Dallagnol desafia governo a provar que cortes no orçamento da PF não vão enfraquecer a Lava Jato
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, questiona cortes no orçamento na Polícia Federal e provoca o Governo a tomar partido no combate a corrupção.
Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, o procurador da República admite que se a restrição afetar a área de operações da PF, os progressos da maior e mais vultuosa investigação do gênero da história do Brasil podem ser prejudicados: “É claro que um corte no orçamento da Polícia Federal pode sim prejudicar. Nós precisamos que o poder executivo, que a cúpula dos poderes mostrem para que eles vierem, qual é a posição deles em relação a corrupção, privilegiando o destino de verbas para combater esse mal em um momento tão crítico da nossa história”.
O corte previsto na Polícia Federal, de R$ 133 milhões, representa um quinto do que a Lava Jato repatriou até agora, algo na ordem de R$ 659 milhões, sendo US$ 100 milhões de dólares (cerca de R$ 400 milhões) só do ex-gerente da estatal petroleira Pedro Barusco. Contabilizando tudo, inclusive os acordos de leniência de empreiteiras cujos valores acertados ainda não foram repostos, o total supera R$ 1,8 bilhão. Dinheiro sujo que voltou aos cofres públicos graças à operação*.
Nas suas 22 fases, a operação reúne 82 réus, 8 empreiteiras e centenas de políticos, lobistas e empresários investigados ou denunciados. Um deles, o ex-ministro chefe da Casa Civil, que entrou recentemente com um pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. O presidente do STJ, Francisco Falcão, então decidiu consultar o Ministério Público Federal sobre o desejo da defesa, que pede que José Dirceu seja liberado da prisão.
Na visão de Dallagnol, o subprocurador que dará o parecer sobre o caso tende pela manutenção do cárcere: “Todas as prisões foram decretadas porque existiam amplos fundamentos que embasavam a prisão preventiva. Essa prisão preventiva não é uma prisão no fim do processo, a pessoa não é condenada de modo definitivo. É uma garantia para a sociedade, de modo excepcional, quando a liberdade do réu representa um risco para a sociedade. No caso do José Dirceu, ele praticou vários crimes durantes vários anos e, após ser condenado pelo mensalão, estava recebendo propina no caso da Petrobras, ou seja, é alguém que não para de cometer crime”.
E 2016 deverá ser mais um ano produtivo para a operação Lava Jato, especialmente em relação a documentos oriundos da Suíça. O ministério Público Federal espera centenas deles ao longo do ano: “Isso pode acontecer a qualquer momento em relação a qualquer pedaço da investigação, isso é previsível. Agora a tendência é que, ao longo de 2016, pequenos casos relacionados à Lava Jato venham ao Brasil, então todas as pessoas que tem contas na Suíça, novos documentos e informações podem chegar a qualquer momento ao longo do ano”. Sem contar as delações premiadas, que já foram 12 ao longo das investigações.
O coordenador da Lava jato nos atendeu durante suas férias, na praia. Ele admite não conseguir se desligar facilmente do trabalho. Prova disso é tirar um tempo para continuar a coleta de assinaturas para o a campanha chamada “10 medidas contra a corrupção”: “Estou em férias, ontem fui a uma praia e aproveitei o tempo que estava lá para passar em barracas e pedir para as pessoas contribuírem com suas assinaturas para nós mudarmos essa realidade”.
A iniciativa já reuniu 1 milhão e 200 mil de assinaturas. Deltan espera enviar até a metade do ano ao Congresso Nacional o pacote que torna penas mais rígidas, dificulta a anulação de processos e facilita a recuperação de recursos desviados.
Reportagem: Carolina Ercolin
Ouça no segundo áudio do texto mais trechos da entrevista
*Dados retificados e acrescentados às 12h36
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