Editorial – Má Dilma do passado ainda está na Dilma do presente

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 20/04/2016 16h43
Presidente Dilma Rousseff durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto, em Brasília. 18/04/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino REUTERS/Ueslei Marcelino - 18/04/2016 Presidente Dilma Rousseff - reuters

Coitada da ainda presidente Dilma Rousseff! Antes, ela não juntava lé com cré. Com o passar do tempo, passou a não juntar cré com lé. Não é só o PT que decidiu sabotar o país. Também ela se dedica a esse nobre mister. Vou insistir nesta tecla: esta senhora está cometendo novos crimes de responsabilidade. Ao insistir que o processo de impeachment é golpe, atenta contra seis dos sete Incisos do Artigo 85 da Constituição.

Na segunda, ela concedeu uma quase-entrevista a jornalistas brasileiros; nesta terça, foi a vez de a imprensa estrangeira ser contemplada com seu fino pensamento. Entre outras delicadezas, disse isto:

“O Brasil tem um veio que é adormecido, um veio golpista adormecido. Se acompanharmos a trajetória dos presidentes do meu país, a partir de Getúlio Vargas, vamos ver que o impeachment sistematicamente se tornou instrumento contra os presidentes eleitos”.

É um disparate típico da ignorância. De qual Getúlio está a falar? O da primeira fase, por exemplo, deu dois golpes: o de 1930 — que a esquerda passou a chamar “revolução” — e o de 1937. Como o ditador é herói dos companheiros, ela certamente se refere ao segundo, que acabou dando um tiro no próprio peito por vontade — ninguém a tanto o obrigou — e como desdobramento da própria incapacidade de conviver com a democracia. Mas, de novo, foi socorrido pelos historiadores de esquerda, e só seus adversários passaram para a história como golpistas.

Ainda hoje, a mistificação triunfante pretende enxergar duas linhas de continuidade no país, que estariam em constante choque: a do suposto golpismo udenista e a do suposto progressismo que seria caudatário justamente do getulismo — embora Getúlio tenha sido o mais feroz ditador da República. Um dia será preciso libertar também a historiografia do cerco da empulhação.

Veio adormecido do golpismo? O PT denunciou Itamar Franco e FHC por crime de responsabilidade. Isso é apenas um fato. E não o fez porque convicto de que tivessem mesmo violado a Constituição. Era só parte da luta política. Era só coisa de golpista. É o mesmo espírito que levou o partido a se negar a reconhecer a Constituição de 1988; a se opor à Lei de Responsabilidade Fiscal; a combater as privatizações; a pôr a tropa na rua contra a reforma da Previdência — isso tudo quando estava na oposição e procurava inviabilizar o governo alheio.

Na situação, o PT foi protagonista do mensalão, do dossiê dos aloprados de 2006, do dossiê dos aloprados de 2010 e do petrolão. O primeiro e o quarto escândalos — que são praticamente um só em tempos diferentes — representam um assalto à institucionalidade propriamente. É o modo como o PT entende a gerência do estado brasileiro. Os outros dois são práticas asquerosas que buscam fraudar a vontade das urnas.

E é Dilma que anuncia ao mundo o chamado “veio golpista”? A propósito: e as vezes em que as esquerdas recorreram às armas no Brasil, inclusive as organizações terroristas às quais Dilma serviu? Estávamos ou não diante do tal “veio”? Ou será que almas golpistas são apenas aquelas que se opõem a Dilma?

Sejamos mais específicos: a má Dilma do passado ainda está na Dilma do presente. A ditadura tornava pardos todos os gatos. Agora, cada gato é visto por aquilo que é. E Dilma, dado o seu discurso, continua a odiar a democracia.

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