Editorial – Síria 6: Os EUA têm de encerrar game sangrento e de agir em terra

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 07/04/2017 14h06
SIR02 MAR MEDITERRÁNEO 07/04/2017.- Momento del lanzamiento de un misil autodirigido desde el destructor USS Porter (DDG-78) en un punto sin especificar del Mar Mediterráneo, la madrugada de hoy, 7 de abril de 2017. Las Fuerzas militares de EE.UU. lanzaron decenas de misiles crucero contra un aeródromo en Siria, lo que supone el primer ataque directo estadounidense contra el Gobierno del presidente Bachar Al Asad desde que comenzó la guerra civil en ese país. Al menos seis personas murieron en la intervención. EFE/Seaman Ford Williams / Handout SOLO USO EDITORIAL, PROHIBIDA SU VENTA EFE/Seaman Ford Williams Míssil é lançado desde o Mar Mediterrâneo pelos EUA em direção à Síria

Leiam este texto:

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EUA e Europa precisam parar com seu videogame sangrento. Terão de fazer guerra de verdade, daquelas com sangue, suor e lágrimas, se quiserem forçar o recuo da besta que foi despertada nos desertos morais da Síria, do Iraque, da Líbia, com potencial para produzir ainda muita destruição e morte do Oriente Médio e centro-norte da África.

Depois dos atentados terroristas, a França lançou um bombardeio aéreo maciço contra bases do Estado Islâmico na Síria. Serão ineficazes. Uso de novo a palavra “besta”, sinônimo aqui do demônio e do mal absoluto. O jihadismo não tem limites. Não existe um conjunto de valores morais que sirva de referência para perfilar o inimigo. São capazes de qualquer coisa. Bombardeios dessa natureza acabam vitimando mulheres e crianças, tornadas escudos humanos.

É óbvio que isso já não basta. O terrorismo não pode ter um território — e hoje tem. As ditas potências ocidentais vão ter de sentar à mesa com a Rússia e organizar a incursão terrestre. É preciso perseguir e eliminar Abu Bakr al-Bagdadi, o chefe do Estado Islâmico, e toda a cadeia de comando do reino da barbárie.

É claro que o custo de uma operação como essa — inclusive o custo político — será imenso. Mas é a consequência dos erros brutais cometidos por Obama e pelos aliados europeus. É estupefaciente que o presidente americano e os entusiastas da dita Primavera Árabe nunca tenham se perguntado a origem do armamento pesado que os ditos defensores da “democracia” empregavam na Síria. Ou que haviam empregado antes na Líbia. Desde quando guerrilheiros, tenham eles a convicção que for, dispõem de caças, baterias antiaéreas, tanques?

De forma absolutamente irresponsável, estúpida, os EUA decidiram, ora vejam, armar os ditos rebeldes sírios — e, como já ficou evidente, armas e recursos acabaram caindo nas mãos dos terroristas, mais uma vez. A política errática — ou a política nenhuma! — de Obama abriu caminho para o protagonismo de Vladimir Putin na Síria, que entrou na guerra, mas não exatamente para atingir o Estado Islâmico, e sim os outros inimigos de Assad.

E os erros americanos se multiplicam porque, a esta altura, parece evidente que Assad não vai cair — quem ascenderia ao poder? — e que a redução de dano possível implicará fortalecer o ditador. A prioridade, agora, é recuperar o vasto território que caiu nas mãos do terrorismo.

É certo que isso, por si, não resolve a questão interna. A Europa viverá sob o clima de medo por muito tempo. E está mais exposta do que nunca a novos atentados terroristas. No período de acirramento dos conflitos, com ou sem a ação por terra, tal risco será brutalmente aumentado.

Atenção: o trânsito de cidadãos europeus, com origem árabe ou não, para a pátria do terror já era grande. E não há razão nenhuma para desconfiar da afirmação do Estado Islâmico de que, com a leva de imigrantes, seguiram os emissários da morte. Sim, a ameaça pode estar em toda parte, mas uma coisa é certa: sem tomar de volta o território que hoje ambiciona ser uma pátria, não há reversão possível da barbárie.

E isso terá de ser feito por terra. EUA e Europa terão de parar de brincar de videogame e joguinhos de guerra. Desta vez, tem de ser pra valer.

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Retomo
Este texto foi publicado no dia 16 de novembro de 2015.

Como se nota, trato essencialmente da inutilidade dos ataques aéreos, do erro essencial de Obama, que foi armar os rebeldes sírios, da necessidade de EUA, Europa e aliados ou entrarem para valer na guerra ou deixarem que os iguais e entre si beligerantes se entendam.

Isso foi o que escrevi. A realidade está aí. Quase dois anos depois, Assad está mais forte, a mortandade e a brutalidade assombram o mundo, os erros de Obama se evidenciam, e Donald Trump agora decide seguir os passos de seu antípoda porque a sua, vamos dizer, “equação de marketing” já dava sinais de esclerose.

Os caipiras isolacionistas foram encostados por um tempo, e os falcões da intervenção mostraram as garras.

Para quê?

Como diria o poeta Ascenso Ferreira, “para nada“. Só um pouco mais de morte e carne queimada.

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