Editorial – Brasil pré-Ciro: grupos pró-impeachment marcam protesto. Um erro!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 13/02/2017 17h51
Brasilia -O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) fala aimprensa apos almoço reservado a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff Roosewelt Pinheiro/ABr - 29/07/2010 Ciro Gomes - ABR

Chegam-me aqui imagens da convocação de uma manifestação de protesto para o dia 26 de março. O mote é “contra a impunidade”. Está sendo convocado com o apoio do “Vem Pra Rua”, do “Movimento Brasil Livre” — que é “apoiado” por mim, segundo a escória bolsonarista, que é aquela direita com sólida musculatura cerebral — e de outros grupos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff.  Na mensagem que me chegou, há um troço mais ou menos assim: “O governo passou dos limites, e o Congresso também.”

Muito bem! Se o MBL, como quer aquela gente esquisita, seguisse mesmo a minha orientação, não iria aderir a esse protesto, que está sendo pautado pelas esquerdas. Escrevi nesta manhã quatro textos sobre a direita xucra. Não! O Vem Pra Rua não é xucro. O MBL não é xucro. Fizeram grandes coisas pelo Brasil. Mas certo caldo dito conservador ou de direita  (não é nem uma coisa nem outra) que está a incentivar esse protesto é xucro, sim.

Bem, meus caros! Acho que há sempre a hora em que a liderança precisa educar a massa, em vez de seguir a manada. É o que diferencia a democracia do fascismo. Tenho horror da política que cede a clamores. Ela sempre é a porta de entrada daquelas grandes tragédias que, depois, não têm responsáveis. Então se pergunta: “Quem fez a merda?” A resposta: o espírito do tempo.

A esquerda artificializa e potencializa a crise econômica a partir do nada. E os liberais e conservadores, infelizmente, se deixam cavalgar pela agenda esquerdista. Segundo a fantasia mais influente, há um coquetel de eventos cuja interligação seria barrar a Lava Jato. Seus personagens seriam Michel Temer (claro!), Moreira Franco, Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Edison Lobão, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Os mais criativos me incluem no grupo.

Pergunte aos teóricos da conspiração o que cada uma dessas pessoas pode fazer efetivamente contra  Lava Jato, e a resposta é um grande conjunto vazio. Até gente responsável, como Fernando Gabeira, cai na conversa. Em artigo no Globo, associa uma opinião de Mendes a um suposto objetivo de soltar Eduardo Cunha. A tolice de uma pessoa inteligente é sempre decepcionante. Dos tolos de natural, esperamos o de sempre.

Impunidade
Não só não há o que essas pessoas possam fazer contra a Lava Jato como, se alguém está disposto a combater a impunidade, há de se perguntar onde ela está sendo fabricada hoje. O VPR, o MBL e os outros movimentos acham razoável que um patriota como Sérgio Machado pegue menos de três anos de prisão domiciliar e ainda consiga livrar a cara dos filhos, que cometeram crimes e não serão nem processados? O VPR e o MBL acham razoável que delatores que cometeram crimes pantagruélicos peguem, no máximo, uns três anos de cana e nem precisem depois passar adiante o controle das empresas, que continuarão a celebrar acordos com governos futuros?

É isso o que se entende por “combate à impunidade”? Mas, como sabem, só a Lava Jato é hoje fonte da verdade. Um interlocutor me disse outro dia: “Ah, se não é o Sérgio Moro, o STF não pune ninguém!” É mesmo? Marcos Valério: mas de 40 anos de cana; a sócia do Banco Rural Kátia Rabello, mas de 17 anos. José Roberto Salgado, diretor da instituição: mais de 16. Aqueles todos que falaram o que a Força Tarefa queria ouvir: de verdade, no máximo, três anos. Na prática, nem isso.

Pergunto: o VPR e o MBL se opõem também a essa impunidade. Mas esperem… Falei “também a essa?” Que outra está em curso?

A esquerda não queria Alexandre de Moraes no Supremo porque tinha outro candidato. A esquerda inventou a tese de que a situação de Moreira Franco se equipara à de Lula quando nomeado por Dilma. É falso como nota de R$ 3. A esquerda deu curso à falácia de que a atual cúpula do Senado lá está para controlar a Lava Jato — sem que se diga como. E bocas nervosas da operação divulgam a vigarice de que Mendes estaria querendo conter a operação, o que os vermelhos divulgam, é claro.

Sugiro que leiam uma entrevista de Ciro Gomes à Coluna do Estadão. Ali se ouve a voz do populismo mais rasteiro e brucutu com sotaque de esquerda. E a tarefa de gente como ele e outros piores pode ser facilitada pelos ditos conservadores.

E, obviamente, enquanto o processo político se perde nesses desvãos, deixa-se de fazer o que tem de ser feito.

Temer deu a resposta certa, o que eu já havia antecipado aqui. Não haverá ministros réus. É o certo. O resto tem de ser alcançado com o cumprimento das leis.

Mas os tempos se abrem hoje ao voluntarismo mais brucutu.

Nesse jogo, amigo, ou se é Cavalcante ou se é cavalgado.

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