Editorial – A lista dos 15 investigados e um editorial equivocado do New York Times
O fim de semana foi coalhado de vazamentos sobre as respectivas delações premiadas de Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro e Sérgio Machado. Sendo tudo verdade, vem muita turbulência por aí. Sobra para todos os gostos: Antonio Palocci, Guido Mantega, Aécio Neves, Romero Jucá, Renan Calheiros, José Sarney, Luciano Coutinho, 13 governadores, 36 senadores…
No arremate, sabe-se agora que Rodrigo Janot pediu, em abril, para investigar o agora ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, que ministro do Turismo era também no governo Dilma. Havia pedido demissão em março, quando o PMDB tomou a decisão de romper com a petista.
A impressão que se tem é que, a cada dia, o que se avizinha é o caos. E que hoje será sempre melhor do que amanhã e pior do que ontem… Certas abordagens só complicam a cena.
Circula, por exemplo, uma lista de 15 pessoas ou investigadas ou citadas na Lava-Jato. Bem, investigado em inquérito ou denúncia é uma coisa; citado, outra completamente diferente. Há menções que são meramente laterais, sem que se conheçam os motivos. Não dá para pôr todo mundo na vala comum.
Querem ver? Peguei a lista dos 39 ministros de Dilma. Pelo menos 20 estavam sob investigação ou eram acusados de alguma coisa, ainda que não investigados pela Lava-Jato. Aliás, reitero, o próprio Henrique Eduardo Alves era ministro de Dilma. Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil — um dos ditos “citados” — também. E não se fez lista nenhuma, ora essa!
Por que digo isso? Políticos, aqui e mundo afora, são acusados de muita coisa. Às vezes, a acusação procede; às vezes, não. Assim, que se façam as devidas distinções. Convenham: o problema do governo Dilma não estava em contar com pelo menos 20 pessoas de algum modo acusadas, certo?
A Rede Petralha se refestela com um editorial do New York Times que, de algum modo, compra a versão do PT sobre a crise. O jornal diz, por exemplo, que a fala do presidente Michel Temer soa vazia quando diz que não vai interferir na Lava-Jato. E por que seria assim? Justamente em razão de haver pessoas investigadas em seu ministério.
Entendo, sim, e já escrevi isso, que as pessoas que estão sob investigação da Lava-Jato, em denúncia ou inquérito instaurados, devem deixar o ministério. Mas a sua permanência no governo não é sinônimo de descompromisso com a operação. Isso é besteira: até porque Temer está no poder há três semanas apenas. De fato, demitiu duas pessoas em razão de alegada incompatibilidade com a operação. Ora, melhor assim! Quantos Dilma havia demitido por isso?
O jornal fala bobagem quando diz que a existência de investigados no governo Temer parece dar razão ao PT quando este afirma que o afastamento da Dilma buscava interromper a Lava-Jato. Já demonstrei ser esse um raciocínio asnal. Por quê? O PT acusa a PF e o MP de integrar um grande complô contra o partido. Então o afastamento de Dilma, conquistado por adversários do PT, seria uma forma de acabar com a operação que os companheiros dizem ser sua inimiga?
O New York Times é a versão americana da esquerda light brasileira — a esquerda possível de lá. Assim, entre uma coisa com sentido e outra que serve à causa, sempre se escolhe a segunda.
O jornal também erra feio quando diz que a impunidade no Brasil se deve ao fato de que políticos têm foro especial. Bem, o mensalão, que mandou figurões para a cadeia, foi conduzido por um tribunal superior. Uma das causas da impunidade no Brasil está no excesso de recursos, aí, sim.
É claro, no entanto, que o PT está radiante com o editorial. Não deveria.
Se é verdade que as delações de Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro e Sérgio Machado atingem também a oposição, o que é mais escancaradamente certo é que Dilma Rousseff e Lula são os protagonistas das respectivas narrativas dos dois primeiros. Se os petistas sonham que a eventual instabilidade do governo Temer levaria Dilma de volta ao poder, pode botar o jumento na sombra. Não vai acontecer.
Tudo indica que as delações cujo conteúdo ainda se desconhece vão revelar até onde o sistema comandado pelo PT delinquiu. Estamos muito longe do fim da crise — inclusive da crise política.
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