Editorial: Chefão petista se juntou às empreiteiras para repensar o socialismo

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 23/06/2015 19h10
GUARULHOS, SP, 28.07.2014:PLENÁRIA/CUT - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da 14ª Plenária Nacional da CUT, na noite desta segunda-feira (28), em Guarulhos, na Grande São Paulo. (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress) Marlene Bergamo/Folhapress O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da 14ª Plenária Nacional da CUT

Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta segunda da conferência “Novos desafios da democracia”, promovida pelo instituto que leva seu nome e pelas fundações Friedrich Ebert e Perseu Abramo. O convidado de honra da mesa era Felipe González, ex-primeiro-ministro da Espanha, que Nicolás Maduro, ditador da Venezuela e amigão de Lula, considera inimigo da democracia popular. Mas deixemos isso de lado agora.

O chefão petista resolveu ensaiar um discurso de autocrítica em nome do PT que é, na verdade, elogio em boca própria e esforço de se descolar do governo Dilma para tentar se candidatar à Presidência em 2018. Lula está tentando sobreviver.

Não estava previsto que falasse, mas o falastrão não resistiu e discursou duas vezes. Em uma delas, voltou a pregar a regulamentação da mídia. O homem não tem cura.
No evento em que chegou a se dizer, por duas vezes, cansado, criticou, sim, o PT. Afirmou, referindo-se ao partido:
“Eu, sinceramente, não sei se o defeito é nosso, se o defeito é do governo… Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Eu lembro como é que a gente acreditava no sonho; como é que a gente chorava quando a gente falava (…). Hoje, a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito, ninguém mais quer trabalhar de graça…”. E afirmou que o partido precisa de uma revolução.

Mas não ficou só aí, não. Cantando as próprias glórias, lembrou que, quando era presidente, realizaram-se 74 conferências com os movimentos sociais — é claro que fazia uma crítica indireta a Dilma Rousseff.

Com aquela capacidade de ser grandiloquente sobre o nada, pregou a necessidade de repensar as esquerdas e, pasmem!, o socialismo! Agora já sabemos por que o Brahma era tão íntimo das empreiteiras: estava construindo o socialismo de concreto armado. Deveria haver um limite para o ridículo. Mas não há.

Lula quer tirar o corpo fora. Quando diz não saber se o erro é “nosso” (do PT) ou “do governo”, é evidente que está tentando se descolar da crise e da gestão Dilma, pensando exclusivamente no seu futuro político, apesar de “cansado”.

Nada disso! Tanto a obra como a filha pertencem a Lula. Dilma é aquela que ele escolheu para sucedê-lo, mas os desastres que estão dados não são obra exclusiva da companheira. Eles começaram a ser gestados nos oito anos de mandato do Poderoso Chefão.

Foi ele que aproveitou uma janela de fantástico crescimento da China e elevação formidável das commodities brasileiras para erigir um modelo ancorado puramente no consumo, que tinha como substrato a explosão de gastos públicos, uma política de elevação de salários acima da produtividade e de contínua desindustrialização.

Foi Lula quem demonizou as privatizações, gerando um formidável atraso na infraestrutura, e que interditou o debate político opondo “nós” (eles) contra “eles” — qualquer um que não aceitasse o catecismo herético do petismo.

O que fez Dilma? Deu continuidade ao modelo. Seu erro adicional foi não mudar de rumo quando as circunstâncias já eram outras, com a China crescendo muito menos, e as commodities despencando.

É nesse ponto que ela, tendo como operador o inefável Guido Mantega, opta por bobagens novas para tentar cobrir os rombos produzidos pelas antigas: populismo tarifário, desonerações seletivas, compressão do preço dos combustíveis — contribuindo para levar a Petrobras à lona. E tudo isso, note-se, sem reduzir os gastos. Ao contrário: os gênios decidiram expandi-los, muito especialmente em 2013 e 2014, ano eleitoral.

Lula não sabe se o erro é do PT ou do governo Dilma? Ora, meu senhor! O erro é seu! Tome, que a obra é sua. Tome, que a filha — destinada a ser a Mãe do Brasil, não é isso? A Dilmãe … — também é sua.

Lula está tentando deixar a sucessora pendurada na brocha, como, aliás, venho advertindo aqui há tempos. É claro que em circunstâncias normais, ela deveria, por exemplo, ter vetado o fim do fator previdenciário sem apresentar alternativa nenhuma. Mas foi pressionada, inclusive por seu criador. A proposta que está na MP do governo continua a inviabilizar o sistema.

Aberrações

Coitado do Felipe González! Deve ter ficado espantado. Em primeiro lugar, veio para um seminário sobre democracia e teve de se haver com chororô sobre questões de economia interna no PT.

Depois, foi obrigado a ouvir Paulo Okamotto a confundir democracia — um “exercício solitário de pensar”, segundo ele — com masturbação. O mesmo Okamotto ainda afirmou que as redes sociais “complicam” o regime democrático. Finalmente, Lula encontrou um tempinho para defender Saddam Hussein, no mesmo seminário em que já havia pregado o controle da mídia.

Lula está errado, é claro! O PT não está velho. Está morto.

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