Editorial – “O Globo” permite a redator fazer delinquência citando meu nome

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 06/09/2016 14h28
Jovem Pan Reinaldo conversa com Vera Magalhães

Vamos lá que eu hoje estou animado. Não sei quem foi o delinquente intelectual que escreveu um texto publicado na versão online de O Globo e que resolveu citar o nome deste escriba. Não vem assinado. Traz apenas a indicação “Por O Globo, de São Paulo”. Que coisa! Quando eu apanhava dos milicos na rua, e o Globo puxava o saco dos militares, reconheça-se uma coisa: o jornal era ao menos bem-feito no gênero. Por que escrevo isso? Explico.

Uma estudante da Universidade Federal do ABC teve o olho ferido. Consta que foi em uma manifestação. As circunstâncias estão um tanto confusas. O nome da jovem é Deborah Fabri. Ela demorou até buscar atendimento. A Secretaria de Segurança Pública tentou falar com ela, sem sucesso. Foi aberto um inquérito no 4º DP, e só então ela compareceu ao local, já acompanhada de três defensores públicos. A extrema esquerda, de imediato, resolveu fazê-la uma heroína da causa, mas houve um claro recuo. Por quê? Que se apure tudo.

Escrevi até agora dois textos a respeito. Um deles se chama “Dilma é a culpada por olho furado de militante. Ou: Nos confrontos de rua, só os PMs são povo?”, publicado às 23h20 do dia 1º de setembro. O outro tem por título “UFABC: se Débora estivesse cega dos dois olhos, seria ainda mais útil às esquerdas”. Reproduzo trechos de ambos. Os links seguem acima para quem se interessar pela íntegra.

No primeiro, pode-se ler:
“Escrevo ouvindo sirenes da polícia. Os únicos trabalhadores que estão nas ruas são aquele de farda; os únicos realmente oriundos do povo são os soldados da Polícia Militar; os únicos que conhecem o peso da necessidade são os que arriscam a vida todos os dias para garantir alguma tranquilidade à população. Sim, há maus policiais. Ocorre que não conheço bons do outro lado. Não reconheço bondade em que sai às ruas para depredar, destruir, ameaçar, intimidar. Isso não é protesto. Não é reivindicação.
Dilma quer sangue? Dilma quer mortos? Dilma precisa de cadáveres para que a farsa que eles espalharam mundo afora seja verossímil?”

No segundo, lê-se:
“Tenha Débora sido ferida ou não pela polícia, lamento o que lhe aconteceu. Segundo testemunho do médico que a atendeu, o dano ao olho ferido é certo, sem que se saiba ainda a extensão. A questão humana me comove independentemente de quem seja a garota. Mais: ela tem a idade de uma das minhas filhas. É inevitável que eu me coloque também no lugar de seus pais.
Vejo a foto sua, com o rosto ensanguentado, nos sites e nos jornais, e sinto uma espécie de repulsa existencial pelo conjunto da obra. Santo Deus! Vejam no que as esquerdas transformaram as universidades brasileira, com dinheiro dos trabalhadores. Agora, os militantes petistas e de extrema esquerda da UFABC se preparam para transformar Débora num símbolo. Finalmente, eles já podem tingir com sangue as suas falácias.”

Tratei do assunto também na Rádio Jovem Pan e na Rede TV. Seja nos trechos acima, seja nos demais, em nenhum momento me regozijei com o ferimento no olho de Débora, ainda que se venha a provar que se tratou, vamos dizer, de “ferimento amigo”.

Agora o Globo
Tanto a Folha, em texto de Angela Boldrini (às 19h17), como o O Globo (às 22h08), em cozido sem assinatura, trazem a informação de que o tenente-coronel da PM Henrique Motta referiu-se ao incidente que colheu Débora nos seguintes termos: “Quem planta rabanete colhe rabanete”. A Folha diz que o policial “ironiza” Débora. O Globo é mais militante: emprega o verbo “zombar”. Ambos podem esbarrar numa imprecisão: dizem ter sido “no protesto” — o que faz supor, sejamos claros, que os responsáveis foram os policiais. E isso ainda não está demonstrado, embora pareça plausível.

