Editorial – Entre o caos e a esperança, ao menos

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 15/04/2016 13h49
EFE/Fernando Bizerra Jr. Michel Temer e Dilma Rousseff - EFE

Por definição, o governo Michel Temer é uma opção melhor do que a eventual continuidade dessa coisa sob o comando formal de Dilma Rousseff. É uma verdade aritmética e política. O vice não será titular com menos de 342 votos na Câmara e 54 no Senado. A petista poderia permanecer no Palácio ainda que com voto nenhum. Basta, para tanto, que o outro lado não atinja o mínimo necessário em cada Casa.

Ou por outra: Temer só será presidente com uma esmagadora maioria episódica, a partir da qual se estabeleceriam caminhos para uma maioria duradoura. Dilma, no entanto, pode continuar agarrada ao osso tendo como esbirro a Armata Brancaleone dos 171 ou se faltar um único voto a seus adversários.

Há um velho adágio latino segundo o qual os deuses, quando querem destruir alguém, começam por lhe tirar o juízo. E é a isso que estamos assistindo. Duvido que mesmo os esquerdistas, por mais lassa que seja a sua moralidade, sintam conforto ao ver Lula negociar a República num quarto de hotel.

A história brasileira não exibe nada semelhante. E se ignora que algo parecido tenha se dado alhures. Especialmente quando o negociador é um homem investigado pela polícia e não exerce cargo nenhum na República.

Por mais que a sem-vergonhice política tenha atingido limites insuspeitados; por mais que nossos critérios para avaliar a ação dos homens públicos tenham cedido ao relativismo; por mais que tenhamos aderido ao pragmatismo como o último deus, um país não pode mimetizar a rotina de um prostíbulo.

E tudo isso pra quê? Como diria o poeta, “pra nada!” As negociações desavergonhadas de Lula, se bem-sucedidas, manterão o país na desordem e ainda implicarão, necessariamente, o rebaixamento do atual padrão de gestão.

Se os moralistas de última hora reclamam da qualidade dos que mudam de lado e aderem ao impeachment, como vejo fazer alguns dos colegas colunistas, peço especial atenção, então, aos relevos de caráter dos que permanecem do lado de lá, aceitando a rotina das trocas.

Não bastasse, vem um recado do quarto de hotel: se o impeachment não for aprovado, Lula, então, assumirá o governo, e haverá uma nova gestão. Ora vejam: é uma gente capaz de chamar de “golpe” a ascensão do vice, que foi eleito, segundo a norma constitucional, e de entregar a Presidência da República a quem não obteve voto nenhum. Lula, aliás, acelerou a morte do governo Dilma. E vai ser impichado junto com ela.

A única possibilidade de haver um golpe branco na República é o impeachment não sair vitorioso –já que não tem como ser derrotado. Nesse caso, Lula continuaria à frente da Presidência, como está hoje, tendo Dilma como um fantoche. Para isso chegamos à democracia? Não creio.

As esquerdas inventam gestas que só existem na sua imaginação perturbada, talhada para justificar crimes. A deposição de Dilma seria só um rearranjo dos potentados econômicos, dispostos, mais uma vez, a espoliar o povo. Nem parece que o PT foi flagrado ora em decúbito dorsal, ora em ventral, com empreiteiros e outros membros das “zelites” menos impopulares no jornalismo.

Senhoras deputadas e senhores deputados, vocês escolherão neste domingo entre as possibilidades da esperança e o risco do caos.

E, no entanto, idiota da objetividade que sou –deixo os voos subjetivos para os colunistas do outro lado–, eu estaria aqui a defender o voto contra o impeachment se Dilma não tivesse cometido crime de responsabilidade. Mas ela cometeu.

Chegou a hora. 

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