Editorial – Vexame! Professores das escolas mais caras de SP param no dia 28

  • Por Reinaldo Azevedo/ Jovem Pan
  • 26/04/2017 14h28
Marcos Santos/USP Imagens Marcos Santos/USP Imagens sala de aula

É o fim da picada! Algumas das escolas particulares mais caras de São Paulo — e é possível que algo semelhante ocorra em outras cidades — anunciaram a suspensão das aulas no dia 28. Não! Elas não aderiram à greve convocada pelo PT e pelas centrais sindicais, mas boa parte dos seus professores sim. Sem saída, as respectivas direções tiveram de enviar um comunicado aos pais.

Estão na lista, entre outros, Santa Cruz, Lourenço Castanho, Palmares, Equipe, São Luís, Stance Dual, Escola Viva, Santi, Rainha da Paz… Entidades que representam as escolas particulares emitiram notas expressando a sua discordância e criticando a adesão dos professores. Mas e daí?

Bem, é um acinte e um esculacho. Já é estupefaciente que professores da rede pública decidam não trabalhar nesse dia. Os da rede privada, então, nem se fale! Afinal, as boas condições em que trabalham — bem superiores às oferecidas pela escola pública — custam uma fortuna, que não é pequena, aos pais dos alunos, que mantêm, por sua vez, uma relação também contratual com os estabelecimentos de ensino: em troca da mensalidade, oferecem um serviço, para o qual os contratados são os professores. Em tempo: na proposta final, a categoria já vai se aposentar antes dos demais trabalhadores: aos 60 anos.

Um problema
É claro que as escolas privadas estão com um problema. E tem nome “escola com partido”. É conhecido o proselitismo de esquerda, geralmente virulento, praticado também nos estabelecimentos privados. As primeiras vítimas de um bom número de professores, especialmente os da chamada área de humanidades, são os pais dos alunos aos quais falam.

Fui, creio, a primeira página hospedada na grande imprensa a dar espaço e visibilidade ao meritório “Escola Sem Partido”, um movimento que combate a ideologização do ensino — geralmente à esquerda. Oponho-me, e já deixei isto claro, a que se votem leis para tentar regular ou patrulhar a atuação dos professores. Tampouco endosso que este ou aquele, em nome da isenção, façam “blitze” nas escolas. Obviamente, o caminho não esse.

Mas isso não significa que o Escola Sem Partido e os país devam se descuidar do que está sendo dito em sala de aula. A liberdade de pensamento de um professor não pode se confundir com molestamento ideológico. Quem decide o que é uma coisa e o que é outra? A linha é, sem dúvida, tênue. É por isso que as respectivas coordenações de ensino e pedagógicas têm de ficar atentas. E isso inclui o material didático adotado.

Chance zero
Ora, as reformas trabalhista e da Previdência dão aos senhores professores uma chance e tanto de dar uma aula soberba. Quem criou a CLT e o regime previdenciário com as atuais características? Qual era o contexto histórico? O que acontecia no Brasil e no mundo? Os professores de matemática têm uma oportunidade de ouro de demonstrar, com números que são públicos, a insolvência do sistema — ou, sei lá, quem sabe exista algum que consiga provar o contrário…

Os professores de sociologia, e os há, junto com os de história recorreriam, deixem-me ver, a “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, e aos “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro, para evidenciar a origem histórica da brutal diferença entre a aposentadoria de um trabalhador do setor privado e a de um servidor.

Mais do que nunca, a hora é de aula, não é mesmo? E tudo feito com a mais absoluta isenção. Um professor é um sindicalizado na relação com o seu patrão, não com os seus alunos.

Mas a chance de isso acontecer é zero. Afinal, os “mestres” são os primeiros a repudiar, na prática, a diversidade de opiniões em nome da qual reivindicam a liberdade absoluta em sala de aula.

Frouxidão
Sim, as escolas estão com um pepino e tanto nas mãos. A greve é um direito constitucional. Mas o direito também protege os estabelecimentos de ensino e os alunos.

Numa escola que fosse minha, não sobraria um só grevista. Paulatinamente, poria todos na rua. Eles têm o direito de ter uma opinião política e de manifestá-la em praça pública. Mas não têm o direito de molestar os estudantes e seus pais.

A verdade é que as escolas privadas sempre foram muito frouxas diante do proselitismo desbragado em sala de aula. Eis aí uma das consequências.

Escola não pode ter partido.

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