Editorial – Temer pode voltar ao plano original e promover corte significativo de ministérios. Tomara!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 09/05/2016 16h10
ASCOM- VPR Michel Temer

Escrevi neste domingo um longo artigo lembrando quem conduziu Michel Temer à Presidência. Do ponto de vista legal, foi a Constituição. Do ponto de vista político, foram os milhões que saíram às ruas contra a roubalheira, os malfeitos e o desgoverno Dilma. E o fizeram, inicialmente, ao arrepio das oposições. Todos sabem que elas aderiram à tese do impeachment na reta final. Até achei o processo positivo. Tal fato conferiu ainda mais legitimidade à deposição da cleptocracia petista.

Por isso mesmo, afirmei naquele artigo, Michel Temer tem de pensar com cuidado ao indicar cada ministro. Mais: os brasileiros esperam que ele enxugue a máquina federal, reduza o número de ministérios e sinecuras, reconheça a excepcional gravidade do momento e busque colocar não celebridades, mas especialistas nas várias áreas da administração.

Se é certo que ele não pode nem deve ignorar o conjunto das forças políticas que tendem a apoiá-lo no Congresso, não e menos certo que não tem de se entregar ao que chamei de “varejão”. A notícia de que poderia não haver uma redução substancial de pastas para atender à demanda dos partidos caiu muito mal na sociedade, como era de esperar. Os brasileiros já demonstraram em circunstâncias outras que aceitam, sim, cotas de sacrifício. Desde que saibam para quê e que confiem no comando.

Reportagem da Folha desta segunda informa que Temer teria tido acesso a pesquisas qualitativas que mostram que mesmo forças favoráveis ao impeachment estão bastante insatisfeitas com a forma como os cargos vinham sendo negociados. O futuro presidente, assim, teria decidido voltar a seu plano original e estaria disposto a promover um corte substancial no número de ministérios.

Que assim seja! O vice-presidente tem clareza de seu papel nestes dois anos e meio. Há duas tarefas fundamentais: recuperar a credibilidade da contabilidade pública, destruída pelo PT, e proceder ao que chamo de “reinstitucionalização do país”, que passa por um momento notável de esculhambação.

Não se consegue nem uma coisa nem outra cedendo às pressões das legendas ávidas por espaço. Isso corresponderia a repetir os erros cometidos por Dilma, que conduziram o país ao abismo.

É certo que o processo de impeachment ainda não chegou ao fim. A presidente que logo será afastada será julgada pelo Senado. E é necessário obter 54 votos na Casa, o que não é pouca coisa. Mas a melhor maneira que Temer tem de conquistá-los — e, nesse caso, só vale a pena obtê-los pela melhor maneira — é imprimir seriedade e rigor máximo ao governo e convidar os partidos a aderir a esse núcleo, que corresponde aos anseios dos brasileiros.

Se houver partidos e lideranças irresponsáveis o bastante para ameaçar o vice com um “olhe que voto para absolver Dilma”, digo com clareza: é um risco que se tem de correr porque, então, não vale a pena governar com o apoio de quem negocia em tais termos.

Para adaptar frase famosa: sempre que, entre a desonra e o confronto, se escolhe a desonra, tem-se o confronto. Quem faz chantagem uma vez tenderá a fazer sempre. Nunca há benefícios o bastante para a fome dos gigantes da fisiologia. Que se cortem ministérios, sim!

Mais: que Temer escolha os seus ministros pensando, em primeiro lugar, na eficiência, sempre ancorado no sentimento das ruas — e foram elas que moveram o Congresso e vão conduzir o ainda vice à Presidência da República. A Constituição lhe dá a legalidade; os milhões que pediram impeachment lhe conferem a legitimidade.

O principal papel de Temer na Presidência é emprestar expertise e competência técnica a milhões de vozes que pedem uma nova governança. Ele tem de dar esse primeiro passo.

Dilma poderia ter sido presidente do Brasil, mas decidiu presidir para os petistas. Que Temer não cometa o erro de ser presidente dos peemedebistas.

Parece que ele está de volta ao plano original, que era o correto, e vai mesmo enxugar os ministérios. Ficaremos vigilantes. Sempre.

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