Editorial: Moro, o MP e a PF terão a coragem de ir até o fim?

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 25/11/2015 17h32
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SÃO PAULO, SP, 27.10.2015: SERGIO-MORO - O juiz federal Sérgio Moro realiza palestra e responde perguntas de jornalistas durante o fórum de debates da The Economist, no hotel Grand Hyatt na zona sul de São Paulo, nesta terça-feira (27). (Foto: Jorge Araújo/Folhapress) Jorge Araújo/Folhapress Sérgio Moro

A 21ª fase da Operação Lava-Jato é a que mais aproxima a narrativa criada pela investigação àquela produzida pela ordem dos fatos. Quem é seu protagonista — e notem que não vou antecipar aqui juízos condenatórios, mas apenas expressar estranhamentos?

Trata-se de José Carlos Bumlai, cuja contribuição mais notável ao país é ser amigo de Lula. Era um ilustre desconhecido até outro dia. Com fama de bilionário do agronegócio, era um ilustre desconhecido da categoria, não participava dos debates do setor, não tinha nenhuma contribuição a dar à área na qual deveria ser notável.

Não obstante, o BNDES, um banco que traz no nome as palavras “desenvolvimento”, “econômico” e “social” lhe emprestou mais de R$ 500 milhões. A ser como diz o Ministério Público, suas empresas eram mais candidatas à falência do que a receber mais de meio bilhão de reais. Mas ele recebeu.

Isso ainda tem de ser devidamente apurado, dizem a Polícia Federal e o Ministério Público. Parece, no entanto, não restar muita dúvida sobre o empréstimo de R$ 12,17 milhões que o Banco Schahin fez ao empresário em 2004. Segundo os próprios emprestadores, Bumlai era só um laranja voluntário do PT — um laranja de altíssimo nível, mas laranja ainda assim.

O dinheiro era destinado ao partido. Bumlai só estava lavando a origem. Cinco anos depois, esse empréstimo foi quitado por intermédio da Petrobras. Com a interferência de Lula e de João Vaccari, segundo os representantes do próprio grupo, o Schahin fez um contrato de US$ 1,6 bilhão para operar um navio-sonda da Petrobras. E se considerou que aquele empréstimo, que já havia virado R$ 60 milhões, estava pago.

Eis aí: não pode haver exemplo mais acabado, mais redondo, mais evidente, da privatização do bem público pela camarilha que passou a circular em torno de um rei fanfarrão — o que nunca sabe de nada.

A rigor, o petrolão nada mais é do que a revelação do que ia por baixo da camada superficial que era o mensalão. Desde sempre, o que se tem é uma quadrilha assaltando o estado brasileiro. E, como sempre, Lula está muito perto do perigo. E, como sempre, homens de sua estrita confiança são protagonistas do crime.

Eu não tenho a menor dúvida de que, fosse o PT uma empresa, e Lula o seu presidente, Sérgio Moro já teria mandado decretar a sua prisão preventiva, atendendo a um pedido do Ministério Público. Ocorre que Lula é a autoridade máxima, incontestável, acima de qualquer divergência do PT — ele, sim, o principal dos beneficiários últimos de todas as falcatruas.

Ao chegar a José Carlos Bumlai, pela primeira vez, a Operação Lava-Jato se aproxima da verdadeira natureza da cadeia criminosa que tomou conta do estado brasileiro. Terá o Ministério Público a coragem de avançar? Não sei! Até agora, chamemos as coisas pelo nome, ele se acovardou quando a personagem é Lula; ele se acovardou quando a personagem é Dilma.

Nas vinte fases anteriores da Lava-Jato, tinha-se a impressão de que um escândalo pantagruélico, o maior do mundo (até onde se sabe), fora perpetrado por uns vagabundos que estavam na Petrobras e por políticos de segunda linha. Até ontem, parecia que o principal homem da sujeira era Eduardo Cunha.

Agora se chega a Bumlai, que, obviamente, não existe como figura autônoma. É uma estupidez fazer essa inferência. Ele é peça importante de uma engrenagem, que expressa um modo de entender o poder. E até os gramados de Brasília sabem que era — e é — de uma fidelidade canina a Lula. Com a devida vênia, coloco na categoria do ridículo a suposição de que pudesse tomar alguma decisão sem o prévio consentimento do poderoso chefão.

Não sei o que tem faltado a Rodrigo Janot nesse caso: se coragem, se clareza, se as duas coisas.

Até agora, a narrativa tem muitos pés e braços, mas nenhuma cabeça. A 21ª fase da Lava-Jato se aproxima da cabeça e do cabeça. Terá o topete de ir adiante?

Vamos ver. Ou vai, ou terminará como farsa.

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