Editorial: Temer nega crise institucional; ela é política e econômica

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 20/07/2015 18h16

O vice-presidente da República Antonio Cruz/Agência Brasil O vice-presidente da República

O vice-presidente Michel Temer, que está em Nova York, contestou ministros e chefões petistas, que estão a espalhar por aí que o país vive uma crise institucional. Disse o vice-presidente:
“Crise institucional não existe. É uma crise política, mas não institucional. O Brasil vive uma tranquilidade institucional, apesar de todos esses embaraços. Esses incidentes ou acidentes que acontecem de vez em quando não devem abalar a crença no país”. Foi adiante: “Devemos superar essa breve crise política que estamos tendo no momento”.

Vamos ver. É claro que, ao negar a crise institucional, o vice está apenas retratando a realidade. Coincide, diga-se, com o que escrevi de manhã, certo? Relembro: crise institucional existe quando um dos Poderes já não pode exercer suas prerrogativas ou quando a força do argumento está submetida ao argumento da força. Nada disso está dado no país.

Temer, evidentemente, se distancia da realidade quando diz que logo se vai superar essa “breve crise”. Não vai acontecer porque não se trata de uma “breve crise”. O que se tem é a crise de um modo de fazer política. A crise é econômica: acabou a fase das generosidades do petismo, que era ditada por fatores externos, que já não estão presentes — o que não quer dizer que o mundo esteja mal das pernas; o Brasil é que está. A crise é política: o PT, confessou-o o deputado Miro Teixeira, então ministro em 2003, decidiu governar o país comprando o Congresso. Para comprar, é preciso ter o que vender. No caso, os bens do estado foram transformados em moeda de troca para compor a base política. A crise é de confiança: ninguém mais acredita que o grupo ainda hegemônico tenha resposta os desafios presentes e esteja enxergando com competência os do futuro.

Então não será uma crise rápida. E tão mais lentamente virá a solução quanto mais tempo Dilma permanecer no cargo. Hoje, infelizmente, dado o andamento da carruagem, aumentaram as chances de ela ficar até o fim. O Planalto não estava doido para pegar Eduardo Cunha por nada, não é? Havia um propósito.

Quem investe no berreiro de que o país está “em crise institucional” está querendo “soluções rápidas”, e, ora vejam, curiosamente, elas passam pela degola de alguns políticos — justamente aqueles que causam constrangimento ao petismo.

Seja por convicção, é o caso de Jarbas Vasconcelos, seja por oportunismo, como o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ), há gente por aí pregando abertamente que Cunha renuncie à Presidência da Câmara ou mesmo ao mandato. Depois dele, será a vez do presidente do Senado — ou Paulo Roberto Costa não o acusou de ter recebido propina?

A Operação Lava Jato ainda não acabou, sei disso. Vamos ver aonde chega. Mas notem: caso se passasse hoje a régua para ver em que ponto estamos, seria forçoso concluir que o maior escândalo da história do Brasil teve como personagens principais os atuais presidentes da Câmara e do Senado, alguns parlamentares de segunda linha, empreiteiros que corrompem e diretores da Petrobras que se deixaram corromper. É para o risco de ver triunfar essa mentira que alerto desde que começou a Operação Lava Jato.

Em 2012 e início de 2013, os petistas ainda viviam o auge de seus delírios de poder, embora a economia já tivesse aberto o bico fazia tempo, e os “companheiros” deixavam claro que o alvo da vez era o PMDB. Como davam o PSDB como liquidado, teria chegado a hora de quebrar as pernas do principal aliado. Já tratei desse assunto aqui. Gilberto Carvalho queria o PT enfrentando até os evangélicos em nome da conquista da hegemonia na chamada classe C.

O PT não conseguiu, politicamente, fraturar a espinha do PMDB. Ao contrário: começou a perder os embates para o seu principal aliado. Se a política não conseguiu, que entre em campo, então, a polícia. Não! Não estou dizendo que a Lava Jato foi uma operação orquestrada pela PF e pelo MP com o objetivo de pegar peemedebistas. Se eu achasse, diria.

Mas estou dizendo, sim, que, na gestão da operação, por alguma estranha razão — ou nem tão estranha —, poupam-se o governo federal, a atual mandatária e o ex-mandatário, e se passa adiante a impressão de que um estado ético, com um governo idem — verdadeiramente incorruptível —, foi vítima de homens maus, sejam eles empreiteiros ou políticos.

Não é à toa que seja justamente Eduardo Cunha o homem a ser associado a Frank Underwood, de House of Cards. Até parece que é Cunha quem está no poder há 13 anos, controlando mais da metade da gigantesca máquina estatal. Tenham paciência!

Temer tem razão, é claro! Não há crise institucional nenhuma no país. O que temos, isto sim, são homens e mulheres fracos no comando de instituições.

Ah, sim! Eu jamais perderei a chance de indagar: “ E Dilma, Janot?”.

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