Editorial: O dever do jornalismo
Reginaldo, jornalistas não disputam o poder, e o jornalismo não é um partido político. Por mais que as pessoas possam e devam fazer as suas escolhas, não cabe ao profissional de imprensa selecionar aquilo que o povo tem e não tem o direito de saber — desde, é claro, que estejamos tratando de matéria de interesse coletivo.
Assim, a mais recente edição da revista VEJA, Reginaldo, cumpre aquela que é a principal missão da imprensa numa sociedade livre: compartilhar com o público informações que são de natureza pública.
No curso da delação premiada, Alberto Youssef afirmou à Polícia Federal e ao Ministério Público dispor de elementos para provar que Dilma Rousseff, presidente da República, e Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor, sabiam das falcatruas na Petrobras.
Mais ainda, Reginaldo: o doleiro afirmou que tem como colaborar para que a PF chegue a contas secretas do PT no exterior.
A revista VEJA já tinha planejado, a exemplo do que fez na véspera do primeiro turno, publicar uma edição nesta sexta, dois dias antes da eleição. Youssef prestou seu depoimento na terça-feira. No domingo próximo, há eleições.
Será, Reginaldo, que a revista, conhecendo a gravidade do depoimento, tinha o direito de esconder a informação de seus leitores e do público em geral? Ao contrário! O seu dever é informar o que sabe.
A decisão que as pessoas tomarão, nas urnas ou em outra esfera qualquer de suas respectivas vidas só a elas mesmas diz respeito. Atenção, Reginaldo, para um fundamento do jornalismo: a informação de interesse público a que um jornalista tem acesso não é propriedade sua; ela pertence à coletividade, que só tem a ganhar com a divulgação da verdade.
Jornalistas que têm o receio de informar o que apuram porque temem este ou aquele uso eleitoral não podem exercer essa profissão, não, ô Reginaldo!
O jornalismo é uma missão e uma tarefa para mulheres e homens livres, que não submetem a verdade a crivos de nenhuma natureza, especialmente os ideológicos, que sempre servem ocultar as maiores canalhices. Ou não há, ainda hoje, Reginaldo, espertalhões a justificar a roubalheira, argumentando que, não obstante, os pobres melhoraram de vida!? Ora, cabe a pergunta: é preciso roubar para dar mais dignidade aos miseráveis? Parece que não.
A revista VEJA, diga-se, está é de parabéns por não abrir mão de sua missão e não se deixar patrulhar por milícias de nenhuma natureza. O seu leitor tem o direito de saber. O ouvinte desta rádio tem o direito de saber. O conjunto dos brasileiros tem o direito de saber. O que cada um fará com essa informação é matéria que a revista ou esta rádio não podem regular.
Felizmente, Reginaldo, somos dotados de livre arbítrio, e o Brasil é, e continuará a ser, uma democracia, ainda que muitos não queiram. Enquanto houver imprensa livre num país, saibam, é sinal de que o regime democrático está em vigor. E temos a prova dos noves: sempre que um país mergulha no autoritarismo, a primeira vítima é a liberdade de imprensa.
Há, sim, Reginaldo, quem tenha ficado insatisfeito com a publicação da reportagem de VEJA. É gente que ainda sonha em instalar uma ditadura no Brasil. Mas isso não vai acontecer. Porque nós não vamos deixar.
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