Editorial: Se Dilma cair, será de acordo com a lei e não com golpe

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 07/07/2015 18h28
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Dilma Rousseff Folhapress Presidente Dilma Rousseff

Eu vou lhes dizer a diferença entre quem entende e quem não entende a democracia. Maior do que o atraso econômico do Brasil, ainda é seu atraso institucional, tudo porque, no fim das contas, somos governados por um partido, de fato, obscurantista.

Vamos lá: em 1999, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, sofreu um processo de impeachment, acusado de perjúrio, por ter negado, diante de um júri, que tivesse mantido relações impróprias com Monica Lewinski — ele explicou entender que sexo oral não era sexo… — e de obstrução da Justiça: seu governo teria tentando criar entraves para que se chegasse à verdade dos fatos. Placar da primeira acusação no Senado: 55 pela absolvição contra 45 pela condenação; da segunda: 50 para cada lado. Para cassar o presidente, eram necessários dois terços dos votos.

Não! Clinton não era acusado de ser ladrão. Seu partido não era acusado de comandar uma máquina criminosa. O presidente nem roubava nem deixava roubar. Ele só era um tantinho descontrolado da cintura para baixo. Não via problema em abrir o zíper da calça quando se fechava a porta do salão oval. E olhem que os EUA viviam uma era de ouro. Clinton é frequentemente listado entre os melhores e mais hábeis presidentes que teve o país. Ainda assim, por causa, digamos, de uma incontinência erótica, quase foi cassado. O processo teve rituais de humilhação. Veio a público o vestido que Mônica usava no dia, com restos do esperma presidencial.

Embora também alguns democratas tenham votado pelo impeachment, é evidente que foram os republicanos que comandaram o esforço para depor Clinton. Em nenhum momento, a imprensa americana escreveu a palavra “golpe”. Colunista que se aventurasse por aí seria desmoralizado. Entenda-se: os analistas políticos americanos têm, sim, suas preferências ideológicas e até partidárias, mas não se sabe da existência de penas de aluguel na grande imprensa — a não ser naquelas entidades que funcionam como órgãos explícitos de proselitismo partidário.

Clinton procurou se defender sem acusar conspiração nenhuma — embora, como é normal na democracia, a oposição republicana se esforçasse para extremar a fealdade deus atos, e os democratas fizessem o contrário, acusando os adversários de exagerar por razões puramente políticas.

Imaginem se Clinton teria o topete de dar uma entrevista no tom daquela concedida por Dilma Rousseff à Folha, publicada nesta terça. Com todas as letras, a mandatária acusou a oposição de golpista e desafiou: “Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha tentar.”

Tivesse Clinton, durante a sua defesa, se comportado desse modo, teria caído. Há desaforos que as instituições democráticas não aceitam. Ele estava sofrendo um processo de acordo com as regras da democracia que também o elegeram. Nesse regime, um governante não tem o direito de solapar o que lhe confere legitimidade.

Nesta terça, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, reagiu às declarações destrambelhadas de Dilma – a nota está lá no meu blog. Afirmou tratar-se de “uma estratégia planejada para inibir a ação das instituições e da imprensa brasileiras no momento em que pesam sobre a presidente da República e sobre seu partido denúncias da maior gravidade.” Para Aécio, golpista é discurso do PT. É evidente que concordo com ele, e eu mesmo já afirmei isso aqui. Qualquer seja o destino de Dilma, ele se dará dentro da lei.

Também nesta terça, capitaneados por Michel Temer (PMDB), 11 partidos da base de apoio assinaram um manifesto em defesa do mandato de Dilma. Lá se pode ler:

“Os líderes e dirigentes partidários abaixo-assinados manifestam o seu apoio à presidenta e ao vice-presidente da República. E reafirmam seu profundo respeito à Constituição Federal e seu inarredável compromisso com a vontade popular expressa nas urnas e com a legalidade democrática.”

Se Dilma cair em razão das pedaladas fiscais, será de acordo com a lei. Se Dilma cair em razão da doação ilegal de uma empreiteira à sua campanha, será igualmente de acordo com a lei.

Sim, a vontade nas urnas tem de ser respeitada. E o povo não disse, em nenhum momento, que tinha vontade de ser roubado, achacado e enganado.

A presidente pode ficar tranquila. Seu adversários não são como os petistas que dão tudo aos amigos, menos a lei, e que negam tudo aos inimigos, inclusive a lei.

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