Crise incentiva brasileiro a substituir consulta médica pelo “Dr. Google”
A internet é, para muitos brasileiros, um dos principais vias de acessos à saúde. O paciente digita a queixa no computador e “voilá”. Mas é a crise o que mais provoca ultimamente a busca pelo doutor Google.
O desemprego no Brasil está diretamente ligado à redução do acesso ao plano de saúde. Logo, muitos postos de atendimento e hospitais públicos estão sobrecarregados.
A alternativa é automática, avaliou o diretor da Associação Médica Brasileira, José Bonamigo Filho: “sem dúvida, eu acho que isso aumenta a demanda ao paciente que não tem acesso fácil”.
Segundo o Google, pesquisas relacionadas à saúde, como informações sobre doenças e sintomas, respondem por 5% do volume de buscas do portal.
Mas, embora o hábito seja comum, são poucas as garantias de credibilidade e qualidade do conteúdo disponibilizado na internet.
A empresa se deu conta disso e lançou uma parceria com o Hospital Albert Einstein.
O serviço sugere quadros com informações revisados por uma equipe médica, explicou Alessandro Germano, diretor de parceria do Google Brasil. “Então se você procurar dor de garganta, a partir de agora, vamos mostrar possíveis doenças que podem estar associadas àquele sintoma”, disse.
Mas o assunto gera polêmica.
A Associação Médica Brasileira admitiu que parte dos profissionais prefere que os pacientes sejam preservados, já que há muita informação falsa na rede e é difícil identificar qual conteúdo faz sentido.
Mas na análise do diretor da entidade, José Bonamigo Filho, o novo hábito é um caminho sem volta e é preciso lidar com isso. Segundo ele, a questão é complexa porque o diagnóstico também é. Leva em conta muitas variáveis e o histórico de cada paciente.
De olho no potencial, empresários com supervisão médica lançaram o Dr. Sintomas.
A plataforma promete avaliar sintomas para sugerir os diagnósticos mais prováveis e até o uso de inteligência artificial para análise de imagem de casos raros.
O esquema “pergunta e resposta” aprofunda e apura o resultado, segundo Marco Scabia, cofundador da startup: “ele parte de perguntas que fazemos sobre características da pessoa e aí a gente começa a fazer perguntas sobre sintomas primários, secundários e mais específicos”.
O site alerta: não pretende substituir a ida ao consultório nem indica o uso em casos mais graves.
Em uma simulação que a Jovem Pan fez do Dr. Sintomas e preenchendo as informações como se apresentasse sinais de garganta inflamada, a plataforma deu três possibilidades de diagnóstico: inflamação na garganta, malária e gripe.
Marco Scabia avaliou ainda que a ferramenta está sendo aperfeiçoada e que quanto mais usada for, mais acertados serão os resultados.
A Associação Médica Brasileira considera válidas as iniciativas e reforça: os pacientes devem buscar informações sempre em sites com boa reputação, vinculados a hospitais e a universidades, sociedades de especialidade médica e associações de pacientes.
*Informações da repórter Carolina Ercolin
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