Editorial – Cães de aluguel prestam favor involuntário ao regime democrático

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 07/03/2017 13h41
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Chega a ser divertido ouvir e assistir aos rosnados dos cães de aluguel. E os há de todos os padrões: dos buldogues atarracados (e como babam!) ao velho perdigueiro desdentado… O que têm em comum? Estão a soldo.

A soldo de candidaturas. A soldo de exotismos que se querem pensamento político. A soldo de especuladores.

Assim como, segundo a Lava Jato e delatores, a Odebrecht usava a cervejaria Petrópolis para pagar propina e fazer contribuição pelo caixa dois, há ataques terceirizados que mal escondem a sua paternidade. Minha área é a linguagem. Determinados textos têm marcas.

Eis aí: temos hoje um monte “cervejarias Petrópolis” na Internet que são financiadas para… me atacar. Acham que, com isso, afetam a minha reputação.

É mesmo? A questão é saber se eu quero do meu lado — como leitor, espectador ou ouvinte — quem se deixa influenciar pela baixaria e pelo fascismo da vulgaridade (by George Steiner).

E não! Eu não quero.

Os que acham que estou especialmente estressado em razão de atos tão sórdidos como covardes erram terrivelmente de análise. Ao contrário!

Eu quero que fique cada vez mais claro que nunca tive e jamais terei qualquer proximidade com Jair Bolsonaro, por exemplo, e o eixo de “fascismos da vulgaridade” que ele inspira, mobiliza, motiva.

Eu quero que fique cada vez mais claro que só rompi com a esquerda, há muitos anos, porque o autoritarismo me repugna — mas não apenas o de esquerda. Qualquer um.

Eu quero que fique cada vez mais claro que, há muitos anos, me lancei praticamente sozinho contra o PT não por ódio a Lula ou à sua formação escolar — a do meu pai era bem mais deficiente do que a dele.

Eu não gostava das escolhas econômicas que eram feitas. Eu não gostava do autoritarismo da “cultura” petista. Eu não gostava das mistificações do Lula como personagem criada por uma fantasia de esquerda. Pelo menino pobre depois operário, depois sindicalista, depois presidente da República, bem, por esse, sempre tive o apreço que se deve ter por quem superou tantas barreiras.

Ocorre que tal superação não lhe conferia o direito de criar uma organização partidária que passou a atuar, como revelam dados da Lava Jato, como verdadeira organização criminosa.

Claro, claro! Desde que não incite a prática de crimes — o que não está coberto pela imunidade parlamentar —, Bolsonaro diga o que quiser. Eu me reservo o direito de afirmar que quero distância dele e de sua grei; dele e de seus rapazes valentões, especializados em atacar qualquer um que ouse se opor às suas generalidades boçais.

Sim, conheço o cálculo de alguns: “Ah, fazer o quê? Se o João Doria se viabilizar, ótimo; se não, a gente vai de Bolsonaro mesmo!”.

Bem, obviamente, eu não iria!!! Ainda que ele disputasse um segundo turno com Lula. E não! Já escrevi aqui e reitero: jamais votaria no Apedeuta. O voto nulo é um voto. O voto branco é um voto. Eu não preciso condescender com o discurso da barbárie da direita porque, afinal, esta é adversária da barbárie da esquerda.

Eu não condescendo é com a barbárie, pouco me importa a matriz.

Mas sei que os cães de aluguel não vão parar tão cedo. Acreditem: isso se tornou uma profissão regiamente remunerada.

Sim, dá para imaginar o caráter de quem encomenda o serviço sujo e de quem o executa…

Em qualquer fase da vida, há momentos reveladores, que iluminam a nossa trajetória, o tempo, as escolhas. E que servem para distinguir a aposta na civilização da manipulação oportunista da barbárie.

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