Editorial: Resposta de Cunha é inaceitável

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 09/10/2015 19h08
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Rodrigo Ramon/JP Presidente da Câmara

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não deve ter nenhuma dúvida, a esta altura, de que existe uma estrutura organizada para destruí-lo. Mas deve saber também que ninguém conseguirá ou conseguiria fazê-lo com base na pura criatividade. Ele tem ou não tem conta na Suíça?

É claro que, vivêssemos em tempos normais, a Procuradoria-Geral da República deveria dizer, de uma vez só, não um pouco por dia, tudo o que há contra o parlamentar, o principal desafeto do governo Dilma.

Que a PGR se tornou um centro de conspiração contra Cunha, bem, disso não tenho a menor dúvida. Que isso interesse ao governo, até as pedras sabem. Que Cunha parece não ter resposta para o que está vindo a público, bem, isso também me soa óbvio.

Então ficamos assim: entre se comportar nos limites da institucionalidade e atuar como parte de um estado policial, a PGR escolheu a segunda opção. Isso, por si, não põe Cunha num bom lugar. Se alguém disser que eu tenho conta da Suíça, não deixo para que meu advogado negue. Não tenho e pronto. Porque, efetivamente, não tenho. Fim de papo.

Leio em reportagem de Graciliano Rocha, na Folha, que “cópias dos passaportes do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de familiares dele foram anexadas aos formulários de abertura das contas do banco Julius Baer que deram a origem à investigação contra o peemedebista por suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro na Suíça”.

O texto informa mais: “Os formulários e os anexos fazem parte dos dossiês bancários entregues pelo Julius Baer ao Ministério Público suíço e remetidos à PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta semana”.

Logo, é evidente que essa informação, a exemplo de todas as outras que pipocam contra o deputado, têm origem na PGR, que está sob o comando do Rodrigo Janot.

Cunha se tornou o principal inimigo do governo. Que seja, hoje, o político mais importante investigado na Lava-Jato dá conta da qualidade da investigação conduzida pela PGR. Só um cretino não fundamental ignora Janot como peça central do jogo do Planalto.

Mas isso não livra a barra de Cunha, não. Ele tem ou não tem conta na Suíça? Ele não pode dar a resposta que me deu Paulo Maluf, numa entrevista no programa ao “Roda Viva”, da TV Cultura, há alguns anos. Eu o desafiei: “Olhe para a câmera e diga que o MP e o governo da Suíça são mentirosos e que o senhor não tem nem nunca teve conta lá”. E Maluf me respondeu: “Eu não tenho, mas quem está chamando eles de mentirosos é você, Reinaldo…”.

Entendi tudo.

A PGR que faz de Eduardo Cunha a principal personagem do petrolão, lamento dizer, está, a meu juízo, a serviço do Planalto, por mais que faça aquela carinha que mistura a religiosidade da TFP com a do PT. Aliás, aqueles cortes de cabelo e aquele jeitinho compõem o que apelido, sabem os meus amigos, de TFPT.

Mas é claro que a situação de Cunha, tudo o mais constante, é insustentável como referência e como alternativa ao poder que está aí. Eu repudio, sim, os laivos de estado policial que fazem de Cunha o principal alvo da Lava-Jato, mas não vou condescender com um troço sem lugar no mundo da lógica e dos fatos. Por isso, espero resposta objetiva para a pergunta: ele tem contas na Suíça ou não tem? Tudo indica que sim, não é mesmo?

Não contem comigo para aliviar a barra de Cunha se ele mesmo não cuida de eliminar as dúvidas. Mas não contem comigo também para aliviar a barra do Ministério Público Federal, que esconde numa aparência de moralismo extremo uma atuação que joga em favor da continuidade de Dilma.

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