Editorial – Extrema-direita que arma a volta de Lula se junta contra mim!
Por que a extrema-direita resolveu decretar, como quer o mais tolinho e circense deles, a minha morte? Porque cravei a expressão “direita xucra” para definir aqueles que, na prática, estão criando o caldo de cultura para a volta das esquerdas. A recuperação eleitoral de Lula e um voto hoje majoritário com sinal de esquerda — não quer dizer que fique assim — decorrem da permanente depredação da política. Mesmo o funcionamento normal dos Poderes, com suas regras e ritos, é visto como instrumento da impunidade. A pergunta que boa parte da população se faz é esta: “Se ninguém presta, por que tiraram o PT do poder?”
Mas não é só. Apontei que a manifestação marcada para o dia 26 acabará entrando como um passivo na conta de um governo que, a duras penas, tem conseguido recriar os fundamentos para a recuperação da economia. Há mais: já que ninguém ameaça a Lava Jato — ou demonstrem o contrário! — e que ela pode seguir fazendo o seu trabalho, o terreno não-petista deveria se dedicar aos temas, estes, sim, afinados com uma reforma liberal: reforma da Previdência, reforma trabalhista, reforma política para aprimorar a representação.
Sim, as pessoas têm suas prioridades. Qualquer cabeça liberal organizada, que tem uma razoável distância entre o fígado e o cérebro, sabe que, para o futuro, mais importante do que a sanha punitiva (que se aplique a lei, ora!) é criar estruturas que impeçam que os erros se repitam; é criar um modelo que dependa menos de arbitragens individuais; é criar um arcabouço institucional infenso a “entes de razão”, como o PT, que aparelham o Estado; é criar regras que impeçam a democracia de ser — para usar uma palavra que Tiago Pavinatto recuperou, esmagada pelos escombros da ignorância militante — um apanhado de solipsismos truculentos de senhores da guerra.
Aqui uma nota: entre as vigarices que se espalham pelas redes, acusam-me de ter passado a “atacar o MBL”. É uma mentira! É uma farsa grotesca! Até porque os mesmos que agora se apresentam como hienas, achando que sou a carniça, também tinham o movimento como alvo até outro dia. Tampouco, já deixei isso claro, considero que um movimento como Vem Pra Rua integra essa extrema direita que relincha.
De volta ao ponto
Boa parte dos que agora se juntam para gritar “Destruam Reinaldo Azevedo! Ele não é direita! Nós somos a verdadeira direita” estava calada quando o PT dava as cartas. Tinha receio de falar. Outros, é o caso de Olavo de Carvalho, precisam de uma esquerda poderosa e no poder para que possam exercer a sua pantomima de resistência.
Há uma diferença entre combater a esquerda por convicção e fazê-lo como meio de vida. Vocês não se comovem com “intelectuais” que ficam pedindo contribuições a seus seguidores, alegando perseguição? Ora, são perseguidos apenas pela sua preguiça e pela sua incompetência. Quando não pelas duas coisas, somadas à arrogância. Uma das razões que os enfurecem são os meus vários empregos. Dizem: “Ah, ele é a direita que a mídia deixa aparecer!”
Não! Eu sou a direita que civiliza o debate e não ataca o eleitor de Lula porque ele é nordestino. Eu sou a direita que pede a venda de todas as estatais, sem exceção, em vez de sair por aí a atacar homossexuais. A propósito: perguntem se o “presidenciável” Jair Bolsonaro venderia a Petrobras e o Banco do Brasil… Seus “fiéis” acham mais importante atacar gays que se beijam em público. Eu sou a direita que submete, sim, certas convicções à realidade. Tome-se o caso das drogas: as pessoas são livres para se matar. Mas a legalização não, vamos lá, uma matéria “solipsista”. É preciso ver em que contexto se dá.
