Editorial: Mercadante, o homem forte de Dilma, infla o crescimento de 2014 em 700%
Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, ora licenciado, professor de economia, com um doutorado conseguido, é bem verdade, às pressas e no joelho, não sabe fazer conta. Se tiver de voltar a dar aula, começo a ficar com pena de seus alunos. Até agora, a sua maior contribuição à inteligência brasileira tinha sido no campo da etimologia. Certa feita, ele renunciou à liderança do PT no Senado e anunciou que era uma posição “irrevogável”. Lula, que não gosta muito dele, bateu na mesa e mandou que ficasse. Ele ficou. O “irrevogável”, então, foi submetido a uma revolução de sentido e passou a significar o contrário. Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, o homem barbarizou. Já chego lá.
Primeiro, os “companheiros”, estes que estão no poder, fraudavam apenas a história. Sim, dou exemplos de fraudes históricas:
– “FHC quebrou o país três vezes”. Não quebrou. Nem uma, nem duas, nem três. Nunca se declarou moratória no governo tucano. O Brasil o fez, isto sim, no governo Sarney, que é aliado de Dilma. Pedir socorro ao FMI não é “quebrar”. O PSDB tem de pedir direito de resposta no horário do PT. “Quebrar” não é juízo subjetivo; é matéria de fato. Como é mentira, a mentira tem de ser combatida.
– “As estatais foram vendidas a preço de banana”. Mentira grosseira. Ao contrário. Foram vendidas a preço de mercado e, no caso da telefonia, muito acima dele, como provaram o valor das ações em Bolsa um ano depois, bem abaixo do que havia arrecado o governo. As antigas estatais se valorizaram brutalmente depois porque passaram a ter gestão privada. Peguem o caso da Petrobras: se privada fosse, valeria hoje mais do que o dobro, com absoluta certeza. Entre outras razões porque não teria abrigado um bando de assaltantes.
– “FHC governou para as elites” – Outra mentira estúpida. O fim da hiperinflação, que veio com o Plano Real, contra o qual o PT votou, significou um dos maiores programas de inclusão dos pobres no mercado. Excludente era o modelo da inflação cavalar, que corria atrás da correção monetária, que corria atrás da inflação e assim por diante. O Real veio cortar esse ciclo perverso. O PT foi contra. Aliás, Mercadante afirmou, com peculiar profundidade teórica, que o plano daria errado.
– “FHC arrochou o salário mínimo”. Mentira grotesca. FHC deu início à era de valorização real do salário mínimo. Na sua gestão, ela foi de 85,04%; nos oito anos de Lula, foi um pouco maior: 98,32%; nos quatro anos de Dilma, deverá ser de apenas 15,44%.
Voltemos a Mercadante. O principal coordenador da campanha de Dilma, na entrevista ao “Valor”, afirmou que, se reeleita, ela não adotará o que ele chamou de “medidas ortodoxas” de corte de gastos, seja lá o que isso signifique. Os agentes econômicos leem o que diz por aquilo que vale: se continuar presidente, a petista continuará a gastar mais do que arrecada. Convenham: Dilma não precisa tanto assim de inimigos.
Muito bem! Eméritos fraudados da história, os valentes deram agora para fraudar a matemática. Há dois dias, em entrevista, Guido Mantega disse que a média de juro real nos governos petistas é de 3,5%. Mentira! É quase o dobro: 6,99%. Na entrevista ao Valor, Mercadante demonstra por que, caso fique sem emprego, deve mudar de ramo e desistir de dar aula de economia. Sabem o que ele afirmou? Que a média de crescimento no governo Dilma será de 2,1%, contra 2,3% nos governos FHC. Mas ressalvou que Dilma enfrenta um cenário mais adverso.
Só pode ser piada. Se a petista for reeleita, Mercadante será o homem forte do governo. Como é que os agentes econômicos vão confiar em quem frauda a história e a matemática ao mesmo tempo? Em primeiro lugar, FHC enfreou sete crises internacionais; Dilma não enfrentou nenhuma. Em segundo lugar, sua conta está brutalmente errada. De fato, a média de crescimento dos oito anos de FHC, foi de 2,34%. Mas vejamos a conta da gestão Dilma:
2011 – crescimento de 2,7%;
2012 – crescimento de 1,0%;
2013 – crescimento de 2,3%;
2014 – crescimento estimado de 0,3%
Somando-se os números e dividindo-se por quatro, a média de crescimento é de 1,57% — ou seja: Mercadante inchou o índice em 33%. Mas quanto o Brasil precisaria crescer neste ano para que Mercadante estivesse falando a verdade? Eu ensino o ministro a fazer uma equação de primeiro grau. Assim:
2,7 + 1,0 + 2,3 + x = 2,1
4
x = 8,4 – 2,7 -1,0 -2,3
x = 2,4
Sim, o país precisaria crescer 2,4% neste ano para que a fala do ministro fizesse sentido. Mas vai crescer 0,3%. Nesse caso, ele inflou o crescimento em 700%. É um escândalo! Mas esperem: descobri a sua conta marota: ele só considerou os três primeiros anos de Dilma. É como se este 2014, em que se disputa a eleição, não existisse.
A conta patética de Mercadante explica por que ninguém mais confia nessa turma. Fraudar a história é grave e também traz consequências, mas seu preço vem no longo prazo. Fraudar a matemática costuma trazer consequências imediatas.
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