Editorial: Nunca fui lulista e achava que ele tinha “um pé no obscurantismo”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 24/06/2015 18h22
SÃO PAULO, SP, 01.05.2015: DIA-TRABALHO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ato da CUT (Centros Única dos Trabalhadores) e centrais sindicais no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, nesta sexta-feira (1º), em comemoração ao Dia do Trabalho. (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress) Folhapress Lula durante discurso no dia primeiro de maio

O meu blog completa hoje nove anos. Sou profundamente grato a vocês. Ao longo desse tempo, vocês têm sido meus parceiros na defesa da democracia representativa, do Estado de Direito, da pluralidade, da economia de mercado, do estado enxuto, dos valores individuais, da tolerância.

Passamos por poucas e boas. É claro que já foi mais difícil. Em 2006, um blogueiro petista afirmou que os apenas 6% que achavam o governo Lula ruim ou péssimo eram todos leitores do meu blog. Sugeriu que a imprensa os identificasse. Queria que andássemos de pijama listrado, com uma estrela amarela.

Tanto se torceu e se torce ainda contra este blog, não é? Respondo com trabalho. Dele já saíram três livros — sucessos editoriais, felizmente. Esta página se desdobra também em outras plataformas, como é a coluna na Folha de S.Paulo (com outro livro, igualmente bem-sucedido) e este programa, que hoje é o programa com a maior audiência do rádio brasileiro. E VÊM MAIS NOVIDADES, NO PLURAL, POR AÍ.

Sou profundamente grato a vocês. As pancadas partiam e partem de todos os lados. Ora é a canalhice dos braços de aluguel, financiados por verba estatal, ora é o ressentimento mais sórdido, ora é o ódio gratuito. Houve um tempo, já bem distante, em que isso me incomodava. Hoje em dia, ignoro. Quem quer saber o que penso me lê no blog e na “Folha” e ouve “Os Pingos”. Quem quer saber o que dizem os que me atacam procuram… os que me atacam. Deve haver ocupação mais digna do que essa. Mas não serei eu a aconselhá-los.

Um dos momentos mais difíceis, de maior pressão, se deu durante a chamada Operação Satiagraha, quando autoridades, como direi?, exóticas resolveram, à sua maneira, fazer uma suposta faxina no país, atropelando todos os pressupostos do Estado de Direito. Houve até a tentativa de incriminar jornalistas. Reagi. E o fiz antes em nome dos mesmos princípios que me norteiam agora.

Não cedi antes e não cedo agora a clamores. Todos os bandidos que se meteram no petrolão, empreiteiros ou não, políticos ou não, têm de ser punidos. Mas eu não vou abrir mão de apontar aqui os eventos em que eu julgar que a boa ordem jurídica está sendo desrespeitada. É um erro imaginar que o combate à impunidade pode se dar ao arrepio da lei. Ninguém deve contar comigo para isso.

No nono ano deste blog, ganhei uma medalha da qual muito me orgulho: Lula me atacou no Congresso do PT. E eu voltei 37 anos no tempo, a quando tinha 16 e, numa reunião da antiquíssima “Convergência Socialista”, opinei, com o topete que só a juventude dá, que um certo sindicalista que despontava em São Bernardo, apelidado de “Lula”, não merecia a nossa (a dos trotskistas) confiança. Eu achava o seu discurso frouxo.

Na juventude, fui trotskista, fui petista, fui esquerdista independente, essas doenças infantis que acometem as pessoas de bom coração — nada que a leitura dedicada não cure, CONSERVANDO O BOM CORAÇÃO. De uma coisa eu me orgulho: eu nunca fui lulista. Ainda hoje me lembro daquele senhor barbudo hostilizando os estudantes de esquerda que queriam pegar carona na luta sindical. Fiquei furioso com ele. Alguns dos meus “camaradas” tentavam me fazer ver que ele só estava dizendo que os cacoetes da velha esquerda atrapalhavam “a luta”. Eu achava que ele tinha mesmo era um pé no obscurantismo. Eu estava certo.

Bem, queridas e queridos, já me alonguei bastante. Duas palavras bastam: “MUITO OBRIGADO!”.

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