Editorial – Adeus, PT! “Nós” sempre fomos bons, com todos os nossos defeitos. “Eles” sempre foram maus, com todas as suas qualidades

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 29/03/2016 17h44
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São Paulo 04/04/2016- Ex-Presidente Lula, durante entrevista a imprensa na sede do PT Nacional. Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas Paulo Pinto/Fotos Públicas Lula fala na sede do PT após prestar depoimento à PF (Fotos Publicas)

O PT, Lula muito particularmente, dividiu o mundo em dois grupos: aqueles a que chamava “nós” — que são os petistas — e “eles”, que era o restante dos brasileiros, os que não estavam afinados com as teses do partido.

Ora, meus caros, desde sempre, o grupo dos não-petistas era uma esmagadora maioria, certo? Desde sempre, houve mais não-petistas do que petistas no Brasil. Mas, durante um largo período, sempre pareceu o contrário. A minoria se impunha na base do berro, da formação de verdadeiras milícias — físicas, mesmo, ou nas redes sociais — e do assédio moral.

Alguém poderia indagar: “Ora, Reinaldo, se eles ganharam quatro eleições, como você pode chamá-los de minoria?”

Pois é, desde sempre, é preciso não confundir o eleitor com o militante. O fato de a maioria ter dado ao PT quatro mandatos não implica que o partido tenha obtido nas urnas o direito de roubar, de extorquir, de chantagear, de assaltar o estado de direito, de fraudar as regras da democracia, de desmoralizar as instituições.

E isso, com efeito, os petistas nunca entenderam. Afinal, eles, que chamavam a si mesmos de “nós”, eram a fonte de onde emanava todo bem, pouco importava o que fizessem, crime ou não. E “nós”, que eles designavam como “eles”, éramos, ao contrário, a morada do capeta.

Hoje, alguns imbecis falam no clima de perseguição que haveria contra os petistas e num tal “preconceito”. Evidentemente, repudio qualquer forma de perseguição política, até porque eu soube o que é enfrentar esses caras quando estão por cima. Imodestamente, eu antevia os desastres do PT quando o governo Lula tinha 86% de ótimo e bom. O arquivo do blog está à disposição.

Pediram a minha cabeça nas redes sociais.

Cobraram a minha demissão.

Atribuíram-me vínculos que nunca tive.

Não me dedicarei a prática semelhante. Nunca quis silenciá-los. Sempre quis vencê-los pela força do argumento.

À medida que as falcatruas apuradas pela Lava Jato vão vindo à luz, o que é que se constata, de maneira assombrosa?

Os tais “eles”, que chamavam de “nós”, não eram pessoas boas. Ao contrário. Eles assaltavam a Petrobras. Eles cobravam propina. Eles usavam o patrimônio público em proveito próprio. Eles fraudavam as regras do Estado de Direito. Eles transformaram toda crítica honesta em sabotagem. Eles nos convidavam a deixar o país se estávamos descontentes.

E, no entanto, com todos os nossos defeitos, com todas as nossas falhas, com todas as nossas distrações, somos boas pessoas, não é?

Lutamos dia a dia para ganhar a vida. Pagamos os nossos impostos. Esforçamo-nos para não invadir os direitos alheios. Tentamos planejar o futuro. Não metemos a mão no que não nos pertence. Não usamos o fruto do trabalho de terceiros em benefício próprio. Procuramos seguir as leis.

Muitos de nós, dessas pessoas boas, votaram no PT. E não o fizeram para ser roubadas. Ao contrário: deixaram-se encantar pela retórica das promessas. Deixaram-se levar pela mentira de que eles eram mais morais do que os outros. Deixaram-se enredar pela história do homem de origem pobre que viria para redimir os oprimidos.

Não! A esmagadora maioria das pessoas que votaram no PT não o fez por maus motivos. Ao contrário: as demandas a que o partido prometia responder existiam e eram justas.

E é por isso que o partido vai deixar o poder pela porta dos fundos, por mais que suas milícias tentem impedir.

Quando o PT falou mal de nós, os maus eram eles.

Quando o PT enveredou para o mundo do crime, traiu seus eleitores.

Quando o PT tentou fraudar a democracia, encontrou a resistência da sociedade. E resistimos todos: tanto os que nunca votaram no partido como os que foram traídos.

Adeus, PT! Já vai tarde.

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