Editorial: Mercados reagem com euforia ao resultado das urnas
As pessoas podem divergir sem se demonizar mutuamente; podem dissentir sem que a defesa de um ponto de vista represente a eliminação do outro; sem que a política se transforme no exercício de um suposto “bem” contra um suposto “mal”. Na contramão de quase todas as previsões e de quase todas as expectativas; contrariando o que os institutos de pesquisa conseguiam ler da vontade do eleitor — e me parece que lhes faltam instrumentos, no momento, para interpretar os enigmas que a sociedade propõe –, o tucano Aécio Neves disputará o segundo turno das eleições presidenciais com Dilma Rousseff, do PT.
Os três candidatos fizeram neste domingo um pronunciamento sobre o resultado das eleições. Dois deles, basta ler o que disse cada um, foram serenos: Marina Silva, do PSB, e o próprio Aécio afirmaram que a sociedade sinalizou que quer mudanças. Dilma, que fala em nome da continuidade — e, dadas as leis que temos, é, pois, legal e legítimo –, infelizmente, enveredou justamente pelo caminho reprovável da satanização dos adversários. Para ela, o voto em seus oponentes significaria que o Brasil estaria marchando para trás. Assim, a gente entende que, para a candidata, o Brasil só avança rumo ao progresso se o PT for governo.
Não é uma boa leitura da realidade. E não que eu esperasse ou espere que Dilma reconheça as qualidades daqueles que a ela se opõem. Isso não é necessário. A presidente-candidata dispõe de instrumentos, no entanto, para tentar provar que suas propostas são melhores, sem que precise afirmar que os outros encarnam o desastre. De resto, em seu discurso de ontem, a petista foi a primeira a prometer que, se eleita, fará um governo novo, com ideias novas e pessoas novas. Logo, a gente tem de entender que ela também acredita que não é possível continuar com um governo velho, com ideias velhas e com pessoas velhas — não na idade, mas na mentalidade.
Nesta segunda, os mercados reagiram em quase êxtase ao resultado das urnas. Às 14h05, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, subia 5,26%, a 57.407 pontos. Das ações do Ibovespa, 63 subiam, e apenas sete caíam. No mesmo horário, o dólar registrava desvalorização de cerca de 2% em relação ao real. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, perdia 2,31%, a R$ 2,416, enquanto o dólar comercial, usado no comércio exterior, tinha baixa de 1,82%, a R$ 2,419. Esses índices têm tradução: chama-se otimismo. Os tais “mercados” — que nada mais representam do que os humores de uma parcela considerável da sociedade que faz funcionar a máquina da economia — renovam suas esperanças de que Dilma perca as eleições. E a petista sabe disso, tanto é assim que já se manifestou a respeito e chamou essa reação de “ridícula”.
Seja como for, estamos lidando com um dado da realidade. Já disse aqui que o país não irá à bancarrota se Dilma vencer — aliás, ninguém está a dizer isso. E também é mentira que haverá um colapso na área social se a oposição ganhar. Ocorre que, infelizmente, o PT insiste nessa tecla, nessa pregação que é feita para assustar o eleitor, não para convencê-lo. O que a reação dos mercados evidencia é que a retomada do crescimento será retardada se Dilma vencer a disputa. Ela sabe disso. Em vez de demonizar o adversário, talvez a presidente precisasse fazer uma nova “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se compromete a não agredir os fundamentos da boa governança por questões de política menor.
Se Aécio vencer a disputa, e isso também está dado pelos números do mercado, o país não precisará de “medidas amargas”, de “choque de tarifas”, de “ajuste fiscal draconiano”, nada isso. Essa conversa ou é terrorismo governista ou é tara de desocupados. E sabem por que tais medidas não serão necessárias, entre outras razões? Porque a retomada do crescimento será antecipada; porque os investidores internacionais e o empresariado nacional farão com mais celeridade a sua parte. Só quer estabilidade de regras, um governo que não maquie as contas e que não seja hostil à matemática.
Aliás, a presidente Dilma deveria recomendar à candidata Dilma que recusasse tanto o discurso terrorista como a campanha suja. Em qualquer das hipóteses, pouco importa quem vença a eleição, o Brasil tem amanhã, senhora Dilma Rousseff! Países não são como empresas; não fecham. Existirão sempre. O que muda para melhor ou para pior é qualidade de vida do povo.
Espero que a presidente Dilma diga ainda à candidata Dilma que a reação dos mercados nesta segunda-feira deve contribuir para leva-la ao caminho virtuoso do diálogo, não ao caminho vicioso do confronto.
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