Editorial – As notas do Enem provam que se opor à MP do ensino médio é safadeza de esquerda

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 04/10/2016 15h45
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USP Imagens vestibular

Se ainda faltasse evidência de que é preciso reformar com celeridade o ensino médio brasileiro, não falta mais. E insisto na formulação: se faltasse… Os dados já eram escandalosos: há oito milhões de matriculados, mas só cinco milhões frequentam regularmente as aulas. Isso deveria bastar para que se tomasse uma medida urgente, drástica. Não obstante, as esquerdas obtusas, esmagadas nas urnas porque o povo repudia suas soluções, quer impedir o governo de levar adiante a mudança com, então, a urgência necessária e a óbvia relevância. Sim, a MP do ensino médio é uma imposição da realidade.

Dados que vieram a público do Enem de 2015 são devastadores. Nada menos de 91% das 8.732 escolas públicas do país com notas divulgadas tiveram um desempenho abaixo da média. No total, 7.793 unidades. Nas particulares, a realidade está longe da ideal, mas os números são escandalosamente diferentes: dos 6.266 estabelecimentos, 1.061 não alcançaram a média, que foi de 515,8. O cálculo foi feito pela Folha, levando-se em consideração a nota dos alunos nas provas de linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza.

Sim, há uma distorção, como informa o jornal: “só são divulgados os dados de escolas em que ao menos metade dos alunos participaram do Enem. Também é necessário um mínimo de dez alunos participantes. Dessa forma, 60% das escolas públicas brasileiras ficam fora da lista. No Estado de São Paulo, por exemplo, 75% das unidades não tiveram notas divulgadas. A participação no Enem nas escolas particulares é o oposto. Só 23% das escolas privadas do país não atingiram o critério mínimo de divulgação.”

Isso, no entanto, não deve levar ninguém a supor que uma participação em massa da escola pública alteraria substancialmente o resultado. Ou alteraria: talvez fizesse com que a média caísse ainda mais, o que, vamos convir, não nos salvaria do desastre, mas apenas evidenciaria que o abismo pode ser ainda mais profundo.

Entre as 100 escolas com o melhor desempenho, apenas 3 são públicas. E atenção! Não pensem que o país gasta pouco com educação. Em relação a seu PIB, gasta até bastante. Acontece que o dinheiro é escandalosamente mal empregado. Para constar: a média das escolas púbicas do país foi de 486,5; a da rede privada, de 556,6. A diferença parece pequena, mas é gigantesca.  O Ideb também divulgou seus dados não faz tempo. Houve estagnação. As notas de matemática foram as mais baixas desde 2005.

Até quando?
Ninguém mais aguenta ler e ouvir especialistas a dizer a coisa certa: o caminho é a educação. Sem uma qualificação nessa área, não há saída para o país; não há saída para a economia; não há futuro. Não obstante, essa é a área em que menos coisa acontece. Ou quando se realiza algo, faz-se pelo avesso. O caso das cotas é um exemplo: em vez de se melhorar a escola pública com medidas objetivas, garante-se uma cota de participação nas universidades dos alunos dela egressos e pronto! Considera-se que se fez justiça.

Ainda que os melhores indivíduos da escola pública consigam chegar às universidades — geralmente aos cursos com menor demanda –, o serviço oferecido ao conjunto dos estudantes continua uma lástima. E parte considerável dos pobres arcará, vida afora, com o custo de uma escola ruim.

Quando vejo os partidos de esquerda e o sindicalismo brucutu se organizar para resistir à Medida Provisória com boçalidades e palavras de ordem, sinto o que pode ser chamado de revolta genuína.

Trata-se de um complô contra os pobres. Ponto.

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