Editorial – Temer tem de surfar na injusta impopularidade e fazer o que deve!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 31/03/2017 17h37
São Paulo - O presidente Michel Temer participa da cerimônia de Posse do Conselho de Administração da Amcham (American Chamber of Commerce for Brazil) (Beto Barata/PR) Beto Barata/PR Michel Temer - abr

Ibope aponta índices inéditos de reprovação ao governo de Michel Temer. Bem, já observei aqui ontem, não? O povo é sempre soberano na democracia, mas isso não quer dizer que seja justo. Churchill ganhou a guerra, mas perdeu a eleição. Se, por qualquer razão, se devesse eleger, então, alguém para governar o mundo, ninguém estaria mais preparado do que ele. Mas o povo no Reino Unido disse: “O mundo, pode ser. Aqui, nem pensar”!

Segundo o Ibope, em levantamento encomendado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), a gestão é “ruim ou péssima” para 55% dos entrevistados. Compreensível. Fiquemos num dado: a recessão que o presidente não fabricou elevou o desemprego, entre dezembro e e fevereiro a 13,2%. Em número: os desempregados chegaram a 13,5 milhões. A retomada na economia, ainda no comecinho, demora para chegar aos empregos. Já sabemos: o desastre petista provocará uma década perdida para a renda do trabalho. Ela só voltará ao patamar de 2013 em 2023. E isso se a economia crescer a uma taxa razoável.

Sabemos que, de todos os cargos, o de presidente é o pior. A tradição presidencialista no país se confunde com a tradição paternalista. Desemprego? Culpa do presidente. Saúde ruim, não importa a esfera de gestão? Culpa do presidente. Inflação alta (está em queda)? Culpa do presidente. “Ah, não entendi! Você sugere que não é culpa de Temer, mas que é culpa da Dilma?” Não sugiro! Afirmo. Estamos pagando o preço dos desatinos petistas com as contas públicas, ora bolas!

Afirmei ontem no programa “Os Pingos nos Is” e reitero aqui: se a realidade brasileira fosse uma equação, seria a equação impossível, sem o termo de igualdade, sem resultante. Vale dizer: na teoria, esse besouro não voa. Um vice assume um país quebrado, em pandarecos, em meio a uma investigação que causa permanente instabilidade na política, é membro de um partido composto por um monte de investigados — alguns têm de estar no governo para garantir o equilíbrio.

Ainda assim, é preciso manter uma maioria no Congresso para começar a botar em ordem as contas públicas, o que implica fazer cortes de gastos, o que sempre constrange e irrita os senhores parlamentares, cuja reputação já está no lixo em razão da Lava Jato. E não podem contar nem com uma graninha extra para agradar as bases.

Mas calma! É preciso meter aí o debate sobre a reforma da Previdência e a reforma trabalhista, que, esqueçam!, não têm como ser populares. Ao contrário. Aliás, um dos bons caminhos para o presidente Michel Temer é surfar na… impopularidade! Sim, eu quis dizer justamente isso. Quem surfa na popularidade corre o risco de praticar populismo vigarista e levar o país à lona. Ou Dilma não quebrou o setor elétrico assim? Surfar na impopularidade é saber que, para ser amado pelo povo, nas atuais circunstâncias, só fazendo o que não pode e não tem de ser feito.

Temer fez em sete meses pelo país mais do que Dilma em cinco anos. Os benefícios de suas ações ainda virão. Mas não serão colhidos na Presidência.

Muita coisa se explica e se complica quando se consideram os dados parciais. A rejeição maior ao governo está no Nordeste: 67% dos entrevistados avaliam o governo como ruim ou péssimo. Em segundo lugar, está o Sudeste, com 52%. A região Sul é a menos refratária: esse índice fica em 48%.

