Editorial: Os petistas só se lembram de defender o Estado de Direito quando são eles os alvos
Um dos aspectos do petismo que mais me causam asco é que os companheiros só se lembram de defender fundamentos do Estado de Direito quando se trata de beneficiá-los. Se for para prejudicá-los, nunca! Se ilegalidades atingem seus adversários, eles as aplaudem, quando não as promovem. São hipócritas, autoritários e institucionalmente trapaceiros.
Por que digo isso? Vejam o caso da intimação de Luís (começarei a grafar com “s”) Cláudio, filho de Lula, para depor num dos inquéritos da Operação Zelotes. Foi feita às 23h de terça-feira, quando ele voltava da festa de aniversário do pai. É estranho? É. Foi realizada fora de hora? Foi. É preciso explicar? É. Eis, então, o problema.
Quantas vezes o senhor José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, cobrou a Polícia Federal sobre procedimentos heterodoxos? Será que adversários do governo nunca foram alvos de exageros, de ações espalhafatosas, de certa atração pelos holofotes? Ora, consultem o arquivo do meu blog para ver. E, no entanto, qual era a resposta a procedimentos assim, especialmente no primeiro mandato de Lula? “Ah, esse é um governo que não poupa os ricos…”
Eu, Reinaldo Azevedo, reclamei aqui de ações da Polícia Federal que surpreendiam as pessoas de manhã, ainda de pijama ou camisola, com homens armados até os dentes e as indefectíveis algemas, mesmo não havendo a menor chance de a pessoa fugir ou agredir um agente do Estado. Pior: com câmeras de televisão e holofotes na cara. E sabem o que aconteceu? Tomei porrada. Eu estaria contra a severidade investigativa…
Ah, mas agora é o filho de Lula! Agora é o filho do Babalorixá de Banânia! Eu não acho que se a Polícia Federal ou qualquer ente do Estado devam ser livres para agir como lhes der na veneta, seja com Fábio Luís, seja com o Zé da Esquina, seja com um bilionário. Eles têm de se comportar dentro da lei. Mas é isso o que Lula e o PT estão pedindo?
Não! Eles não estão apenas indignados com a intimação fora de hora. Isso é só um pretexto. Eles não se conformam é com o fato de o rapaz ser um dos investigados; eles não se conformam é que os valores republicanos valham também para os aristocratas do clã Lula da Silva; eles não se conformam é com o fato de que todos possam ser iguais perante a lei.
Eu defendo o que defendo pouco me importando quem esteja no poder ou quem seja o alvo do Estado. Se esperam que eu vá aplaudir o que me parece uma ação óbvia de constrangimento, podem esquecer, não vou. Se acham que apoiaria qualquer ilegalidade só porque atinge gente que acho que tem de estar fora do poder — e, a depender do caso, na cadeia –, também podem tirar o cavalo da chuva.
Ao contrário: eu quero justamente é a igualdade. Por isso mesmo, se a Polícia Federal, durante as investigações, chegou a operações no mínimo heterodoxas envolvendo um dos filhos de Lula, o que se há de fazer? Investigar, ora essa! Mas não! O PT logo denuncia uma conspiração porque, no fundo, o que quer é impunidade. E acaba vendo diminuída a legitimidade de sua reclamação quando esta, num primeiro momento ao menos, parece justa.
Ah, sim: também vi alguns coleguinhas que andavam se divertindo com certa irascibilidade das forças policiais ficar de coraçãozinho mole, agora que o alvo é o filho de Lula. Indignação seletiva não é indignação, é canalhice moral.
A Polícia Federal tem de explicar apenas por que foi à casa de Luís Cláudio às 23h, já que o rapaz não está abaixo da Lei. E o PT e Lula têm de explicar por que acreditam que ele está acima da lei.
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