Editorial – Corregedoria da PF tem de investigar. Lembram-se da Satiagraha?
Vamos ver. O papelão supostamente misturado à carne dizia respeito a embalagens. Os ácidos sórbico e ascórbico (vitamina C) não são cancerígenos. A cabeça de porco não é imprópria para consumo, e seu emprego em embutidos é permitido. A expressão “carne podre” é um jargão da área que não designa “carne putrefata”. Relembremos mais.
São 4.837 postos de processamento de carne no país. Havia 21 numa lista de suspeitos, e apenas três sofreram interdição. Mais um pouco. As 21 plantas que estão sob vigilância especial responderam, no ano passado, pela exportação de US$ 120 milhões, de um total do setor de US$ 13,5 bilhões. Menos de 1% — 0,89%…
Não obstante, o prejuízo já provocado pela dita Operação Carne Fraca é gigantesco. O país está pagando caro por isso. E não se sabe quando a coisa volta à normalidade. Há seis milhões de pessoas empregadas no setor. Há milhares de pequenos produtores. De imediato, há uma queda de rendimento porque é claro que o preço da carne brasileira cai. E os concorrentes aproveitam para fazer suas ofertas. Isso afeta o plano de investimentos.
E, no entanto, cabe perguntar: o que vai acontecer com os responsáveis por essa patuscada? Resposta: nada!
E a Corregedoria?
Bem, não sou do tipo que dá curso a teorias conspiratórias. Também não me caracterizo por sair fazendo acusações a esmo. Mas quem viu, como vi, a Operação Satiagraha, estrelada pelo tal delegado Protógenes — que chegou a ser herói das esquerdas e dos petistas —, bem…, quem acompanhou aquilo sabe que sempre há o risco de operação até fundamentada acabar servindo a larápios.
É evidente que a Corregedoria da Polícia Federal (Coger) tem de apurar o que aconteceu. Reitere-se: ninguém está a dizer que é impossível haver crimes na agropecuária brasileira. Mas também não dá para ignorar que esse é um setor em que o Brasil se destaca com folga, o que sempre desperta a atenção de lobbies que gostariam que as coisas se dessem de modo diferente.
“Está sugerindo o quê, Reinaldo? Que a PF e alguns de seus agentes podem ter se deixado corromper?” Não! Se quisesse sugerir, sugeriria. Não sou oblíquo. O que sustento é que a turma que se meteu na “Carne Fraca” deve uma explicação à sociedade. Em vez disso, já afirmei aqui, há agentes plantando mais fofocas na imprensa.
Autoexílio na Suíça
E, de resto, também não dá para descartar que agentes federais percam o eixo. Voltemos a Protógenes. Sabem onde ele está agora? Num autoexílio na… Suíça! Não é podre de chique? O homem foi expulso da Polícia Federal em razão dos métodos a que recorria, acabou condenado a dois anos e meio de prisão e… ora, ora, resolveu fugir.
Afirmou aos suíços que, no Brasil, correria risco de vida em razão de seu combate à corrupção (podem gargalhar!). Contou ter sofrido quatro atentados, diz que teve uma filha sequestrada. Bem, amiguinhos, cansado de tudo isso, ele resolveu mudar de vida!
Um dia, aliás, alguém há de se interessar pela história da Satiagraha. Os leitores mais jovens não sabem: inventou-se um monstro chamado “Daniel Dantas”. Ele era o alvo principal da tal operação. Atender a simples requisitos do estado de direito, no que lhe dizia respeito, era visto pelas esquerdas — sim, Protógenes atuava em parceria com esquerdistas — como defesa de bandidos… O fato é que o PT não queria que Dantas continuasse com a Brasil Telecom e a queria vendida para a Telemar, como aconteceu, dando origem à Oi, que está quebrada…
Sim, há muita coisa daqueles dias ainda por vir à luz: saber quem trabalhava a serviço de quem, por exemplo. E não só na Polícia Federal. Também jornalistas e colunistas — ou subjornalistas e subcolunistas — foram tocados pelo vil metal. Cansado da brasileirada, alegando uma perseguição que ninguém viu, o doutor resolveu mudar de ares… Cedo ou tarde, certos heróis encontrarão seu berço.
Encerro reivindicando que a Corregedoria da PF dê uma resposta à sociedade. E não venham me dizer que “ainda é cedo para isso”. Não é, não! É preciso que fique claro que coisas assim não podem voltar a acontecer. E isso só se dará se o atípico for tratado como tal.
Ainda que eventuais irregularidades fossem multiplicadas por mil, se estaria diante de uma fatia irrisória do setor. E, para que se chegue a essa conclusão, basta olhar os números.
Corregedoria já!
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