Editorial: Dilma mantém distância do PT e não vai participar da sessão “malha-Levy”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 09/06/2015 18h29
BRASÍLIA, DF, 16.03.2015: DILMA-DF - A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de sanção da lei do Novo Código de Processo Civil, no Palácio do Planalto em Brasília (DF), nesta segunda-feira (16). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) Pedro Ladeira/Folhapress Dilma Discursa após manifestações

Às vezes, o governo faz a coisa certa. Às vezes, a presidente Dilma Rousseff toma a decisão correta. Quando isso acontece, especialmente porque é raro, é preciso que se aponte a recusa do erro. A que me refiro?

Dilma viajou para a Bélgica nesta terça-feira. A previsão inicial é de que já estaria de volta na quinta, quando o PT abre, na Bahia, o seu 5º Congresso. Mas não será assim. A presidente só retorna na madrugada de sexta. Não vai participar, portanto, da solenidade de abertura do evento, como estava programado. Ainda não está confirmado se ela vai ao encontro da companheirada na própria sexta ou no sábado, no encerramento.

É claro que a presidente faz bem em cair fora da abertura. Ela sabe a patuscada que lá está armada contra Joaquim Levy, aquele que, segundo ela, não é Judas, e que chega a ser um Jesus Cristo, segundo Michel Temer, vice-presidente da República e coordenador político do governo.

A situação não deixa de ser surrealista. Dilma evita a abertura de um congresso do seu partido porque não quer participar — e está certa — do linchamento político de Levy. Até parece que os petistas lhe fazem um favor empregando-o, não ele um favor ao petismo tentando consertar as bobagens feitas nos últimos anos.

Ir a um encontro dessa natureza, na abertura, sem que se tenham contido os radicais, é o mesmo que entregar o ministro às cobras. Ora, diga-se de novo: a política econômica que está aí é de Dilma, não de Levy. Ela só o chamou porque ele é ele; se precisasse de um petista, Aloizio Mercadante estaria à mão.

A falta de Dilma à abertura deixa frustradas todas as correntes. As esquerdas do partido queriam que ela assistisse à sessão “malha-Levy”. Os ditos moderados lulistas da “Construindo um Novo Brasil”, a corrente majoritária, queriam que ela usasse o evento como uma reaproximação com a base. É evidente que não faz sentido a presidente da República participar de uma, como vou chamar?, “sessão de descarrego” contra seu ministro da Fazenda. Ainda que compareça ao local na sexta ou no sábado, o recado está dado.

Conversão à esquerda
A corrente “Construindo um Novo Brasil”, majoritária no PT, vai apresentar um documento no 5º Congresso em que prega, para 2018, a aliança com partidos de esquerda e com movimento sociais. No encontro do próximo fim de semana, o grupo não pretende liderar as críticas a Levy — mas também não irá defendê-lo — e dirá que a salvação da legenda está numa conversão à esquerda.

Diz o texto:
“(…) Nossa proposta é a constituição de uma nova coalizão, orgânica e plural, que se enraíze nos bairros, locais de estudo e trabalho, centros de cultura e pesquisa, capaz de organizar a mobilização social, o enfrentamento político-ideológico, a disputa de hegemonia e a construção de uma nova maioria nacional”(…)

Vamos traduzir: isso quer dizer que o PT já tem a certeza de que não haverá uma aliança com o PMDB em 2018, o que é, sem dúvida, uma boa notícia. Os petistas de Lula estão anunciando, em suma, que vão suportar Levy agora para, depois, tentar uma volta à esquerda. O partido já foi bom em incendiar o imaginário popular. Hoje em dia, quando se fala da turma, os brasileiros logo pensam em roubalheira, polícia e cadeia.

Tenho certa curiosidade de saber contra quem os petistas dispararão seus petardos em 2018, não é?, depois de 16 anos de governo companheiro. O país ainda estará muito longe da retomada de um crescimento sólido, sustentável, e parte dos alvos serão parceiros de jornada. Parece certo que, em 2018, ou o PMDB terá candidato próprio ou se somará a forças que hoje estão fora do poder.

A palavra “hegemonia” merece atenção no texto da “Construindo um Novo Brasil”. O PT hegemonizou, de fato, a política nos últimos anos se unindo a frações do conservadorismo. Será mesmo possível criar uma força majoritária, com um mínimo de consenso, apelando apenas à esquerdas? Até onde a vista alcança, não!

Mas acreditem, não serei a tentar impedir o PT de cometer um erro.

Dilma tomou a decisão correta. Quanto mais longe ela ficar dos erros e preconceitos do PT, melhor para o país.

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