Editorial: É claro que empreiteiras também são vítimas de uma máfia instalada no poder para extorquir

  • Por Jovem Pan
  • 18/11/2014 18h02
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Não pensem que vou livrar a cara das empreiteiras. Não vou, não! Mas é preciso reconhecer o óbvio. Se existe um esquema que se apodera do Estado e que pratica extorsão, as empresas contratadas para realizar obras ou para prestar serviços têm uma de duas alternativas: pagar a propina ou não participar do clube. Ora, quem é o maior contratante de grandes obras de infraestrutura no país? É o Estado e seus respectivos entes, como as estatais. Portanto, um governo bandido ou que deixa que a bandidagem atue livremente é, em último caso, o verdadeiro responsável pela safadeza.

Por que afirmo isso? O diretor de Óleo e Gás da construtora Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca, afirmou à Polícia Federal que aceitou pagar propina ao esquema porque foi extorquido. Segundo disse, realizou a operação depois de sofrer ameaças de Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Ou a grana saía, ou a empresa seria prejudicada.

Querem saber? Não tenho muitos motivos para desconfiar de que tenha sido assim. Já Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, diretor da Toyo Setal, afirma que o petista Renato Duque, ex-diretor de Serviços e braço de José Dirceu na estatal, era o homem encarregado de falar com o que se denomina “clube das empreiteiras”. Mendonça Neto e um companheiro de empresa, Julio Camargo, disseram à PF que o grupo foi formado em 2008, para executar as obras da refinaria Abreu e Lima.

Pois é… Será que é mentira? Uma coisa é certa: um único subordinado de Duque aceitou devolver R$ 252 milhões — ou US$ 97 milhões. Reitero: não era ele o chefe que falava em nome do PT; era Duque.

Por que duvidar de que um sistema de extorsão estava em curso? Então não é assim que opera o poder de turno, e disso já se sabe faz tempo? Converse em off com empresários, com prestadores de serviços, com pessoas obrigadas a lidar com o setor público. E então se saberá a verdade. Mas ninguém se atreve a falar. De resto, há de se supor que, para muitos, o esquema é mesmo vantajoso.

Atenção! Um governo virtuoso torna necessariamente virtuosas as relações com o setor privado. Se governos ou seus representantes não extorquem ninguém, então extorsão não há. Se governos e seus representantes não estimulam a formação de carteis — e, ao contrário, procuram coibi-la –, então carteis não há.

As empreiteiras pagaram propina, sim. Pessoas que aceitaram fazer delação premiada devem devolver quase meio bilhão aos cofres públicos. É dinheiro de propina. Os corruptores terão de pagar por seus atos, é claro! Mas que fique claro: em certa medida, eles também são vítimas. Ou aceitavam a extorsão ou teriam de arcar com as consequências de praticamente ficar fora do mercado.

Há os erros cometidos pelas pessoas, há as responsabilidades individuais, as circunstâncias dos crimes etc. Mas que a gente jamais se esqueça de uma verdade evidente: o que está errado no Brasil é o tamanho do Estado. Se uma máquina mafiosa o assalta, a sociedade fica à mercê de bandidos.

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