Editorial: Renan quer ser esbirro de Dilma para Dilma, depois, ser esbirro de Renan

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 16/12/2015 16h12
Senado e Câmara analisarão vetos e projetos relativos a temas orçamentários e ao ajuste Antonio Cruz/Agência Brasil Presidente do Senado

O senador Renan Calheiros, não é de hoje, se tornou a figura mais deletéria da República. Sei lá que promessas o governo fez a ele e em conexão com quais outras forças. De quase oposicionista, passou a ser um fiel escudeiro. Há menos de um ano, Renan chamava jornalistas num canto para descer o sarrafo no Planalto até em solenidade oficial. Querem mais? Quando o governo anunciou a sua disposição de aplicar um ajuste fiscal, ele reivindicou rede nacional de rádio e TV para deixar claro que estava na resistência. Mas mudou.

Ontem, por um triz, ele também não entrou na lista dos que tiveram a casa vasculhada pela Polícia Federa. A Procuradoria-Geral da República pediu, mas Teori Zavascki não aceitou. Aliados seus entraram na dança. Nota à margem: uma das formas que um procurador tem de colaborar com o investigado é fazer um pedido inepto tecnicamente, que sabe que será rejeitado pelo juiz. Entenderam?

O fato é que, um dia depois do sarrafo que a Procuradoria Geral da República baixou no PMDB, o que evidentemente concorre para desqualificar o partido como alternativa de governo, Renan vem a público com uma retórica contra Michel Temer, vice-presidente da República, que atinge violência inédita.

Atacou o vice-presidente — e presidente do PMDB — duas vezes nesta quarta-feira. Acusa-o de autoritário porque o comando do partido decidiu vetar as filiações que Leonardo Picciani (PMDB-RJ), destituído da liderança do partido na Câmara, tentou fazer para ver se recobrava o antigo posto. O partido vetou e fez muito bem. Trata-se de um expediente mixuruca com o intuito de dar um golpe legal na legenda. De resto, Picciani age hoje sob a coordenação do Planalto. E Renan também.

Disse Renan:
“Fazer reunião para proibir (filiações)? Um partido democrático, que não tem dono, que se caracteriza por isso, fazer reunião para proibir a entrada de deputado é um retrocesso que deve estar fazendo o doutor Ulysses tremer na cova. O presidente Michel é o presidente do partido. Se alguém tem responsabilidade com relação a isso, é o presidente Michel”.

Ora, o PMDB nada mais está fazendo do que se proteger de uma invasão. O que Picciani está querendo é levar deputados federais afinados com o Planalto para tomar o partido por dentro. Isso, sim, é golpe! Tudo indica que Renan era um dos patrocinadores da iniciativa.

Mas o presidente do Senado foi mais longe e ousou afirmar o que nem os petistas afirmam porque sabem ser mentira. Referindo-se à crise política, disse:
“Acho que o PMDB tem muita culpa. Quando foi chamado para coordenar o processo político, do governo, da coalizão, o PMDB se preocupou apenas com o RH. Eu adverti sobre isso na oportunidade. O PMDB perdeu a oportunidade de qualificar sua participação no governo. O governo tem culpa mas o PMDB também tem muita culpa com o que está acontecendo”.

Renan e o PT, em dupla, sabotaram o trabalho de Michel Temer na coordenação política.

Horas depois, voltou suas baterias contra o vice-presidente de novo:
“Aquela carta do presidente Michel, que muitos criticaram, acho que a maior crítica que cabe à carta, é que em nenhum momento ela demonstra preocupação com o Brasil. E é esse o papel do PMDB”.

Ah, grande patriota preocupado com o Brasil esse Renan Calheiros, não é mesmo?

Aqui e ali se diz que Renan se ressente do pouco protagonismo do Senado no momento atual: que ele se incomoda com o excesso de visibilidade que ganhou a Câmara etc. Conversa mole!

Renan, que é investigado em seis inquéritos que não saem do lugar — não é mesmo, doutor Janot? –, é hoje um mero esbirro no Planalto para ver se o Planalto se transforma em mero esbirro de Renan.

Ele está dando a sua grande cartada. Caso Dilma fique no poder, para a melancolia do país, ele se torna o condestável da República e fiador da presidente, além de se candidatar a dono do PMDB.

Não custa lembrar que Renan chegou a desenvolver a tese exótica de que o Senado nem era obrigado a processar Dilma, ainda que a Câmara assim determinasse.

Esta é a cartada: ao se lançar de peito aberto contra a Temer, aposta que Dilma vai ficar e que ele toma o controle do partido.

Se Dilma fica e se Janot continua a apresentar ao Supremo pedidos incompetentes contra Renan, como aconteceu nesta semana — e se a investigação das lambanças de que ele é acusado continua a passos de cágado –, tudo sai como o diabo quer.

Uma possível boa notícia: caso Temer se torne presidente da República, cresce a chance de Renan ficar fora do arco do novo poder, o que seria uma bênção adicional.

PS: Daqui a pouco, as esquerdas que mamam nas tetas oficiais estarão nas ruas em favor de Dilma e contra Eduardo Cunha, que acusam de pensar o impeachment segundo seus interesses pessoais. E Renan? Faz o quê? Pensa na pátria. Contra ele, não haverá abaixo-assinado de intelectuais de esquerda. Gente asquerosa!

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