Editorial: A incompetência metódica da companheirada

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 10/06/2015 18h41
EFE Dilma Rousseff

O PT realiza neste fim de semana o seu 5º Congresso. As tendências mais à esquerda vão lá disparar vitupérios contra Joaquim Levy, ministro da Fazenda. Os ditos moderados do lulismo não vão atacar Levy, mas apresentarão um documento defendendo que o partido faça a sua conversão à esquerda. Que coisa linda! Lula, o palestrante milionário, certamente terá a chance de explicar como é que o Brasil do petismo, no 13º ano de governo, consegue conciliar a taxa de juros mais alta do mundo, com uma inflação que chegou a 8,47% em maio, no acumulado de 12 meses, e 5,34% nos cinco primeiros. As duas taxas são recordes desde 2003. Ah, sim: tudo isso no quadro de uma recessão que deve chegar perto de 2%.

É a isso que chamo incompetência metódica. Não pensem que se chega a essa equação da noite para o dia. É preciso que um erro vá se somando a outro; que cada um desses erros seja corrigido com um novo erro. E a tudo isso se deve acrescentar o molho da arrogância, salpicando a estupidez com a discurseira da justiça social. E pronto!

Um governo obtém esse resultado quando incentiva o consumo, forçando a mão, por exemplo, para que os salários cresçam acima da produtividade, de sorte que haverá mais vontade de comprar e contratar serviços do que a capacidade que tem o país de oferecer as duas coisas. Quando alguém acender o sinal vermelho e disser que isso vai acabar em crise, basta adornar a barba com os perdigotos da baba populista e proclamar, ciciando, enquanto espanca a gramática: “Eles num gosta quando a classe trabalhadora começa a consumir; eles num gosta quando a classe trabalhadora anda de avião; eles num gosta quando a classe trabalhadora vai ao cabelereiro”.

Não! Eles “gosta”, sim! Ocorre que eles também acham que é preciso criar as condições para que esse acesso ao consumo seja permanente; eles acham que é preciso fazer com que o poder de compra seja mantido. E isso se consegue criando os marcos para que o país aumente a produtividade, seja mais competitivo, cresça, em suma, de forma sustentável e sustentada. Para tanto, é preciso atrair investimento; é preciso que não se veja o Tesouro como um saco sem fundo. É preciso que os gastos não cresçam a uma taxa muito superior à arrecadação. É preciso que uma guia genial dos povos não tenha a ideia iluminada pelas trevas de baixar, no porrete, a tarifa de energia sob o pretexto de que vai incentivar a economia.

Ah, sim, presidente Dilma: segundo o IBGE, o brasileiro está pagando, em média, neste ano, 41,94% a mais de energia do que no ano passado.

Pior de tudo: houve, sim, uma tolerância descarada com a inflação. Ora, meus caros, não precisamos ir muito longe. Nos debates do dia 15 de outubro (Jovem Pan-UOL-SBT) e do dia 20 do mesmo mês (Band-UOL), a então candidata à reeleição afirmou com todas as letras que seu adversário, Aécio Neves, pretendia levar a inflação a 3%, sim, mas só o faria triplicando o desemprego e com um choque de juros… Pois é… Dilma escolheu outro caminho: já deu um choque de juros, vai ao menos dobrar o desemprego, e a inflação está muito longe dos 3%.

Podemos, no entanto, ficar tranquilos. Em seu congresso neste fim de semana, correntes petistas vão espancar Joaquim Levy, que vem a ser o homem chamado para tentar arrumar a barafunda. Mais: a corrente lulista vai incentivar as franjas do PT que são contrárias ao ajuste da economia e anunciar a sua futura conversão à esquerda, deixando claro que o partido não se conforma só com os erros cometidos até agora: quer muito mais do que isso.

A presidente Dilma Rousseff tinha decidido não participar da abertura do congresso. Eu a elogiei por isso. Mas agora mudou de ideia. Sai de Bruxelas e volta diretamente para Salvador, a tempo de participar, sim, do encontro. Pergunta: o partido vai pagar o custo adicional que implica essa paradinha na capital baiana?

Como se vê, não me acusem, né?, de jamais fazer um elogio a Dilma. Até fiz. Mas o motivo durou pouco. É claro que, dado o andar da carruagem, a presidente deveria se manter distante daquele evento, cujo ideário ajudou a levar a economia para o buraco. E mais distante ainda deveria se manter quando se descobre que uma empreiteira repassou R$ 3 milhões ao Instituto Lula e mais R$ 1,527 milhão à empresa privada do ex-presidente.

Mas fazer o quê? Dilma continua a não ser senhora de sua agenda. Decidiu pacificar o petismo e vai contribuir para espalhar incertezas entre os não-petistas. Eis a mulher. Eis a obra.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.