Editorial: Haddad e os sem-teto: grupos petistas tomam o bem público, impõem a sua agenda na porrada e atropelam os direitos dos pobres

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 01/12/2014 18h11
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Fernando Haddad (camisa azul) sobe em carro de som e conversa com manifestantes durante protesto do MTST no dia 26/03

Marcelo Camargo/Futura Press/Folhapress Fernando Haddad sobe em carro de som durante protesto do MTST
Em sua coluna na Folha Online na semana passada, Guilherme Boulos, o coxinha extremista que comanda o MTST — Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto –, resolveu me atacar. Explicável. Sou dos poucos colunistas da grande imprensa que criticam as ilegalidades que ele e sua turma promovem e que denunciam a parceria criminosa do grupo com a Prefeitura de São Paulo.

Se vocês querem saber como funciona a máquina petista que cria, como posso chamar?, “vítimas privilegiadas” e que privatiza o bem público em benefício de um partido político, basta que se olhe para o que está em curso em São Paulo com os ditos movimentos de sem-teto. O negócio é vergonhoso. Na sexta-feira, o Ministério Público abriu um inquérito para investigar um troço gerenciado pela Prefeitura do petista Fernando Haddad chamado “Minha Casa Minha Vida Entidades”. Em que consiste?

Lá vai: o prefeito se comprometeu a entregar 11 mil unidades habitacionais construídas com recursos públicos para os ditos movimentos de sem-teto, que as redistribuirão entre os seus militantes. Pessoas que estão há anos na fila da moradia que esperem! As ditas “entidades” terão a preferência quando essas casas existirem.

E que “entidades” são essas? Na maioria das vezes, grupos ligados ao PT e que ajudaram a fazer a campanha de Haddad. Dito de outro modo: o prefeito paga a fatura com o dinheiro que é de todo mundo, atropelando, adicionalmente, direitos de gente que também não tem moradia.

Ao decidir apurar o privilégio, o promotor Marcus Vinicius Monteiro dos Santos, da área de Habitação e Urbanismo, afirma que a proposta da gestão Haddad pode “ferir o princípio da isonomia ao dar tratamento diferenciado” aos sem-teto em detrimento das pessoas que esperam receber um financiamento por meio da fila de cadastrados na Prefeitura.

Nos dois anos de gestão petista, já demonstrou levantamento da Folha, as invasões de áreas públicas e privadas por ditos movimentos de sem-teto triplicaram: de 257 no biênio 2011-2012 para 681 em 2013-2014.

Uma pequena radiografia desses movimentos, feita por reportagem de VEJA.com, deixa claro do que se está falando. O mais midiático deles é o MTST, comandado por Boulos. Isso se deve, em boa parte, à personalidade egocêntrica de seu líder, um extremista oriundo de uma família rica, com formação universitária e candidato a pensador. As bobagens que diz têm certo sotaque acadêmico, e ele disfarça bem a própria ignorância com velhos chavões da esquerda.

Não passa de um esbirro do PT, mas conta também com a simpatia de PSOL e PSTU. O MTST costuma promover a invasão de grandes terrenos. Haddad, que já discursou sobre um caminhão do movimento, regularizou invasões do grupo, como a Nova Palestina, na região de Guarapiranga — que é área de mananciais — e a Copa do Povo, perto do Itaquerão.

Mas o MTST está longe de ser o único grupo organizado. A FLM — Frente de Luta por Moradia — reúne nada menos de 10 movimentos e comanda a ocupação ilegal de 13 prédios. Foi essa FLM que promoveu quebra-quebra, pancadaria e incêndios e partiu pra porrada contra a Polícia Militar durante a reintegração de posse do Hotel Aquários, no dia 16 de setembro, transformando o Centro de São Paulo numa praça de guerra.

Entre as dez entidades filiadas à FLM, as de maior destaque são o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) e a Unificação das Lutas de Cortiços e Moradia (ULCM), que, já cadastrada no Ministério das Cidades, conseguiu dois convênios com o “Minha Casa Minha Vida Entidades”: o edifício Ipiranga e um prédio do antigo INSS.

De tal sorte se multiplicam as entidades de invasão que já há espaço para um grupo que se opõe à supremacia do PT na área: uma turma rompeu com a petista FLM e fundou o Movimento Sem Teto de São Paulo (MSTS), que não deve ser confundido com o MTST, do petista Boulos. O MSTS lidera sete invasões.

Seus comandantes fizeram campanha para o PSDB em 2014 e reclamam dos privilégios concedidos por Haddad aos do seu partido. Referindo-se à truculência dos invasores petistas, afirma Wladimir Ribeiro Brito: “Os outros colocam fogo em ônibus, fazem tudo o que fazem e ganham os benefícios. Eles recebem a cereja do bolo e a gente só fica com a raspa do tacho. Tem que ser dividido igual”.

Irritado com o que considera diferença de tratamento, o MSTS invadiu o prédio do antigo INSS, que estava reservado para os chapas-brancas da Unificação das Lutas de Cortiços e Moradia (ULCM), e o antigo cine Marrocos, que foi comprado pela Prefeitura para ser a sede da Secretaria de Educação. E agora a ironia: Haddad, que sobe no palanque armado por Boulos e legaliza as invasões promovidas pelo coxinha extremista, recorreu à Justiça para ter o cine Marrocos de volta. Com que autoridade moral? Será que o faz só porque o MSTS não é da sua turma?

Uma nota para encerrar: lembram-se daquele decreto da presidente Dilma, redigido por Gilberto Carvalho, que entrega nacos da administração federal aos ditos “movimentos sociais”? Eis aí: a expressão “movimentos sociais” significa, na prática, grupos organizados pelo PT, que tomam o bem público, impõem a sua agenda na base da porrada e atropelam os direitos dos pobres que não se subordinam às suas ordens.

 
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