Editorial – Temer dá posse a Freire em cerimônia fechada e continua errando no caso Geddel

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 23/11/2016 14h09
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Brasília- DF- Brasil- 18/05/2016 Presidente Michel Temer recebe o ministro Geddel Vieira Lima e líderes do Senado Federal. Foto: Marcos Corrêa/ Vice Presidência da República Marcos Corrêa/Vice Presidência da República Geddel Vieira Lima e Michel Temer- DIV VICE

O presidente Michel Temer parece ter ficado irritado mesmo com o quiproquó no Ministério da Cultura, envolvendo Geddel Vieira Lima (ministro da Secretaria de Governo) e Marcelo Calero, ex-ministro. A lamentar no particular: o alvo de sua irritação, que sempre é má conselheira, está errado. Infelizmente, fosse um filme, o presidente não estaria simpatizando com o mocinho. Logo…

Vamos ver. Temer deu posse nesta quarta ao novo titular da Cultura, Roberto Freire, uma pessoa, já disse aqui, de muitos méritos políticos. Nada sei que o desabone, concorde eu com ele ou não. Optou-se por uma cerimônia fechada, sem a presença da imprensa. O que isso indica? Que o governo está com problema. O normal seria fazer o contrário. Mas não se vive uma quadra normal.

Para lembrar: Calero pediu demissão acusando Geddel de pressioná-lo para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórica e Artístico Nacional) liberasse a construção de um edifício de mais de 30 andares, em Salvador. Segundo o órgão, que vetou a construção, a obra teria impacto negativo em áreas tombadas da cidade. O argumento mais forte empregado por Geddel foi o de que ele próprio havia feito uma oferta de compra. Descobriu-se depois que um primo e um sobrinho seus eram os representantes da empreiteira — com cujos donos o ministro mantém relações de amizade — no confronto com o Iphan.

Pois bem… No discurso de posse de Freire, Temer, normalmente um homem educado, elegante, beirou a grosseira ao se referir, sempre de forma indireta, a Calero, a quem não agradeceu, como reza o protocolo. O ex-ministro virou apenas o “outro companheiro”. Disse o presidente: “Nós temos hoje a absoluta certeza de que o governo federal está ganhando muito. E, se o governo federal foi bem até agora, a partir do Roberto Freire, vai ganhar céu azul, velocidade de cruzeiro e vai salvar o Brasil”.

Salvar o Brasil? Trata-se, obviamente, de um exagero. Mais do que isso: é um despropósito. Não se salva o Brasil a partir do Ministério da Cultura. Não se salva o Brasil a partir de ministério nenhum.

A passagem em que chamou Calero de “outro companheiro” saiu arrevesada. Falando com Freire, afirmou:
“Houve uma grita natural na área cultural à junção das pastas, e acho que nós, alertados, devemos verificar a procedência ou improcedência dessas contestações. Quando são legitimas, você revê o ato, e foi isso que fiz. Mas, a essa altura, não foi possível levá-lo, porque já havia outro companheiro na então Secretaria de Cultura”.

Não houve uma “grita”. Houve protestos, absolutamente previsíveis. O governo cometia, então, um erro, para o qual adverti aqui. Teve o mérito de recuar. Mas não é verdade que Freire só não foi o escolhido porque “já havia um outro companheiro”. Já então foi um dos nomes cogitados. Ditas as coisas desse modo, fica parecendo que Calero havia se imposto ao governo, o que teria impedido a tempestiva escolha de Freire.

Reitero: Freire é um bom homem e um político hábil. Depois da posse, disse que vai conversar com seu antecessor e garantiu que Kátia Bogea, a presidente do Iphan, permanece no cargo. Melhor assim. Defendeu ainda a Lei Rouanet e coisa e tal… Nada que tenha fugido de um discurso correto de quem chega à pasta.

A cerimônia de posse de Freire coroa a má condução dada ao caso pelo governo federal até aqui. A blindagem de Geddel, num caso em que lhe bastaria admitir o erro, foi despropositada. Ficou parecendo que estavam tentando mexer com o condestável da República ou que o ministro estava sendo alvo de alguma conspiração. E não estava.

É Geddel que foi flagrado fazendo o que não devia, como resta notório a qualquer pessoa razoável. Por mais que Temer tenha se sentido, sei lá, “traído” pela entrevista concedida por Calero, a reação foi e continua a ser destrambelhada.

Um céu de brigadeiro não comporta nuvens onde interesses cinzentos como as de Geddel.

Começou errado. Terminou errado. E isso sempre tem consequências.

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