A esquerda voltando, e eles…
Ora, vejam que coisa: a esquerda voltando ao poder, e a extrema-direita conjurada para atacar… Reinaldo Azevedo!!! Eis a prioridade deles. E os vermelhos e oportunistas, claro!, se divertem. Certa senhora diz que que vai revelar uma grande bomba sobre mim, os meus segredos (que medinmho!!!), e páginas de esquerda estampam isso em títulos garrafais.
Eu estava certo
Há muito eu vinha alertando que certos desvios de conduta da Lava Jato, associados a esse espírito miliciano que transforma simples divergência em sabotagem, como faziam antes os petistas, acabariam revigorando a esquerda. E, como observou Elio Gaspari — de quem costumo divergir, diga-se — a jararaca está viva e engordou.
Querem mais? Se os prazos forem cumpridos como de hábito, sem aceleração oportunista, a eleição de 2018 acontece antes de Lula ser condenado na segunda instância — na hipótese de que vá, claro! Na primeira instância, será: ninguém duvida da honradez de Sérgio Moro. E, sim, o homem é um candidato viável.
Mas o inimigo a ser destruído pela extrema-direita sou eu.
Eu estava certo. Os extremistas, oportunistas e especuladores resolveram se ligar à ala místico-salvacionista da Lava Jato e levaram a política à lona. É o cenário ideal para o crescimento de fascistoides de esquerda e de direita. Não por acaso, Lula lidera a mais recente pesquisa. Em segundo lugar, empatado com Marina, está Bolsonaro…
Imaginem, a esta altura, o espírito daqueles que têm de se arriscar, porque sempre há risco, para investir no país.
É evidente que a demanda dos que me acompanham para eu responder àqueles que me atacam é gigantesca. Agora o grupo conta até com uma espécie de mestre de cerimônias. Proponho a todos vocês um exercício: a cada vez que alguém identificado com a “direita” me atacar, recorram ao Google e procurem saber o que falei a respeito da pessoa em questão no meu blog, no passado. Não há exceção. Ou foram elogiados ou foram defendidos por mim quando o meu blog era uma das poucas trincheiras de combate ao PT.
Alguém poderia indagar: “E por que eles todos passaram a atacá-lo? A culpa deve ser sua”. Bem, a minha responsabilidade aí se limita a algo de que não me arrependo: uso de boa-fé com as pessoas e parto do princípio de que fazem o mesmo comigo. Nos casos mais virulentos, a razão é apenas uma: são pessoas querendo ganhar espaço no chamado “mercado de ideias da direita”. É claro que isso define caráter. Fazer o quê?
Recorrem a uma farsa para tentar justificar as suas agressões, que têm razão puramente comerciais: “Reinaldo Azevedo mudou de opinião sobre isso e aquilo…” Uma ova! Nem sobre isso nem sobre aquilo. Eu só me recuso a ser patrulhado por quem quer que seja. Nem pelos petistas nem pelos antipetistas; nem pela esquerda nem pela extrema-direita.
Já escrevi centenas de vezes sobre a importância da Operação Lava Jato para o Brasil. E apontei, quando achei necessário, os exageros que cometeu. E o farei sempre que acontecer. Sim, Lula também chegou a ser alvo de arbitrariedades. Será que um “direitista”, como sou, está proibido de reconhecê-lo? Não sou militante partidário nem disputo poder.
Vão plantar favas!
O fato é que eu acertei, e eles erraram. Já escrevi sobre uma epígrafe que está no livro “The captive mind”, de Czeslaw Milosz (Penguin Books), que recomendo vivamente. É uma espécie de ditado ou um aforismo espichado atribuído a um velho judeu da Galícia, que traduzo assim: “Quando alguém está 55% certo, isso é muito bom e não há discussão. Se alguém está 60% certo, isso é maravilhoso, é uma grande sorte, ele que agradeça a Deus. Mas o que dizer sobre estar 75% certo? Os prudentes já acham isso suspeito. Bem, e sobre estar 100% certo? Quem quer que diga que está 100% é um fanático, um facínora, o pior tipo de velhaco.”
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