“Difícil que a economia brasileira consiga crescer”, diz autora de livro sobre Dilma
Na economia, qualquer ação impensada pode gerar uma série de consequências, algumas previsíveis, outras nem tanto. Para a economista e pesquisadora do Peterson Institute For International Economics, Monica Baumgarten de Bolle, este foi o grande pecado do governo de Dilma Rousseff. Em seu livro “Como Matar A Borboleta Azul – Uma Crônica Da Era Dilma”, Monica discorre em uma série de artigos sobre as políticas econômicas feitas durante a gestão da ex-presidente e que são refletidas até hoje na atual crise.
O título da obra remete a uma praga de coelhos que ameaçou destruir as plantações de fazendas na Inglaterra durante a década de 1970. Para resolver o problema, o governo inglês decidiu espalhar um vírus para exterminar os animais. Com a diminuição da população de coelhos, o aumento de ervas daninha causou a destruição da grama que servia de alimento para as formigas, estas que por sua vez eram responsáveis por proteger os ovos da borboleta-azul, espécie que rapidamente se extinguiu.
“O que aconteceu esse ano é efeito das políticas e desarranjos do governo anterior. Toda desconstrução da política econômica, das instituições que serviam para garantia de bases da política econômica, como a lei de responsabilidade fiscal e o próprio regime de metas de inflação, tudo foi abalado ou destruído na gestão Dilma e levou a esta situação de calamidade absoluta na economia brasileira. 2016 é a continuação da crise proveniente de políticas muito erradas adotadas durante o governo anterior”, comenta Monica, em entrevista exclusiva a Denise Campos de Toledo no Jornal da Manhã.
Após sete meses de Michel Temer na Presidência, a crise persiste com uma recessão forte e o prometido ajuste fiscal ainda pinta como promessa, já que o ano se encerra com um saldo negativo recorde das contas públicas. Para Monica, entretanto, o balanço econômico é positivo neste período.
“Aconteceram alguns avanços importantes, como as mudanças no BNDES e a aprovação da PEC do teto dos gastos, ambas importantes para a recuperação da economia. É surpreendente o que se pôde fazer nestes sete meses, mas tudo isto ainda é insuficiente para resolver problemas tão graves da economia nacional”, explica ela, ao lembrar também que na contramão deste balanço há um momento político bem conturbado. “O quadro político ainda não traz muito alento além do que já foi feito nestes sete meses. É difícil imaginar em que áreas o governo, cada vez mais enfraquecido, vai conseguir gerar o impulso que a economia brasileira precisa”.
Além de medidas vistas como importantes para o equilíbrio das contas públicas, o cenário para o próximo ano pode se tornar pouco mais animador por conta da correção de rota da inflação, o que abre a possibilidade de corte maior dos juros. Monica acredita que este movimento é natural e descredita qualquer mérito ao Banco Central.
“A questão da queda da inflação está ligada à catástrofe do nível de atividade. Estamos há dois anos com o PIB encolhendo, então é natural que a inflação caia”, diz ela. “Eu não acho que a queda da inflação no Brasil seja mérito do Banco Central. A queda da inflação resulta fundamentalmente da queda de atividade. O BC, até agora sem protagonismo algum, terá que começar a ser protagonista diante deste quadro de inflação em queda e já deveria ter começado um processo de flexibilização monetária mais agressivo”.
E para 2017, o cidadão brasileiro pode iniciar o próximo ano mais animado com a economia nacional? Para a autora de “Como Matar A Borboleta Azul” é preciso ter cautela. “Eu acho difícil que a economia brasileira consiga crescer. O melhor cenário para 2017 é uma economia estagnada. Em um cenário em que a economia tenha expansão de 0,3% significa um cenário de estagnação, e hoje é o melhor que pode se esperar do próximo ano”, conclui.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.