E o que levou Motta a se expressar desse modo? Num tuíte de 2015, Débora escreveu a seguinte pérola:“Cara, eu sou a favor de qualquer ato, de qualquer destruição em protesto de cunho político que tenha objetivos sólidos”. Eu não vou apelar à imagem do rabanete. Continuo sinceramente consternado com o que aconteceu à jovem. Continuo a pensar nela como se fosse a minha filha. Continuo a pensar nos seus pais. Mas constato o óbvio: quem vai à rua movida por esse espírito pode tanto ter o olho furado como furar os olhos de alguém. Ou ela não está a dizer que, sendo “sólido o objetivo”, tudo é permitido?

E por que o pau no Globo?
Pois o Globo resolveu fazer uma reportagem em que o coronel merece as tintas que se dispensam a um ogro. Na Folha, a mesma cor está presente, mas num tom mais ameno. Noto, aliás, que o tuíte de autoria de Débora que faz a apologia da violência chegou às minhas mãos no mesmo dia. Não consegui encontrá-lo no perfil da garota. Como não comprovei a veracidade da informação — poderia ser uma montagem —, ignorei o assunto.

Não é que o jornal carioca, num texto obviamente hostil ao policial e subserviente à Sua Excelência Militante, resolveu escrever o seguinte, prestem atenção:
“Esse não é o único exemplo de posicionamento político e ideológico de Motta em seu perfil. Ainda no dia 2 de setembro, ele publicou um texto do colunista da Folha de S.Paulo Reinaldo Azevedo cujo título é ‘Dilma é culpada por olho perfurado de militante’. Pouco antes, afirma em outra postagem que ‘o feminismo é apenas um movimento pró-governo’ e que serve à perseguição ‘seletiva contra inimigos do PT’ e, ironicamente, questiona: ‘Quando Temer assumir é presidento ou volta a valer o português correto?’, em referência ao termo ‘presidenta’, adotado pela ex-mandatária Dilma Rousseff (PT).”

O que pretende o mau profissional, o militante infiltrado, que escreveu o que vai acima? O que quer seu editor, que deixou essa porcaria ser publicada? O fato de Motta ter reproduzido meu texto me torna coautor de suas mensagens? E se citasse Churchill? E se o tenente-coronel tivesse se referido a Débora assim:
“Deus retribuirá a cada um conforme o seu procedimento. Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade. Mas haverá ira e indignação para os que são egoístas, que rejeitam a verdade e seguem a injustiça.”

Se Motta tivesse feito isso, seria um sinal de que a Bíblica concorda com ele, conforme vai em Romanos, 2,6-8?

Há muito tempo faço jornalismo opinativo. Assumo a responsabilidade pelas minhas opiniões e arco com o peso de pensar o que penso. Sou claro. Nunca sou sorrateiro. Não bato pelas costas. Não sou oblíquo. A exemplo do que faço agora. Aliás, se o tenente-coronel fosse um leitor mais atento deste escriba, veria que a graça que fez com as palavras “presidente/presidenta/presidento” não procede. Ele repetiu, aliás, um erro da ministra Cármen Lúcia ao dizer por que não quer ser chamada “presidenta” do Supremo. Já expliquei a questão aqui.

Infelizmente, é cada vez mais frequente a “rede-socialização” dos meios de comunicação. O delinquente intelectual que redigiu aquela porcaria no Globo deveria é estar secretando seus hormônios no Twitter, no Facebook, em algum grupelho de WhatsApp. Infelizmente, está numa redação, excretando ignorância, produzindo obscurantismo e se dedicando à patrulha ideológica mais vagabunda e vigarista.

O Globo defendia a ditadura com muito mais competência do que defende a democracia.

Infelizmente!

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