Editorial: O PT, o PMDB e o mal menor. Quer dizer que PSDB deve chutar Cunha para Dilma abraçar Edinho?

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 06/10/2015 19h41
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Marcelo Camargo/Agência Brasil Marcelo Camargo/Agência Brasil O ministro da Comunicação Social da Presidência da República

Ah, setores da imprensa me emocionam muito às vezes. Parece que eles tentam me levar às lágrimas, mas sabem como é… Tenho o coração duro. Qual é a campanha do momento do petismo enrustido, que costumo chamar de “gato escondido com o rabo de fora”? Ora, cobrar que a oposição, em nome da decência e da ética (o petismo no armário é muito cioso dessas coisas; fora do armário, eles já caíram na vida), rompa com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Assim, na cabeça desses valentes, as chances do impeachment estariam definitivamente enterradas.

Muito bem. Na semana passada, um roqueiro que decaiu sem nunca ter ascendido — parece que ele tenta se estabelecer no mercado de opinião — resolveu me atacar porque, numa coluna na Folha, em maio, eu afirmei que o ódio a Eduardo Cunha era ódio à democracia. Expus lá os meus motivos.

Deixei claro que a maior parte das críticas que as esquerdas faziam a ele estava ligada à sua atuação eficiente como presidente da Câmara, não às denúncias de seu envolvimento com o petrolão. Até porque, não é?, petistas se opondo a pessoas acusadas de corrupção é coisa que, como se diz na minha terra, “não orna”.

Na mesma coluna, deixei claro que Cunha, a exemplo de qualquer outro, teria de pagar por eventuais crimes cometidos. E por que seria diferente?. Pois é…

O que acho mais espantoso é que se faça essa cobrança agora à oposição, mas se ache muito natural que Edinho Silva permaneça como um dos homens fortes do Planalto. Ora, ele é investigado em inquérito, e a delação premiada de um dos homens-chave do esquema corrupto na Petrobras o coloca no centro da lambança — lambança essa que atinge diretamente a presidente da República.

Então a oposição, que não é beneficiária nem indireta dos crimes atribuídos a Eduardo Cunha, deveria romper relações puramente políticas com ele, enquanto Dilma, beneficiária direta do eventual crime cometido por Edinho, pode tê-lo como ministro?

Que diabo de critério é esse?

Querem mais? Dilma desalojou o petista que não ousa dizer seu nome da Educação — refiro-me ao professor de paradoxo Renato Janine Ribeiro — só para alojar Aloizio Mercadante, e até isso parece normal? Dois esclarecimentos: 1) Mercadante é hoje um investigado, num processo derivado da Lava-Jato; 2) chamo Janine de professor de paradoxo porque ele dá aula de ética petista… Convenham: ou uma coisa ou outra.

Entendo a alma dessa imprensa especialmente inquiridora quando oposicionistas são o tema. Então haveremos de exigir do PSDB e assemelhados que só andem em companhia de monges, mesmo para objetivos meramente táticos, enquanto Dilma pode levar para dentro do Palácio todas as almas impuras que forem úteis para se manter no poder?

É evidente que um governo que estivesse interessado em demonstrar que nada tem a ver com as lambanças teria apeado Mercadante e Edinho. Nada se provando contra eles e caso Dilma se segure no poder, que voltassem. Itamar Franco fez isso com Henrique Hargreaves.

Ocorre que tanto quanto Cunha é considerado um Lobo Mau por setores da imprensa, Edinho Silva é visto como um Chapeuzinho Vermelho, não é? Eu mesmo já ouvi de um jornalista que, se ele fez alguma coisa, não foi em benefício pessoal, mas do partido. “Já Cunha…”, disse-me o interlocutor, arqueando as sobrancelhas.

No fundo, essa é a doença moral que toma conta de boa parte da imprensa e das esquerdas de maneira geral. Essa gente continua a achar que o crime cometido em nome de uma causa se justifica; que o crime que tem como desiderato a construção de um sonho, de uma utopia, de um devir é coisa diferente e muito mais nobre do que eventualmente roubar para enriquecer.

Li dia desses um texto indecente de um senhor que dizia que o verdadeiro mal do Brasil é o PMDB. Tentei entender por quê. Ele nada explicava, além da sugestão óbvia de que quadros do partido assaltam o estado. Ora, mas assim também não fazem os petistas, de maneira, como se vê, contumaz, determinada, metódica, sistemática? A resposta é mais do que óbvia.

Só que há uma diferença. Os petistas assaltam também a institucionalidade. Desconheço inciativa do PMDB, como legenda, que fizesse a democracia regredir, que agredisse a liberdade de imprensa, que atacasse direitos individuais. Dos petistas, posso citar uma penca. Até hoje, eles não acatam, como princípios inegociáveis, os fundamentos da democracia representativa.

Olhem aqui: ter esse compromisso com as liberdades públicas não livra os peemedebistas de seus crimes. Tampouco os desculpa. Mas é evidente que os dois partidos têm perspectivas que são muito distintas. Com os fundamentos que orientam o PMDB, sempre será possível caçar e cassar inclusive os ladrões do PMDB. Com os que orientam o PT, o que teremos é a ladroagem do partido alçada à condição de categoria de pensamento; o que teremos é a assunção dos companheiros como eternos inocentes, mesmo quando são culpados. E a condenação dos adversários, que serão sempre culpados mesmo quando inocentes.

Vamos fazer um acordo? Dilma se livra de todos os investigados e suspeitos da Lava-Jato — e conclui a sua obra renunciando ao cargo. E aí a oposição rompe politicamente com Cunha. Sempre lembrando mais uma vez: ainda que o deputado seja culpado, os oposicionistas não se beneficiaram de seu crime. Se Edinho é culpado, Dilma foi beneficiária de seu malfeito.

Algum erro lógico no meu raciocínio? Mensagens para o blog.

Para encerrar: a gente deve escolher o bem. Na ausência dele, e sendo obrigatória a escolha, deve-se ficar com o mal menor. É um imperativo ético. E eu não tenho a menor dúvida sobre o menor dos males nesse caso.

 

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