Editorial: Movimentos de rua não têm de apresentar plano de Governo

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 18/08/2015 18h28
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MBL partiu de SP Valter Campanato/Agência Brasil Movimento Brasil Livre realiza ato no Congresso Nacional

Fogo morro acima, água morro abaixo e jornalistas e professores de universidade quando estão com vontade de se ajoelhar para o governo, meus caros leitores, ninguém segura. Os dois primeiros obedecem às leis da física; os outros, à vontade de servir e a seus preconceitos ideológicos. A onda agora é afirmar que a oposição e os movimentos de rua não têm agenda para substituir a do governo. Ainda que mal pergunte aos companheiros isentos: QUAL É A AGENDA DO GOVERNO? ALGUÉM CONSEGUE ME DIZER?

Mas pretendo ir um pouco adiante. Ou, na verdade, recuar no tempo: qual era a agenda do PT, do PMDB ou do PSDB quando decidiram que era a hora de derrubar Fernando Collor? Havia? Além da percepção de que pior não poderia ficar, nada existia. Aliás, já disse aqui, foi a ausência de agenda de Itamar Franco, foi o fato de ele ser um livro em branco, foi a circunstância de ele não ter a menor ideia do que fazer com a economia, foi esse conjunto que acabou abrindo caminho para o Plano Real, não é mesmo?

Eu sei o que quer o fogo morro acima. Eu sei o que quer a água morro abaixo. Mas o que querem os jornalistas e professores que aderiram? Será que, agora, o Movimento Brasil Livre, o Vem Pra Rua e os partidos de oposição precisam apresentar um plano de governo para pedir o impeachment de Dilma? Ou fazem isso ou, então, deles se dirá que não têm agenda? Ora…

Quer dizer que um presidente da República ter cometido ou não crime de responsabilidade fica na dependência de as forças que a ele se opõem apresentarem um plano de governo? Essa tese, malandramente ou não, é parente daquela do golpe. Ninguém está inventando um pretexto para tirar Dilma do Palácio. Se e quando ela sair, será na forma da lei — e a questão de ter uma alternativa administrativa não se coloca.

Será que o Vem Pra Rua e o MBL terão de dizer como tem de ser o ajuste fiscal, o que deve ser feito com a Previdência, qual é a melhor política monetária, como têm de ser encaminhados os programas sociais, como se vai baixar a inflação, qual é o caminho para recuperar a confiança?… E só então passaremos a debater se vai ou não haver impeachment?

Sem contar que é um cretinismo e uma mentira a afirmação de que faltam elementos para denunciar Dilma por crime de responsabilidade. Essa é a outra falsa verdade que os lobistas ideológicos do PT conseguiram plantar mesmo na imprensa que se quer neutra.

De resto, nunca é demais lembrar, não é mesmo? Não é a oposição que está à frente dos movimentos de rua. Elas apenas apoiaram — não mais do que apoio moral — o ato de convocação de protesto. Não houve suporte material de nenhuma natureza. E é até possível que uma manifestação convocada só por partidos de oposição, numa disputa clara pelo poder — o que é legítimo na democracia –, não conseguissem reunir 600 mil pessoas. Aliás, eu tenho a certeza de que não conseguiria.

Uma das forças da rua é justamente o seu caráter não-partidário. E eu diria que é esse o aspecto mais difícil para o PT entender. É isso que deixa o partido inerme. Quem dera, para eles!, pudessem dizer: “Ah, isso é coisa do Aécio, do Alckmin, do Serra, do FHC…” Eles até que tentam. Os chefões petistas que foram lá àquela patuscada no Instituto Lula no domingo ensaiaram esse discurso. Não cola. Porque os que vão para a sua sabem ser mentira.

Kim Kataguiri, do MBL, e Rogério Chequer, do Vem Pra Rua — para citar duas lideranças que aparecem com frequência na imprensa — não têm a obrigação de apresentar plano de governo. Era só o que faltava, não é mesmo? Já entrevistei a ambos. São articulados e têm ideias muito claras sobre um monte de coisa. Dariam de dez a zero em Dilma em lógicas elementar e complexa. Mas não lhes cabe dizer como o Brasil será governado se Dilma sair.

O que lhes cabe, e estão fazendo, é cobrar que se cumpram a Constituição e as leis. Não foram eleitos por ninguém. Não são candidatos a nada — se e quando vierem a ser, o que é legítimo (e eu acharia desejável), então que se exijam deles saídas para isso e para aquilo. Que eu saiba, eles lideram movimentos que hoje se opõem aos desmandos, à roubalheira, à trapaça política. Não parece bom?

É curioso que ninguém vá cobrar um plano de governo de João Pedro Stedile. Afinal, seu plano de governo é invadir propriedades rurais. É curioso que ninguém vá cobrar um plano de governo de Guilherme Boulos. Seu plano de governo é invadir propriedades urbanas. É curioso que ninguém vá cobrar um plano de governo de Vagner Freitas, presidente da CUT. Seu plano de governo, parece, é entrincheirar-se de arma na mão.

E, convenham, muito mais curioso ainda é que se não se cobre um plano de governo de Dilma Rousseff. Seu plano de governo, já sabemos, é ir ficando na Presidência, sem saber por quê ou para quê.

Querem saber? A verdade é que a turma doida para aderir esperava um retumbante insucesso no domingo. Mas se viu o contrário. E, desta feita, a pauta nada tinha de genérica ou ambígua: era “Fora Dilma, Fora Lula, Fora PT!” E ainda sobrou um “Fora Renan!” e “Se cuida Janot!”

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