Editorial: Dilma não quer cair e busca esfacelar o PMDB; o resultado é mais bagunça

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 27/08/2015 19h01
BRASÍLIA,DF,07.09.2014:DESFILE-7 DE SETEMBRO - A presidente da República e candidata a reeleição, Dilma Rousseff, durante preparativos desfile Cívico-Militar de 7 de Setembro realizado em Brasília, DF, neste domingo (7). . (Foto: Beto Nociti/Futura Press/Folhapress) Folhapress Dilma Rousseff chegou para o desfile em Brasília em carro aberto

O Planalto tem lá seu jeito de fazer as coisas. Errado, como sempre. Na terça à noite, fora da agenda, a presidente Dilma Rousseff recebeu em jantar, no Palácio da Alvorada, sete empresários. Dividiram a mesa com a presidente Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Rubens Ometto (Cosan), Benjamin Steinbruch (CSN), Cledorvino Belini (Fiat), Joesley Batista (JBS), Edson Bueno (Dasa) e Josué Gomes (Coteminas). Os empresários falaram sobre a necessidade de cortar gastos públicos, reclamaram da recessão e coisa e tal. Dilma, por sua vez, reclamou da desaceleração da China e também coisa e tal. E aí? Bem, aí nada! Coisa e tal.

Nesta quinta, é a vez de Michel Temer, vice-presidente da República, se encontrar com empresários na Fiesp, em evento capitaneado pelo presidente da federação, o também peemedebista Paulo Skaf. Pelo menos três dos convivas de Dilma vão se encontrar com o vice: Trabuco, Ometto e Steinbruch. Aliás, no seu papel de coordenador político, função de que apeou, Temer procurava fazer justamente a interlocução com o empresariado. Os petistas, já tratei do assunto aqui, achavam que ele estava se viabilizando como alternativa de poder.

O que poderia ser um esforço de Dilma para retomar a iniciativa política acaba se caracterizando como um improviso. Por que um jantar fora da agenda, com ares quase clandestinos? Ninguém precisa disso para encontrar parcela significativa do PIB — desde, é claro, que tenha o que dizer. Ocorre que a presidente se empenha hoje naquele que virou o único objetivo do governo: não cair. É claro que é muito pouco, não é mesmo?

Se esse é o objetivo estratégico, a ação tática consiste em tentar enfraquecer o PMDB, investindo na divisão interna. A Procuradoria-Geral da República atuou como força-auxiliar quando abriu a lista dos políticos denunciados com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Depois de, na prática, inviabilizar a atuação de Temer na coordenação, Dilma tenta, como se viu, a sua própria interlocução com os empresários. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi conquistado na semana passada, à esteira do tal acordão.

Mais: no dia 13, Dilma chamou para um papinho, informa a Folha, Jorge Picciani, o peemedebista que preside a Assembleia Legislativa do Rio, e seu filho, Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara. Pezão, o governador do Estado, intermediou o encontro. Os Piccianis são aliados de Cunha. Foi o presidente da Câmara quem fez do jovem Leonardo o líder do partido. Dilma agora resolveu medir forças o presidente da Câmara.

Vocês estão entendendo a natureza da melancolia? O governo não se move hoje para tentar encontrar alternativas de gestão. Está perdido. Dilma e os petistas se dedicam apenas a uma guerra interna contra o seu principal aliado, o PMDB. Até o sempre moderado Michel Temer se mostrou incompatível com a forma como ela toca o governo. Esses movimentos, em vez de aumentar a confiança do empresariado, só concorrem para o descrédito.

Todos sairiam ganhando se Dilma reconhecesse a tempo que não é do ramo.

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