na cracolândia na capital como equivocada, aponta falhas, também, no outro extremo. Ele vê que o trabalho de prevenção, com o Proerd (Programa educacional de resistência às drogas e à violência), em que policiais alertam nas escolas sobre os perigos das drogas, não tem total eficácia.
Segundo a diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da UREJ, a crise do país acentua ainda mais a situação. Para Ivone Ponczek (pôntchek), vencer o crack também implica em lidar com suas causas sociais, anestesiadas pela pedra. Os especialistas entendem que a internação compulsória não é a melhor saída.
Crack ameaça 558 das 645 cidades de SP
O crack não para de avançar por São Paulo. Dos 645 municípios do Estado, pelo menos 558, incluindo a capital, enfrentam problemas relacionados à droga, conforme mapeamento do Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Em 193 cidades do interior, o nível desses problemas é muito alto, segundo o ranking, atualizado em tempo real com informações de prefeituras. Em outras 259, o alerta é médio; e, em 105, baixo.
Apenas 20 cidades disseram não ter problemas com o crack. Outras 67 não responderam oficialmente o levantamento (mais informações abaixo). De 608 municípios paulistas ouvidos este mês (incluindo dados parciais), 92% afirmaram enfrentar problemas com a circulação de drogas, enquanto 95% confirmaram problemas com o consumo delas. As prefeituras informaram ainda que as principais áreas afetadas são Saúde (67,1%), Assistência Social (57,5%) e Segurança (49,1%).
O Observatório do Crack inclui grandes cidades do interior na “lista vermelha” da droga, entre elas Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Bauru e Marília. O avanço das drogas pelo interior, mostrado pelo Estado em reportagem especial em 2014, não teve melhora com o passar do tempo, segundo Ernesto Stranz, consultor da CNM. E a droga continua avançando em municípios menores e rurais, como Campos Novos Paulista, Planalto e Colômbia, com menos de 7 mil moradores.
Segundo ele, o fato de a maioria dos municípios responder espontaneamente ao questionário indica a gravidade do problema. “São prefeituras que têm a coragem de se expor porque é algo que afeta muito a população. É como um grito de socorro”, disse. Apesar disso, praticamente nada mudou na política de governo. “Não houve investimento e o recurso que estava previsto em alguns programas sofreu contingenciamento.”
Número de usuários
Procurada, a Secretaria da Saúde do Estado informou ter ampliado em seis vezes o número de vagas para dependentes químicos, de 500 em 2011 para 3,3 mil atualmente, em serviços próprios ou conveniados. Desse total, 2 mil vagas, ou 60%, estão no interior (integralmente custeadas pelo Estado). O encaminhamento é feito pelos municípios. A pasta destacou que a internação só é indicada para casos graves. O Estado ainda mantém o Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (Sarad) em Botucatu, onde foram realizados 13 mil atendimentos desde 2014. Das cerca de 2 mil internações na unidade, 77% aconteceram de forma voluntária, 13% involuntária e 10% compulsória.
O Observatório trabalha agora em uma nova metodologia para estimar a população envolvida com o crack no Estado, já que não há dados precisos. A Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) estima o usuário regular em 0,5% da população – o equivalente a cerca de 164 mil pessoas no Estado, desconsiderando a capital. Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.
A reportagem inicial é da repórter Jovem Pan Carolina Ercolin
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