Editorial – Confusos, protestos de domingo interessaram às esquerdas

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 27/03/2017 17h33

Paulistanos protestam contra a anistia ao caixa dois e a políticos envolvidos na Lava Jato em protesto na Av. Paulista neste domingo EFE/Fernando Bizerra Jr. Paulistanos protestam contra a anistia ao caixa dois (2) a políticos envolvidos na Lava Jato em protesto na Av. Paulista neste domingo

Crônica de desastre anunciado? Melhor ser rigoroso também com o texto: foi a crônica de um clichê anunciado.

Não gostava do que antevia quando se anunciou o protesto e gosto menos ainda do resultado. Por que me opus à manifestação? A pauta era ampla e confusa; tanto o sucesso como o insucesso interessariam às esquerdas; mais uma vez, assistiríamos a uma depredação da racionalidade e da lógica. Uma pena e uma lástima!

A Lava Jato nunca esteve e não está sob ataque. Essa é uma das fantasias criadas pelo lado vicioso da operação. Os que foram posar de templários do Ministério Público Federal apoiam também os vazamentos industriados pela agenda secreta de um órgão que se quer o Poder dos Poderes?

A isso se juntaram, a depender do grupo, a defesa da reforma da Previdência (sim, eu endosso); a extemporânea revisão do Estatuto do Desarmamento; o fim do foro especial –um equívoco pautado por ignorância constrangedora–; o repúdio à anistia ao caixa dois (outra ficção) e a rejeição ao fundo público de campanha e ao voto em lista pré-ordenada.

Então os manifestantes se rendem à pauta política do MPF, mas rejeitam seus desdobramentos práticos e fatais? Não se vai, dadas impossibilidades várias, retomar a doação de empresas para 2018. Terá de ser fundo público, eventualmente misto. E isso implica, não há saída, a lista.

Sim, ouvi neste domingo um “não” a “mais dinheiro para os políticos”. É de uma alarmante irracionalidade. Felizmente, escrevo ancorado em princípios, não em oportunidades.

No meu blog, nesta Folha e em toda parte, sempre deplorei o viés antipolítico dos atos contra o impeachment. Os movimentos que quiseram ouvir a minha opinião a conhecem de maneira clara e insofismável: não acredito em política contra a política; em políticos contra os políticos. Há pelo menos 25 anos combato essa picaretagem intelectual, exercitada à direita e à esquerda.

Enfrento o diabo nas redes sociais, que não são a tradução da vida real, desde que afirmei que a demonização da política, conduzida pelo MPF e pelo candidato Rodrigo Janot, acabaria por retirar do PT o papel de protagonista do petrolão. E cravei: a direita xucra ressuscitará as esquerdas. Acertei. E os xucros escoicearam.

A população não aderiu à pauta do fim do mundo. Ou intui ou percebe que a depredação do Congresso ameaça os passos iniciais da recuperação da economia.

Ademais, sem alternativas, resta a estratégia de redução de danos. Que se aprovem já, para 2022, o voto distrital misto e a volta do financiamento por empresas, na forma da lei. E teremos três anos para discutir essa legislação e para criar os distritos.

E sem queimar navios!

“Ah, a gente quer queimar navios…”

Vão adiante! Entendam-se, então, com o povo, não apenas com os fanáticos da sua igrejinha piromaníaca. Há gente que anseia ser a vanguarda do retrocesso. Não é de hoje.

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