Editorial: A lista convocada pela CPI: convém deixar de lado teorias conspiratórias
Vamos parar de bobagem e de teorias conspiratórias. E chegou a hora também de os jornalistas ditos investigativos pararam de se deixar engravidar pelo ouvido por policiais federais e procuradores da Operação Lava Jato. Imprensa não pode ser porta-voz da Polícia, por melhor que ela seja, nem do MP, idem. Ainda que possa opinar a respeito, imprensa tem de ser porta-voz dos fatos.
A CPI da Petrobras convocou nesta quinta-feira os seguintes nomes: José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça; o superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Franco; os delegados Igor Romário de Paula, Márcio Anselmo e Mauricio Grillo; Júlio Camargo; Jayme Oliveira; Adarico Negromonte, irmão de Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades; a advogada Beatriz Catta Preta e os respectivos presidentes do grupo Odebrecht e da Andrade Gutierrez, Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo.
Começo por quem não deveria estar na convocação de jeito nenhum. O que faz na lista a doutora Beatriz Catta Preta? Ela é advogada de alguns réus, como é o caso de Pedro Barusco, participou de acordos de delação premiada, mas é evidente que não faz sentido convocá-la. Parece-me uma forma de constranger o direito de defesa, o que não fica bem a uma CPI, especialmente no corpo de uma operação que está longe de ser o Moisés do Estado de Direito, não é mesmo? Antes de convocar a doutra Catta Preta, os senhores deputados deveriam pensar na imunidade de que gozam para fazer o seu trabalho.
José Eduardo Cardozo e os policias federais estão na lista porque, na semana passada, dois agentes, Dalmey Werlang e José Alberto Iegas, confirmaram aos deputados que houve, sim, escruta ilegal na cela de Alberto Youssef, e que isso se deu com ordens superiores. A PF é funcionalmente subordinada a Cardozo. O ministro teria tomado alguma atitude. Aliás, os deputados poderiam aproveitar a oportunidade para indagar o que ele andou conversando com o procurador-geral da República antes de ser divulgada a lista dos investigados.
Delegados da PF levantaram a hipótese conspiratória de que os deputados estrariam querendo colher indícios de ilegalidade para anular as provas colhidas pela Lava-Jato. É bobagem. Na democracia, não se executam operações ilegais nem em nome do bem. Se a escuta foi ilegal, tem de ser esclarecida.
A esquerda fez questão de convocar Jayme Oliveira, o policial que diz ter entregado dinheiro a um representante de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Vamos ver. O que sei de seu depoimento é de tal sorte atrapalhado e contraditório que, acredito, mais fará bem, do que mal a Cunha.
Quanto aos respectivos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, eis o que considero uma boa chance para ambos prestarem esclarecimentos. Até porque, a depender do dia em que deponham, falarão primeiro à CPI do que à força-tarefa da Lava Jato, o que não deixa de ser absurdo, não é?
Presos preventivamente desde o dia 19 de junho, ainda não se marcou nem a data do depoimento. É claro que está caracterizada aí uma forma de constrangimento. Enquanto isso, nesses 20 dias, foram sendo vazados dados da investiugação que supostamente comprometem as duas empresas. Não é uma prática que lustra o Estado de Direito. Isso nada tem a ver com rigor ou impunidade. Isso é apenas desordem legal. E, por aqui, não passa sem crítica.
Não sei se os dois empresários vão falar ou se preferirão ficar calados, o que é um direito. As respectivas defesas é que vão decidir. Eu, no lugar deles, falaria. Entre outras questões, é um bom momento para que se converse a respeito do que é cartel e como as coisas eram decididas em relação à Petrobras.
A imprensa precisa parar de dar curso a tolices conspiratórias. Se a CPI existe, que faça o seu trabalho, ora essa!
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