Atuação do governo e desinformação contribuem no desenvolvimento de fobias, diz Valentim Gentil

Psiquiatra participou do programa ‘Direto Ao Ponto’ desta segunda-feira, 1º, e deu dicas sobre como identificar transtornos psiquiátricos durante a pandemia da Covid-19

  • Por Jovem Pan
  • 01/03/2021 23h04 - Atualizado em 02/03/2021 12h26
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Jovem Pan psiquiatra Valentim Gentil durante entrevista ao Direto ao Ponto Dr. Valentim Gentil foi o entrevistado do dia no 'Direto Ao Ponto'

A pandemia da Covid-19 e o isolamento social tem aumentado as ocorrências de transtornos psicológicos na população. Depressão, ansiedade e fobias saíram dos consultórios médicos para ganhar rodas de conversas entre familiares. Mas como saber se você desenvolveu algum tipo de vulnerabilidade neste último ano? O professor de psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) e membro permanente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Valentim Gentil, participou do programa ‘Direto ao Ponto’ desta segunda-feira, 1º, e deu algumas dicas sobre como saber quando alguém no nosso convívio não está bem. “Depressão não é só tristeza, depressão é uma mudança geral no padrão habitual. O pensamento, a coerência, a clareza mental, a regulação do humor, apresentar mais irritabilidade, mais tristeza, mais dificuldade de entender as coisas, diferenças de padrão de sono, apetite e peso, de participação de modulação do humor, até coisas físicas como muita palidez sugerem uma resolução médica. Só uma manifestação de tristeza ou insegurança não é o suficiente para um diagnóstico médico. Não confunda com luto e perda. Temos muitas situações de perda ultimamente, de pessoas queridas, do emprego, das convivências e etc. É preciso prestar atenção no que tem um diagnóstico médico”, informou.

Para o Dr. Gentil, a forma de enfrentamento ao coronavírus por parte do governo também tem sido um gatilho de transtornos para a população. “Numa situação dessas, que ninguém entende as mensagens que vem dos políticos e governantes, isso não gera confiança e aumenta o estresse. Nos últimos 12 meses tivemos um período grande de desinformação. Isso tudo gera insegurança e quem tem mais vulnerabilidade pode desenvolver casos fóbios”, explicou o especialista, que também condicionou a negação da pandemia à uma ‘síndrome de super-herói’. “Às vezes eu tenho a impressão de que as pessoas querem afirmar que são corajosos, mais saudáveis e etc. Isso é mais visto em homens. Porque é um absurdo, nem nosso campeão de boxe deve andar sem máscara. Se não tiver doente, vai ficar, não existe esse super-homem. Essa falta de consciência tem um pouco de onipotência, é até uma falta de clareza mental, mas não é falta de informação, não posso chamar de ignorância, é negação mesmo”, afirmou.

Agravamento de doenças e a saúde mental das crianças

A distância dos consultórios médicos também prejudicou muito quem fazia tratamentos psiquiátricos antes da pandemia. Segundo o Dr. Gentil, muitos pacientes interromperam seus tratamentos sem acompanhamento e se colocaram em perigo. “Com o isolamento, as pessoas começaram a negligenciar seus tratamentos. Não ir ao postos, centros de atenção, descontinuar tratamentos sem recomendação e isso determina recaídas em quadros psicóticos, em transtorno bipolar e neuroses mais graves. Houve um número maior de transtornos mentais resultantes de interrupção de tratamento”, declarou. E esse medo de ir ao médico precisa ser tratado. “É preciso esclarecer para essas pessoas, qual é o risco real de contágio se tiver tomando as medidas necessárias. Hoje é possível que, com alguns tipos de máscara, você possa evitar o contágio, lavando a mão também. Manter os cuidados higiênicos ajuda muito”, completou.

Questionado sobre o retorno às aulas para crianças e adolescentes, o psiquiatra ressaltou que os resultados desse tempo fora das escolas só será sentido daqui a 10 anos. “Nas escolas as crianças tem o ambiente necessário para o seu desenvolvimento e que em casa dificilmente elas teriam. Hoje, elas têm um desenvolvimento diferente por causa dos aplicativos, mas é uma desvantagem grande para uma geração de crianças para o futuro. Há uma aflição dos pais e de toda uma sociedade sobre o que se deve fazer. No ponto de vista emocional, tem estresse para as crianças e estresse para a família, principalmente para quem tem mais de três filhos. Entendo que isso tudo é negativo e prejudicial. Daqui a 10 anos vamos saber como será o preço do desenvolvimento dessas crianças”, finalizou.

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