Editorial: Lula está perfeito no papel de farsante de si mesmo no vídeo feito para o PT

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 11/02/2016 16h46
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RJ - IMPEACHMENT/PEZÃO/LULA - POLÍTICA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontra com o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro, na tarde desta quinta-feira. Pezão criticou hoje a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e disse que seu correligionário não tem condições de permanecer no cargo. Para Pezão, a decisão de Cunha "não ajuda o País". "Ele deve se afastar", defendeu. 03/12/2015 - Foto: GLAUCON FERNANDES/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO Glaucon Fernandes/Eleven/Estadão Conteúdo Reinaldo fala sobre Lula

Ah, não! Não venham me dizer que Lula não é, quando menos, um grande ator. É, sim! Talvez o melhor que já tenha pisado por estas terras. Para entrar um pouco na teoria do teatro, ele não representa um papel como queria o comunista Bertolt Brecht, segundo quem aquele que fala um texto tem sempre de manter certo distanciamento crítico, para que o espectador entenda que ali, afinal, se representa a realidade — não é a realidade ela mesma, sempre mais complexa. O dramaturgo alemão achava ser esse o caminho que conduz à consciência crítica.

Lula é da escola do russo Stanislavski: ele realmente entra na personagem; ele assume a máscara de forma convincente. Ele fala, e a gente acredita que ele é, de fato, quem ele diz ser. Seu rosto, seu olhar, seus esgares, sua coreografia… Tudo, enfim, coincide com aquele que ele finge ser. Lula é a farsa de Lula.

Foi nisso que pensei ao ver o filmete de pouco mais de três minutos em que o Poderoso Chefão do PT fala sobre os 36 anos do partido. Sim, um período muito bem sucedido para a legenda: desse total, já são 14 (neste 2016) no poder. Não é pouco, não, gente! Trinta e oito por cento. Vocês já se deram conta? Desde a volta das eleições diretas para presidente, outros partidos venceram três eleições — o PRN, 1, e o PSDB, 2 –, e o PT venceu quatro.

Isso significa que essa legenda reuniu todas as condições — e elas nunca foram tão favoráveis — para construir uma nova moralidade no país. Ou, ao menos, para elevar o padrão ético da vida pública brasileira. E, no entanto, no 14º ano do poder petista, o Brasil vive uma crise econômica inédita, uma crise moral sem precedentes, uma crise ética assombrosa.

E nisso não vai o juízo de que, como eu, não compartilha dos valores petistas. Notem: eu seria crítico das escolhas da legenda, como fui no passado, ainda que o país estivesse crescendo 4%, e a esmagadora maioria apoiasse o governo de turno. A visão de mundo do PT não é a minha.

Mas quê… A realidade que está aí grita as suas indecências, mas o nosso ator, no vídeo, volta à sua ladainha de sempre. O seu PT, ele diz, é o “partido mais importante do Brasil”, “o que mais inovou”, “o que deu voz e vez aos trabalhadores”, o que criou o “orçamento participativo” (como se essa falácia estivesse em vigor em algum lugar), “o que mais fez política social”. Antes, diz Lula, “trabalhador só aplaudia, nunca era aplaudido…” Agora sim!

Para certamente não parecer arrogante, ele até admite que o PT, grande como é, pode ter cometido erros e pecados, mas, ele assegura, são as virtudes da legenda que o fazem enfrentar o que ele chama de “conservadores”.

É uma pena que o ator exemplar, dizendo, nessa hora, o texto de um bufão, não explique quem são os conservadores.

Certamente ele não se refere aos empreiteiros com os quais se aliou na espoliação do dinheiro público e da cidadania. Certamente ele não se refere aos banqueiros, que seu modelo remunerou e remunera com tanta generosidade, o que lhe garantiu a gratidão eterna do setor. Certamente ele não se refere a alguns potentados do dito “capital nacional”, que se embriagaram com juros subsidiados do BNDES, enquanto o Tesouro capitalizava o banco público com dinheiro captado pela Selic — com a diferença sendo paga pelos “trabalhadores”, aqueles que, segundo Lula, têm, desta feita, voz e vez.

Eu realmente acho uma pena que este senhor esteja quebrando a cara por causa de um apartamento e de um sítio meio mixurucas — ao menos para os seus padrões, de milionário que faturou R$ 27 milhões só com palestras.

O sistema que o petismo erigiu é muito nefasto do que esses pecados. É, do ponto de vista penal, criminoso porque uma  máfia se organizou para assaltar o Estado. Mas também é moralmente asqueroso porque usou alguns caraminguás para distribuir à pobrada, fazendo-a sentir-se protagonista de um enredo que nunca existiu.

No vídeo, Lula não diz que é ele, hoje, o elo mais fraco do PT. Infelizmente, o que mais causa repulsa às pessoas é esse partido incapaz de ser transparente até com o dinheiro da pinga.

Ainda vai demorar um pouco para que o conjunto dos brasileiros entenda o tamanho da farsa.

A boa notícia é que ela começou a ser desmontada.

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