Eu me arriscaria — é só uma conjectura; não tenho dados para expressar uma certeza — que a maior animosidade, a do Nordeste, se fosse traduzida em ideologia, teria uma marca de esquerda. O que quero dizer? A região que mais cresceu no ciclo de expansão insustentável da economia, durante o petismo, é também a que mais sofre com o desastre a que os companheiros conduziram o país. E, ora vejam, não há um petista de plantão para ter de se explicar, certo?

Vive-se, contam-me amigos nordestinos que se ocupam dessas coisas, nas camadas populares, uma certa “nostalgia” da era petista — mas só dos seus momentos virtuosos… A isso se soma a forte campanha das esquerdas, com seus aparelhos muito operantes, segundo a qual o governo que aí está quer cortar benefícios do povo.

No Sudeste, ainda que marcado pelo desemprego e outros dissabores, diria que a reserva ao governo se dá pela direita caso se fossem traduzir os signos. Há o inconformismo, que está em todo canto, com a corrupção. E, não tem jeito, entende-se, de algum modo, que isso está ligado a Brasília. O esforço para ligar o nome do presidente ao esquema criminoso é permanente.

Os movimentos de Facebook — que de rua não são! — pregam uma permanente hostilidade à política e aos políticos. E é claro que o presidente Michel Temer não escapa. Aliás, ninguém escapa. Fiquem certos! A avaliação dos governadores também vai despencar.

E Doria?

Ainda voltarei com mais vagar ao tema, mas sei que o leitor, esperto como é, se perguntou a esta altura: “Mas e Doria? Como explicar? Ele certamente vai ter a sua gestão aprovada pela maioria”. Não duvido! O prefeito, nestes três meses, mostrou operosidade, deu respostas emergenciais a alguns problemas com soluções boas, porém heterodoxas do ponto de vista gestão pública — como as doações, por exemplo —; respondeu a contento a uma ânsia difusa, mas muito presente, de ordem na cidade. Fernando Haddad era, a meu ver, um incentivador da desordem. Na saúde, aí sim um marco importante, conseguiu mobilizar o aporte de parte da rede privada em favor dos pobres, que dependem da saúde pública. Na área de creches, aponta para feito relevantes, também com o aporte das empresas. Vamos ver.

Assim, tem-se um gestor que pode oferecer benefícios. Mas que não tem a responsabilidade, porque não cabe ao prefeito, de responder ao desemprego, ao déficit brutal, à inflação, aos juros… E, bem, melhor de tudo: não aparece nem como nota de rodapé na Lava Jato.

Assim, o prefeito demonstra, em termos maquiavélicos, a “virtù”, qualidades pessoais que o fazem distinguível, mas também o favorece no momento a Fortuna, o conjunto das circunstâncias que o levaram à Prefeitura e a ser considerado um presidenciável.

Volto a Temer

Temer tem as qualidades necessárias para este tempo. Não creio que outro pudesse fazer melhor do que ele essa travessia. Mas ele sabe que a tal Fortuna está contra ele. A maré não é e não tem como lhe ser favorável.

Segundo o levantamento, 79% não confiam no presidente. Eu nunca sei o que essa “confiança” quer dizer. Você “confia” em alguém quando acha que a pessoa vai agir com lealdade, com fidelidade. O povo sabe que o presidente não tem milagres escondidos na manga do paletó.

Sim, é alto, quase chegando à metade, o índice dos que consideram seu governo pior do que o de Dilma: 41% — para 38%, eles se equivalem. E 18% apenas o consideram melhor.

Quando se confrontam números com a realidade, é claro que esse é o dado mais absurdo da pesquisa. O país de Dilma caminhava para o abismo. Ou melhor: já tinha caído. Numa cena improvável de desenho animado, Temer interrompeu a trajetória que levava ao desastre, e o balão voltou a voar, ainda que voe meio de lado.

Mas o que quer dizer “pior” para quem responde uma pesquisa? Ou a sua vida não melhorou nesses sete meses ou pode, até, ter piorado.

Concluo

Que o presidente não desanime e surfe na impopularidade, fazendo o que tem de ser feito.

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