Editorial: Ascensão do terror decorre, também, da estupidez de lideranças mixurucas no Ocidente

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 16/11/2015 16h50
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O monumento La Republique, em Paris, fica forrado de homenagens às vítimas dos atentados terroristas da última sexta-feira (13) JB Gurliat/Maire de Paris Ataques na França

O mundo não está submetido a tantos riscos à toa. Olhem os líderes que tem produzido. Com isso que anda por aí, até Dilma Rousseff poderia ser admitida à mesa. Não por acaso, por algum tempo ao menos, Luiz Inácio Apedeuta da Silva até chegou a chamar a atenção. É bem verdade que viam nele um terceiro-mundista um tanto exótico, e os europeus o enxergavam mais ou menos como um nativo apreendido em terras ignotas e exibido aos curiosos. Ou, então, como uma experiência bem-sucedida de bom selvagem.

Os horripilantes ataques a Paris evidenciaram a cadeia de má consciência, ou de consciência rebaixada pela tolerância e pelo relativismo, em que hoje se enreda o Ocidente.

François Hollande, o presidente socialista, em cuja gestão se deram os dois maiores ataques terroristas em solo francês, afirmou nesta segunda que o país está em guerra. Certo! Mas guerra contra quem e travada por quais meios? E emendou, em seguida, que não se trata de uma guerra de civilizações porque o Estado Islâmico não representa civilização nenhuma.

De fato, não representa! Mas cabe a pergunta: os muçulmanos não-representados pelo EI se manifestam a contento contra a barbárie, sejam as autoridades religiosas, sejam os fiéis, fora dos seus países de origem? Notem que nem me refiro aos cidadãos nascidos em nações islâmicas. Todos os países árabes são tiranias sanguinárias, com exceção, hoje, da Tunísia. O Irã, de origem persa, se encaixa perfeitamente na definição de fascismo islâmico. A Turquia tentou ser uma democracia e caminha célere para uma ditadura mitigada. A Malásia constitui um exemplo notável de intolerância religiosa.

Ganha o mundo a manifestações de fiéis do Islã na França e mundo afora contra a barbárie perpetrada. É pouco para me comover. Tratei do assunto hoje de manhã, nesta rádio. É claro que ser muçulmano não é sinônimo de terrorismo. Mas ser contra o terrorismo não é sinônimo de aceitar a democracia.

A manifestação mais eloquente vem de associações de estudantes islâmicos da Europa. Por que, em vez de integrar um grupo dessa natureza em Paris, eles não se juntam, mesmo na capital francesa, para defender a democracia em países muçulmanos? A minha pergunta é boa.

Essa gente acaba sendo a linha final, a cereja do bolo de carne humana, do terror islâmico. Depois de tudo, o islamismo ainda é visto como vítima, e todos temos de tomar cuidado com a dita “islamofobia”.

Temos de tomar cuidado com a islamofobia, embora 100 mil cristãos sejam assassinados por ano em todo o mundo em razão da sua religião. E a cristofobia não mobiliza corações caridosos a ocidentes e orientes. E os assassinos são milicianos muçulmanos. Cadê os protestos? Não! Não me comovem! Eles são contra o terror, claro! Mas a gente pode ou não desenhar o profeta aqui no Ocidente? E notem que nem exigiria essa, digamos, concessão em solo muçulmano!

Reitero: esses que agora vêm exibir os cartazes com o dizer “não em meu nome” não podem ser a última etapa da linha de produção do terror. E uma etapa importante. Quando, mesmo em países ocidentais, o Islã nega aos fiéis direitos assegurados pelos regimes democráticos, então dizemos que não podemos impor a eles nossos valores. Quando o obscurantismo se traduz em terror, aí somos abrigados a reconhecer que eles não têm culpa, sobrando sempre a sugestão de que a culpa é nossa.

É claro que a fala de Hollande é a de um presidente que, de algum modo, mais atende ao clamor dos islâmicos que se dizem perseguidos por preconceito do que a uma França ofendida por um ato bárbaro. Não temos nada a aprender com o Islã em matéria de tolerância, mas eles têm muito a aprender com a gente, não é mesmo? E o fundamento principal está na distinção entre religião e Estado.

Não dá mais para insistir na ladainha liberticida de que o Islã pode, sim, ser compatível com a democracia. Bem, não pode! Na teoria e na prática. Não! Eu não acho que o Ocidente tenha de ir lá jogar bomba para impor essa compatibilidade, mas acho que tem o direito — na verdade, é um imperativo ético — de deixar claro quais são os seus valores em seu próprio território.

A ambiguidade em relação à democracia, uma das marcas das associações e lobbies islâmicos no Ocidente, não pode mais ser tolerada.

Vamos ser claros? O Ocidente chegou mais longe na cultura da tolerância. E, por isso mesmo, não dá para tolerar os que toleram a barbárie.

Obama. E agora falemos um pouco do sr. Barack Obama. O Estado Islâmico deve rir às escâncaras de sua inteligência política. Em primeiro lugar, ele e alguns líderes europeus — como Nicolas Sarkozy e David Cameron (notem que incluo dois ditos conservadores no grupo), além de François Hollande — são em parte responsáveis pela atual desordem no Oriente Médio e norte da África.

Isso a que assistimos é o desdobramento mais evidente da forma como as potências ocidentais enxergaram a dita “Primavera Árabe”. Não perceberam o que se afigurava evidente desde o começo: exceção feita à Tunísia, por enquanto ao menos), as forças que se levantaram contra regimes ditatoriais eram essencialmente fundamentalistas.

Nesta segunda, Obama anuncia ao mundo que os EUA descartam uma ação terrestre na região hoje ocupada pelo Estado Islâmico. Que outro senhor da maior máquina de guerra do mundo anunciaria aos inimigos os próximos passos?

A política de Obama permitiu a Marcha da Besta na Líbia, na Síria e, ora veja, não fosse um golpe militar, também no Egito. A saída destrambelhada dos soldados americanos do Iraque abriu o caminho aos extremistas.

Lamento muito ter estado certo durante todo o tempo em que previ que a “Primavera Árabe” resultaria num longo e tenebroso inverno — inclusive das liberdades civis.

Obama não é só incompetente. É também arrogante. Ao afirmar que não haverá incursão terrestre, remete ao passado e diz saber muito bem aonde isso dá. É claro que ele se refere ao pós-Iraque e pós-Afeganistão. Digamos, nem vou entrar nesse mérito agora, que ambas as intervenções tenham sido erradas — embora tão distintas entre si. Mesmo assim: cabe a pergunta: o Estado Islâmico é consequência desses eventos?

Qualquer pessoa medianamente informada sabe que não. O Estado Islâmico nasceu do apoio objetivo que Obama e líderes europeus deram a supostos defensores da democracia, que traziam em seu ventre a besta do terror. Ao anunciar que não vai intervir, o presidente americano quase que reconhece a fatalidade de haver por lá uma gente como aquela.

Olhem o Oriente Médio e a África que este senhor encontrou em 2008 e vejam qual será o seu legado em 2016.

Para encerrar: eu não acho que os EUA sejam a polícia do mundo e que o país pode decidir sozinho o que fazer, como se a realidade política nas nações muçulmanas não tivesse um espaço autônomo. É claro que tem. Resta, no entanto, evidente o papel desastroso que americanos e europeus exerceram na região nos últimos cinco anos, o que contribuiu, de forma importante, para a emergência da barbárie.

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