Editorial – Ciro, com ideias para destruir o país, diz coisa certa sobre Lula

  • Por Reinaldo Azevedo/ Jovem Pan
  • 08/05/2017 17h12
Brasilia -O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) fala aimprensa apos almoço reservado a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff Roosewelt Pinheiro/ABr - 29/07/2010 Ciro Gomes - ABR

Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e pré-candidato do PDT à Presidência da República, fez uma palestra nesta segunda na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sim, a equação na qual investe dificilmente vai se realizar. Não creio que lhe será fácil estabelecer uma igualdade entre a sua expressão política e a expressão política do petismo. É equação de muitas incógnitas, e o mais difícil é saber o “valor de Lula” nesse arranjo.

O processo mais adiantado é do tríplex. A menos que tenha surgido alguma prova material, vão se confrontar no próximo dia 10 documentos de fé pública assegurando que o imóvel pertence à OAS e uma penca de testemunhos afirmando que o apartamento é mesmo da família Lula da Silva. Mas o que é lavagem de dinheiro, por exemplo? Vamos ao que define a lei: “Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.”

Ter uma propriedade em nome de terceiros é, vamos dizer, um clássico nessa modalidade. Isso leva as pessoas a fazer alguns juízos estranhos: “Ora, todo mundo sabe que é de Lula, né? Justamente porque ele lavou dinheiro, o imóvel não está em seu nome”. Pois é… Trata-se de uma consideração complicada em direito: afinal, segundo esse raciocínio, a prova de que o bem pertence a Lula está no fato de não haver prova nenhuma, já que ele praticou lavagem.

Ninguém duvida de que Moro vá condenar Lula. Basta levar em conta a sua reação ao pedido da defesa para que fizesse a própria filmagem do depoimento. O juiz poderia ter dito um “não”, alegando da impertinência ao fato de que tal licença não foi a ninguém facultada. Mas preferiu se pronunciar como um político: o petista estaria tentando fazer exploração político-partidária. Querem saber? Acho que sim! Mas a sociedade, a imprensa e os analistas se encarregam de apontá-lo. Um juiz não pode produzir proselitismo político partidário, mesmo que esteja certo. Sigamos.

Uma vez Lula condenado por Moro, sua defesa certamente apelará a embargos de declaração, que em nada devem mudar a sentença. O passo seguinte é apelar ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que raramente contraria Moro. Se Lula for condenado em segunda instância até a realização da eleição de 2018, não pode ser candidato pela Lei da Ficha Limpa. E esse é apenas um dos cinco inquéritos em que é investigado.

Mas atenção!
Ocorre que o petista tem crescido de forma contínua nas pesquisas de opinião — teria hoje, segundo o Datafolha, 30% da preferência do eleitorado, chegando a 39% entre os mais pobres. Se puder ser candidato, será, obviamente, competitivo e entra na disputa como favorito. Se não puder, haverá o represamento de uma tensão política de consequências imprevisíveis. Se eventualmente for preso, tentarão criar o mártir. Se não puder se candidatar, mas com direito de circular livremente, vira uma arma eleitoral.

Por que é assim? Ciro é meio destrambelhado, mas está longe de ser burro. Ele deu a sua explicação:

“A população brasileira está achando, parte importante dela, que ele [Lula] é um perseguido político. E, em parte, é mesmo. E o povo brasileiro odeia perseguição. E o Lula é campeão de entender a psicologia popular e está assumindo esse lugar”.

Pois é… O juízo faz sentido nas duas coisas: tenho ouvido crescentemente dos mais pobres a suposta injustiça cometida contra Lula. E o Babalorixá de Banânia percebeu que havia aí um trilha para avançar. É claro que, com alguns de seus exotismos, a Lava Jato joga, queira ou não, o jogo de Lula. E a direita xucra se encarrega do resto, ao reduzir a figura do ex-presidente à caricatura de um homem ignorante, grosseiro, sem instrução, que atropela as regras da gramática. Isso é mel da sopa. Candidato ou não, o petista saberá usar tudo isso a seu favor.

Frentão de esquerda
Lula e Ciro querem a mesma coisa: uma espécie de frentão de esquerda capaz de atrair setores conservadores. Com o petista, que tem diálogo mais fácil com o PMDB, essa operação seria mais fácil. Ciro já chamou o partido de quadrilha. Por outro lado, tem razão o pedetista ao dizer que o ex-presidente é o candidato da polarização.

Como não se conhece o valor da incógnita “Lula”, não dá para saber se estarão juntos ou não em 2018. A identidade de propósitos parece existir. Os dois prometem destruir o país em caso de vitória. Ciro deixou entrever suas intenções: fazer o país recuar em questões essenciais. Referindo-se à reforma, disse:

“Parte delas deverá ser revertida por absoluta insustentabilidade física. A PEC 55 [teto de gastos], em três, quatro anos, se revelará absolutamente impraticável. Reforma trabalhista dá para resolver. Num governo forte, eleito com base popular, revoga-se fácil por ser infraconstitucional [exigir maioria simples no Congresso]. Quanto à reforma da Previdência, a batalha é agora porque seria muito difícil ter dois terços para mudar”.

Entenderam? Ciro, como Lula, quer ser o candidato contra as reformas.

Capital nacional
E fez o seu apelo, vamos dizer, ao empresariado nacional. Afirmou sobre as empreiteiras, acusadas de corrupção:

“Uma das coisas que têm que fazer é a leniência e restaurar a capacidade da engenharia nacional brasileira voltar a intervir. Imagina se o Lula vai poder fazer isso? Chamar a Odebrecht e: ‘Vem cá, vamos fazer acordo de leniência’. […] Empresa não é corrupta. Corruptas são as pessoas que têm que pagar na proporção justa naquilo que fizeram. Não podemos cair nessa estupidez de destruir um setor em que o país tem protagonismo global, que é a construção civil, e gerar déficit em transações correntes com o estrangeiro também em serviços”.

E mais: criticou a Petrobras por ter excluído de licitação empresas investigadas, apelando a 17 estrangeiras para concluir a obra da Comperj:

“Não se justifica isso! O pretenso moralismo não guarda a menor coerência. Pesquise nas praças dessas 17 empresas se elas respondem ou não por escândalos. Todas respondem”.

Eis aí: reversão das reformas, fim do teto de gastos, incentivo à empresa nacional… A esquerda está dizendo por onde pretende caminhar. E a direita? Por enquanto, tenta cassar e caçar políticos, com seu moralismo rombudo e sua leitura xucra da história.

Se chegasse ao poder com esse discurso, ninguém precisaria de Ciro ou Lula para destruir o país. A direita se encarregaria disso.

Ocorre que os idiotas nunca foram tão imodestos e propositivos.

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