Editorial: Haddad tem de ser processado criminalmente

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 19/08/2015 18h45
Tiago Muniz / Jovem Pan Idoso é atropelado em ciclovia sob o Minhocão

Florivaldo Carvalho da Rocha, 78 anos, está morto. Talvez os pragmáticos digam: “Ah, já estava velho mesmo, e a cidade de Fernando Haddad é para os novos”. No domingo, morreu um garoto de nove anos. Talvez os pragmáticos digam: “A cidade de Fernando Haddad não é para os muito novos”. Florivaldo morreu atropelado por uma bicicleta, na tarde desta segunda, quando aguardava para atravessar, na ilha de pedestres da ciclovia da avenida General Olímpio da Silveira, que passa embaixo do elevado Costa e Silva, o chamado Minhocão. Ainda foi socorrido pelo ciclista, Gilmar Raimundo Alencar, de 45 anos, mas não resistiu a politraumatismo craniano. O menino morreu atropelado por uma van na avenida Bento Guelfi, na zona Leste de São Paulo.

Nos dois casos, as áreas exclusivas para bicicletas são aberrações urbanas, fruto da obsessão e da monomania de um prefeito que resolveu desafiar a lógica, o bom senso e o direito que têm as pessoas de ir e vir. Quem responde por essas duas mortes? Do ponto de vista das escolhas administrativas e urbanísticas, é o prefeito Fernando Haddad.

A ciclofaixa que passa sob o Minhocão é verdadeiramente criminosa. Produzir ali um cadáver era questão de tempo. E outros virão. Ali como em todo canto. Aliás, só não temos mortos em penca — ciclistas inclusive — porque as bicicletas quase não existem. Dia desses, revelei aqui, quase fui atropelado por uma na Avenida Paulista. Eu estava cumprindo as regras, como Florivaldo. O ciclista não.

Para construir a ciclovia sob o Minhocão, Haddad deslocou por meses os passageiros de ônibus, deixando-os em pontos ao relento, chovesse ou fizesse sol. Inaugurada a pista, levou-os de volta sob o Minhocão, fazendo-os conviver com ciclistas. Sim, são muito poucos. Mas transitam por ali em alta velocidade.

Cadê o Ministério Público? Fernando Haddad, o prefeito, e seu secretário de Transportes, Jilmar Tatto, têm de ser processados e responsabilizados criminalmente. Ao instalar uma ciclovia numa área reservada a pedestres, eles estão assumindo o risco de matar pessoas. A ciclofaixa da Avenida Bento Guelfi, onde morreu o menino, tem um traçado que é um atentado ao bom senso.
Vivemos sob a égide de um alcaide que usa as prerrogativas que o cargo lhe dá como um ditador. Ouvido a respeito das mortes, a fala do prefeito é típica de um maluco ou de um cínico. Diz lamentar, é claro!, mas afirma que os pedestres e ciclistas acabarão se entendendo. Essa é a cabeça politicamente pervertida de um esquerdista. Pouco importa quantas mortes ele patrocine, está certo de que sua engenharia salvará o mundo.

Reação da imprensa

Com exceção aqui e ali, muito especialmente das rádios, a reação da imprensa, que é, no mais das vezes, ciclofaxista e ciclofascista, é asquerosa. Fica a um passo de culpar o morto. É o fundamento da esquerda orientando as reações: “Não podemos dar muito destaque para isso porque pode haver um recuo na instalação das pistas, e nós achamos ser esse o bom caminho”.

Imaginem se dois ciclistas tivessem sido mortos em dias consecutivos. Os usuários de bicicleta parariam a Paulista, dariam um nó na cidade. Os ciclofaixistas e ciclofascistas da imprensa — está coalhada deles — vociferariam a sua indignação. Mas sabem como é… Pedestres são apenas a maioria sem pedigree. Eles não são minoritários o bastante para se organizar. E o neoesquerdismo fascistoide, de que o PT é expressão, só sabe falar com minorias organizadas.

No dia da inauguração da ciclovia do Minhocão, Haddad deu uma declaração delinquente, para escândalo de quase ninguém: “Nós não podemos trocar a segurança do ciclista pela segurança do pedestre”. Bem, é uma fala típica de quem já chegou a dizer que Stalin era um assassino mais moral do que Hitler porque ao menos lia livros antes de mandar matar. Nota: em breve, morrerá alguém na ciclovia da Avenida Sumáré. Também ali o prefeito juntou pedestres e cicilistas num só lugar.

A indignação é quase geral nas rádios. Uma âncora da CBN, Fabíola Cidral — um leitor me envia a fala da moça — , no entanto, saiu em defesa de Haddad. Viajada e internacional, ela disse já ter andado em ciclovias em Paris, Amsterdã, Londres e Berlim… E afirmou que, de fato, ônibus e carros se misturam com ciclistas etc e tal. Tudo normal. Sua chefe, Mariza Tavares, fazendo juízo de valor sobre o jornalismo da rádio Jovem Pan, onde também trabalho, afirmou certa feita, tentando justificar o fato de sua emissora estar em terceiro lugar em audiência — perde para a Pan e para a BandNews — que fazer jornalismo de qualidade é muito difícil. Se bem entenderam, ela associava a baixa audiência à qualidade superior que exibiria…

Essa é a âncora que afirmou que, mesmo perdendo a perna num acidente numa rodovia, um advogado da OAB havia recorrido à Justiça contra a redução de velocidade nas Marginais.

A moça acha que, se a gente se opuser a medidas de Haddad, Deus castiga, e a gente perde a perna. Parece que se alinhar com o prefeito corresponde a perder o juízo.

Fazer jornalismo, com efeito, é coisa difícil. Especialmente de joelhos. No altar da ideologia mixuruca.

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